O Ministério Público do Paraná informa:
Em três ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) propostas ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta semana, a Procuradoria-Geral da República (PGR) questiona dispositivos do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) que tratam das áreas de preservação permanente, da redução da reserva legal e de mecanismos que a PGR avalia como anistia a desmatadores.
A posição do Ministério Público Federal, manifestada nestas ações, reflete o posicionamento do Ministério Público brasileiro. Segundo o coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente do Ministério Público do Paraná, Saint-Clair Honorato Santos, a manifestação contrária àqueles dispositivos já havia sido deliberada no final de 2012, na reunião do Conselho Nacional dos Centros de Apoio de Meio Ambiente e Urbanismo do Ministério Público (Concauma), realizada no dia 12 de novembro, em Brasília. No encontro, foram discutidas estratégias conjuntas de atuação nacional do Ministério Público contra o que foi considerado “retrocesso” do novo Código Florestal.
Nas ADIs, a PGR solicita, como medida cautelar, a suspensão dos dispositivos questionados até o julgamento final das ações, a aplicação do rito abreviado no julgamento diante da relevância da matéria, além da realização de diligências instrutórias.
“Em todos os casos em que houver discussão sobre a aplicabilidade do novo Código Florestal, o Ministério Público do Paraná também se posicionará com essas mesmas diretrizes”, afirma Saint-Clair.
Veja abaixo matéria detalhada sobre o tema, publicada pelo site do Ministério Público Federal:
PGR questiona novo Código Florestal
21/01/2013
Procuradoria Geral da República encaminhou ao STF três ADIs que consideram inconstitucionais diversos dispositivos da nova lei
A Procuradoria Geral da República (PGR) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira, 21 de janeiro, três ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) que questionam dispositivos da Lei 12.651/2012, o novo Código Florestal. As ações consideram inconstitucional a forma como o novo código trata as áreas de preservação permanentes, a redução da reserva legal, além da anistia para a degradação ambiental (veja quadro abaixo).
Nas ADIs, a PGR solicita, como medida cautelar, a suspensão dos dispositivos questionados até o julgamento final das ações, a aplicação do rito abreviado no julgamento diante da relevância da matéria, além da realização de diligências instrutórias.
Para a procuradora-geral da República em exercício, Sandra Cureau, responsável pela elaboração das ações, há clara inconstitucionalidade e retrocesso nos dispositivos questionados ao reduzir e extinguir áreas antes consideradas protegidas por legislações anteriores. “A criação de espaços territoriais especialmente protegidos decorre do dever de preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais, de forma que essa deve ser uma das finalidades da instituição desses espaços”, descreve Sandra Cureau, em uma das ações.
O novo Código Florestal fragiliza, por exemplo, as áreas de preservação permanente (ADI 4901), criadas para preservar a diversidade e integridade do meio ambiente brasileiro. Segundo estudos técnicos, de uma forma geral, as normas questionadas estabelecem um padrão de proteção inferior ao existente anteriormente.
Além disso, a PGR também questiona a anistia (ADI 4902)daqueles que degradaram áreas preservadas até 22 de julho de 2008. O novo código exclui o dever de pagar multas e impede a aplicação de eventuais sanções penais. “Se a própria Constituição estatui de forma explícita a responsabilização penal e administrativa, além da obrigação de reparar danos, não se pode admitir que o legislador infraconstitucional exclua tal princípio, sob pena de grave ofensa à Lei Maior”, esclareceu Sandra Cureau.
Há ainda o questionamento da redução da área de reserva legal (ADI4903), também possibilitada pela nova lei. O novo Código Florestal autoriza, por exemplo, a computar as áreas de preservação permanente como reserva legal. No entanto, essas áreas têm funções ecossistêmicas diferentes, mas, juntas, ajudam a conferir sustentabilidade às propriedades rurais.
Área de Proteção Permanente (APP) x Reserva Legal:
– Área de Proteção Permanente: protegem áreas mais frágeis ou estratégicas, como aquelas com maior risco de erosão de solo ou que servem para recarga de aquífero. Não podem ter manejo.
– Reserva Legal: são áreas complementares que devem coexistir nas paisagens para assegurar sua sustentabilidade biológica e ecológica em longo prazo. Podem ser manejadas pelos proprietários para extrair madeiras, essências, flores, frutos e mel, desde que as atividades não comprometam a sobrevivência das espécies nativas.
Dispositivos inconstitucionais:
– Artigo 3º, XIX
não garante o nível máximo de proteção ambiental para faixas marginais de leitos de rio;
– Artigo 3º, parágrafo único
equipara tratamento dado à agricultura familiar e pequenas propriedades àquele dirigido às propriedades com até quatro módulos fiscais;
– Artigo 3º, VIII e IX; artigo 4º parágrafos 6º e 8º:
permite intervenção ou retirada de vegetação nativa em área de preservação permanente;
não prevê que intervenção em área de preservação permanente por interesse social ou utilidade pública seja condicionada à inexistência de alternativa técnica;
permite intervenção em área de preservação permanente para instalação de aterros sanitários;
permite uso de áreas de preservação permanente às margens de rios e no entorno de lagos e lagoas naturais para implantação de atividades de aquicultura;
– Artigo 8º, parágrafo 2º
permite intervenção em mangues e restingas para implementação de projetos habitacionais;
– Artigo 4º, parágrafo 5º
permite o uso agrícola de várzeas;
– Artigo 4º, IV
exclusão da proteção das nascentes e dos olhos d´água intermitentes;
– Artigo 4º, parágrafo 1º e 4º
extingue as áreas de preservação permanente no entorno de reservatórios artificiais que não decorram de barramento;
extingue as áres de preservação permanente no entorno de reservatórios naturais ou artificiais com superfície de até 1 hectare;
– Artigo 4º, III
equipara áreas de preservação permanente a reservatórios artificiais localizados em áreas urganas ou rurais e não estipula metragem mínima a ser observada;
– Artigo 5º
reduz largura mínima das áreas de preservação permanente no entorno de reservatórios d’água artificiais;
– Artigo 7º, parágrafo 3º
permissão de novos desmatamentos sem que haja recuperação dos já realizados irregularmente;
– Artigo 11
permite manejo florestal sustentável e exercício de atividades agrossilvipastoris em áreas com inclinação entre 25º e 45º;
– Artigo 12, parágrafos 4º, 5º, 6º, 7º e 8º
redução da reserva legal em virtude da existência de terras indígenas e unidades de conservação no território municipal;
dispensa de constituição de reserva legal por empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto, bem como por detentores de concessão, permissão ou autorização para explorar energia elétrica e nas áreas adquiridas ou desapropriadas para implantação e ampliação da capacidade de ferrovias e rodovias
– Artigo 13, parágrafo 1º
permissão de instituição de servidão ambiental;
– Artigo 15
autorização para cômputo de áreas de preservação permanente no percentual de reserva legal;
– Artigo 17, parágrafo 7º
permite a continuidade de exploração econômica de atividade instalada ilicitamente e exime, injustificadamente, o degradador do dever de reparação do dano ambiental;
– Artigo 28
necessidade de conferir interpretação conforme Constituição;
– Artigo 48, parágrafo 2º e artigo 66, parágrafos 5º e 6º, II, III e IV
compensação da reserva legal sem que haja identidade ecológica entre as áreas, e da compensação por arrendamento ou pela doação de área localizada no interior de unidade de conservação a órgão do poder público;
– Artigo 59, parágrafos 4º e 5º
estabelecimento de imunidade à fiscalização e anistia de multas;
– Artigos 61-A, 61-B, 61-C e 63
permitem a consolidação de danos ambientais decorrentes de infrações à legislação de proteção às áreas de preservação permanentes, praticados até 22 de julho de 2008;
– Artigo 66, parágrafo 3º
permissão do plantio de espécies exóticas para recomposição da reserva legal;
– Artigo 67
concede uma completa desoneração do dever de restaurar as áreas de reserva legal, premiando injustificadamente aqueles que realizaram desmatamentos ilegais;
– Artigo 68
prevê a consolidação das áreas que foram desmatadas antes das modificações dos percentuais de reserva legal;
– Artigo 78
prevê que, mesmo após a injustificada moratória de cinco anos, bastará estar inscrito no Cadastro Ambiental Rural para ter livre acesso ao crédito agrícola;
O Código Florestal contém muitos avanços e, pela demora para a sua consecução, não deveria conter erros ou equívocos. Mas como tudo em Pindorama se faz nas coxas e a meia boca, ficou muito parecido com a nossa Constituição Cidadã, cheia de direitos e carente de obrigações. ACarlos
O abismo chama o abismo.
É manifesto que a flora brasileira está sendo roída do mapa nacional como ilustrada no logo da entidade SOS Mata Atlântica.
O Código Florestal tem sido a mais vilipendiada das leis.
Nos últimos 50 anos quase que exclusivamente se extraiu e quase nada se recompôs ou recuperou.
A floresta precede os homens e o deserto os segue, escreveu o francês Chateaubriand.
No Brasil, meio ambiente é matéria ancilar, portanto, uma iniciativa dessa do Parquet federal é criticada por todos os lados.
Mas pelo menos existe uma resistência, pois do lado da sociedade organizada ninguém se apresenta.
Eis o maior drama nacional – uma sociedade tomada pela anomia.
As pessoas que moram em cidades atacam o Novo Código Florestal como um inimigo, sem ver sua importância para o produtor rural e sem perceber que a sua segurança alimentar e econômica depende das CORREÇÕES que ele trouxe.
Facilmente adotam posições radicais sem nem saber do que o tema realmente trata.
Não há nada no código que facilite o “roimento” das nossas florestas, pois o código antigo já permitia o desmate em todo o país. Não temos autorização formal para desmates no Paraná, por exemplo, não por causa do antigo código, mas por causa da Lei da Mata Atlântica.
O Código é bom. Se fosse ruim não haveria um consenso político tão amplo.