8:58O Brasil vai bem, obrigado

por Elio Gaspari

Deve-se ao repórter Felipe Marques a informação de que os bancos brasileiros estão às voltas com um novo desafio: organizar um filtro para suas análises de crédito, capaz de absorver 42,5 milhões de novos clientes que entraram no circuito financeiro entre 2005 e 2012. Há muito tempo não aparecia notícia tão boa. Em sete anos, a clientela da rede bancária cresceu uma Argentina.

Pindorama vive uma época de perplexidade vocabular. Primeiro, apareceu uma tal de “nova classe média”, depois, uma milagrosa “classe C” que frequenta lugares onde não ia (aeroportos, por exemplo). Outro dia Jânio de Freitas reclamou, com toda razão, que as operadoras de planos de saúde chamam sua clientela de “beneficiários”. Ora, beneficiárias são as empresas que mereceram a confiança dos fregueses. Essa nova classe é o velho e bom trabalhador brasileiro. Milhões de pessoas que viviam nas fímbrias da sociedade, trabalhando sem carteira assinada e raramente tinham conta em banco. Iam ao aeroporto ao domingos para apreciar pousos e decolagens.

Essa “gente diferenciada” veio para ficar. Algum pesquisador poderá confirmar que o aparecimento de 42,5 milhões de novos clientes num sistema bancário é um fenômeno mundialmente inédito. O número foi levantado há poucos meses pelo Banco Central. Ele decorre da ampliação do mercado de trabalho formal, batendo a marca dos 50 milhões de brasileiros.

Esse trabalhador tem conta em banco, direitos trabalhistas, crédito nas lojas que vendem móveis e fornos de micro-ondas. É um novo cidadão. Está num mercado consumidor onde a taxa de juros média mensal (5,4%) caiu ao menor nível desde 1995, quando passou a fazer sentido acompanhar esse índice.

Nada disso teria acontecido sem Itamar Franco, que botou Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda; sem o Plano Real e os oito anos de FHC no Planalto; sem Lula, que abriu o crédito para o andar de baixo; ou sem Dilma, que forçou a baixa dos juros. Melhor assim.

O que está sobre a mesa da banca é a necessidade de se adaptar a um país que mudou. Trata-se de aproveitar a oportunidade, em vez de reclamar do fantasma da inadimplência. Ele pressupõe que a demanda de crédito de uma parte desses 42,5 milhões de novos correntistas seja uma fonte de calotes. Falta provar. A indimplência dos brasileiros oscila dentro de uma faixa que vai de 5% (2001) a 8,5% (2009). Hoje está em 7,8%. É mais alta no mercado de venda de carros (8%) e saudavelmente baixa (2%) no crédito imobiliário.

A banca deveria dar a todos os seus diretores dois retratos. O de Amadeo Giannini e o de Carlo Ponzi. Um tinha seu pequeno banco em San Francisco quando, em 1906, um terremoto destruiu a cidade. Ele tirou o dinheiro do cofre e passou a emprestá-lo na rua, contra um aperto de mão. Meses depois, seus depósitos duplicaram. Mais tarde, ergueu o Bank of America. Ponzi tomava dinheiro prometendo um retorno de 50% em 45 dias. Deu um golpe de US$ 200 milhões (em dinheiro de hoje) e acabou na cadeia. Olhando para um, farão seu serviço direito. No outro, verão a ruína. Libertado em 1939, Ponzi veio para a terra onde canta o sabiá. Morava no Rio (Rua Engenho Novo 118, prédio que não existe mais) e morreu na Santa Casa, aposentado pelo Instituto dos Comerciários.

*Publicado nos jornais Folha de São Paulo e O Globo

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2 ideias sobre “O Brasil vai bem, obrigado

  1. Emerson Paranhos

    Não tenho mais dúvida o Sr Gaspari é um desinformado, ou não sabe interpretar e comparar números, faz parte daquilo que Marx chamava de “inteligencia”. Explico: se compararmos o percentual da população que viaja de avião e ou tem conta no banco a de hoje perde para a da década de 1990. Isto é comparando a´população de 180 milhões a parcela que anda de avião e tem conta bancária proporcionalmente é menor que aquela da população de 100 milhões.
    Tá começando a operação resgate de imagem do Lulla e Dilma em vista das eleições. Nisto esses formadores de opinião são mestres e fazem a cabeça de qualquer um, parecem aqueles que dão golpe por telefone, enganam e mentem como ninguém.
    Olha o detalhe: Uma das classe citadas pelo articulista (classe C) ganha ente R$209,00 e R$1.100,00 ( A grande massa ganha 640 (salario mínimo). Como quem ganha estes valores vai viajar de avião, mesmo as passagens sendo financiadas ou se endividando como sugere o jornalista??????Somente o PT e Pc et caterva acreditam nisto???? me engana que eu gosto.
    Ah, e tente dar uma opinião contrária a esta massificação – a patrulha te destrói.

  2. antonio carlos

    Infelizmente o projeto de poder do pestismo vai corromper o crescimento e a estabilidade econômica. Vale tudo pelo poder, até enganar a tigrada, renomeando-a para Classe C. É inegável que a miséria diminuiu, a pobreza também, mas a que custo? As políticas adotadas pelo pestismo estão fechando o País ao investimento estrangeiro. E como um País sem poupança interna vai financiar o próprio progresso? Ja´vi este filme antes, ele tem um final bastante triste. É pena que o Itamar já morreu, e o FHC não é mais presidente. ACarlos

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