…. Palmeira dos Índios não fugia ao figurino das cidades pequenas do Agreste, onde o poder dos grandes senhores se sobrepunha ao interesse coletivo e às pequenas normas. Graciliano, bulindo em casa de marimbondos, não escaparia das ferroadas. Até cartas anônimas com ameaças foram colocadas embaixo da porta da loja Sincera. Mas ele não alterou seus planos, demonstrando aguda consciência das pressões à sua volta:
Para que semelhante anomalia desaparecesse, lutei com tenacidade e encontrei obstáculos dentro da prefeitura e fora dela – dentro, uma resistência mole, suave, de algodão em rama; fora, uma campanha sorna, oblíqua, carregada de bílis. Pensavam uns que tudo ia bem nas mãos de Nosso Senhor, que administra melhor do que todos nós; outros me davam três meses para levar um tiro. Dos funcionários que encontrei em janeiro do ano passado restam poucos; saíram os que faziam política e os que não faziam coisa alguma. Os atuais não se metem onde não são necessários, cumprem suas obrigações e, sobretudo, não se enganam em contas. Devo muito a eles. Não sei se a administração é boa ou ruim. Talvez pudesse ser pior.
Do livro “O Velho Graça – Uma Biografia de Graciliano Ramos“, de Dênis de Moraes