por Célio Heitor Guimarães

Tragédias como esta ocorrida na madrugada do domingo em Santa Maria, RG, somente acabarão quando se começar a responsabilizar o poder público. É claro que os donos da casa noturna entupida de jovens, sem atenção às devidas normas de segurança para funcionamento; o autor da insanidade de disparar um sinalizador dentro do estabelecimento; e os imbecís que barraram a saída do público, preocupados com a quitação da despesa, são culpados. E muito. Mas e as autoridades públicas – governo do Estado, prefeitura  municipal, força policial, incluindo o próprio Corpo de Bombeiros –, às quais cabe proteger os cidadãos e garantir-lhes segurança, inclusive nos momentos de lazer? Eis aí os verdadeiros criminosos, lépidos, fagueiros e impunes.

Após o desastre, não adianta dar atendimento às vítimas feridas, oferecer ajuda e conforto às famílias dos falecidos, manifestar solidariedade aos sobreviventes e a toda a comunidade em estado de choque e prometer rigorosa investigação sobre o ocorrido. Tudo isso não passa do óbvio burocrático, providências fadadas ao esquecimento algumas horas depois.

Patéticas, cínicas e hipócritas são também as medidas de repente determinadas por autoridades públicas federais, estaduais e municipais no sentido de fazer uma revisão das condições de segurança dos demais estabelecimentos do gênero no país e um levantamento da legislação existente sobre a matéria, quando todos sabem que mais de 90% de tais templos de diversão não têm condições mínimas de funcionamento e a legislação não é cumprida pelos próprios agentes públicos.

As grandes culpadas de tais catástrofes, que volta e meia chocam o país, são as autoridades constituídas, aquela gente a quem nós, os cidadãos de boa-fé, demos poder para que nos protegessem. E estamos pagando a ela para isso.

Se são incompetentes ou mal-intencionados, não podem valer-se da tragédia, que, por dever de ofício, deveriam prever e evitar, para posar, compungidos, na fotografia e diante das câmeras de TV como defensores do povo. Na verdade, são criminosos, que já deviam estar recolhidos ao xadrez. Aí sim, talvez a população estivesse um pouco mais amparada.