10:18A versão dos militares

Do jornal O Estado de São Paulo, em reportagem de José Maria Mayrink:

Militares põem em livro versão sobre repressão

Vendido em apenas quatro li­vrarias, mas lançado em clu­bes e círculos militares de 14 cidades, Orvil – Tentativas de Tomada do Poder, versão de oficiais do Centro de Informa­ções do Exército (CIE) sobre a repressão, volta às prateleiras até o fim do mês com uma tira­gem de mais dois mil exempla­res. As três primeiras remes­sas, de mil exemplares cada uma, esgotaram-se em três me­ses. O livro é assinado pelo te­nente-coronel reformado Lício Augusto Maciel e pelo te­nente reformado José Conegundes Nascimento, que tra­balharam sob a coordenação do general Agnaldo Del Nero Augusto, morto em 2009. Ou­tros oficiais que participaram do projeto não quiseram que seus nomes aparecessem.

Disponível pela internet no si­te da mulher do coronel reforma­do Carlos Alberto Ustra, que che­fiou o DOI- Codi (órgão de infor­mação e repressão do Exército, em São Paulo) e assina a apresen­tação, o texto original do Projeto Orvil ficou pronto em 1987, mas o então ministro do Exército, gene­ral Leônidas Pires Gonçalves, que havia autorizado o levanta­mento, não permitiu que fosse pu­blicado. A iniciativa do CIE pre­tendia ser uma resposta ao livro Brasil: Nunca Mais, de denúncias de prisões, torturas e assassina­tos durante o regime militar, es­crito poruma equipe ligada ao car­deal d. Paulo Evaristo Arns.

A publicação de Orvil (Editora Schoba, R$ 72,90), segundo o ge­neral reformado Geraldo Luiz Nery da Silva, autor do prefácio, é uma reação à criação da Comis­são Nacional da Verdade. “Rele­va enfatizar neste prólogo”, escre­ve o general, ” que os revanchistas da esquerda que estão no po­der – não satisfeitos com as gra­ves restrições de recursos impos­tas às Forças Armadas e com o tratamento discriminatório da­dos aos militares sob todos os aspectos, especialmente o financei­ro – tiveram a petulância de criar, com o conluio de um inexpressi­vo Congresso, o que ousaram cha­mar de comissão da verdade”.

Volume de 924 páginas, Orvil – livro, escrito ao contrário – desta­ca o golpe – ou contrarrevolução de 1964, como preferem seus auto­res – que derrubou o presidente João Goulart e a ação de organiza­ções clandestinas que no período de 1966 a 1975 combateram o regi­me militar pela luta armada. A primeira parte trata da Intentona Co­munista de 1935 e a quarta parte analisa a opção da esquerda por uma nova estratégia- a”doutrinação” pelos meios de comunica­ção, instituições de ensino, sindi­catos e movimentos populares so­bre a necessidade da revolução

Dilma. A presidente Dilma Rousseff é citada três vezes e o ex-presi­dente Femando Henrique Cardo­so uma vez, no índice onomástico de mais de 800 nomes de militan­tes e teóricos do marxismo que se envolveram direta ou indireta­mente na luta armada. Dilma Vana Rousseff Linhares aparece co­mo membro do setor de logística do Colina (Comando de Liberta­ção Nacional), depois na VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), sempre em notas de rodapé. O livro informa que a ex-presidente foi presa.

“No Centro Brasileiro de Pes­quisas foram contatados Fernan­do Henrique Cardoso, José Artur Gianotti e outros elementos, em busca de inspiração”, registram os autores, ao relatar a ação de Piragibe Castro Alves que viajou de Paris para São Paulo em busca de apoio para o Movimento Popu­lar de Libertação.

O livro descreve a agitação estu­dantil de 1968, citando o nome de José Dirceu de Oliveira e Silva, em rodapé, ao falar do congresso da União Nacional dos Estudantes em Ibiúna (SP). O deputado José Genoino é mencionado no episó­dio da guerrilha do Araguaia.

Outros episódios destacados são a deserção, luta e morte do ca-pitão Carlos Lamarca, a ação de Carlos Marighella e o caso Vladimir Herzog, sempre na versão ofi­cial divulgada na época. Lamarca teria morrido num tiroteio no in­terior da Bahia, Marighella teria levado um tiro ao resistir a agen­tes de segurança na Alameda Ca­sa Branca, em São Paulo, e Herzog se teria suicidado numa cela do DOI-Codi.

Os autores atribuem à censu­ra dos meios de comunicação “a falta de conhecimento e de con­vicção que predisporiam a po­pulação a aceitar como verdade os fatos que lhe fossem oferecidos de forma racional ou emo­cional”. Daí, segundo os mílitares, as repercuísões negativas do Ato Institucional n.°5 (AI-5) e a apresentação do regime como “brutal ditadura militar latino-americana”.

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3 ideias sobre “A versão dos militares

  1. Raphael Junqueira

    Concordo com o Zangado!
    Pelo menos temos alguma fonte de consulta elaborada pelo outro lado…
    Cabe a nós comparar as histórias e ver se quem estava com a verdade!

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