9:21Uma luz nas trevas do crack

Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, anunciou ontem que dentro de dez dias o governo vai agir para internar compulsoriamente os usuários de crack, ou seja, mesmo contra a vontade dos dependentes. É um bom começo, apesar de tardio e em meio à devastação que a droga está fazendo numa multidão em todo o Brasil. Resta saber se haverá tratamento adequado e, mais que isso, como será o acompanhamento depois do internamento pois, como se sabe, não há cura para essa doença, mas controle – e é fundamental que o dependente tenha algum vínculo para não esquecer o problema, como frequentar grupos de mútua ajuda (Narcóticos Anônimos) e ter suporte terapêutico.

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9 ideias sobre “Uma luz nas trevas do crack

  1. Álvaro Dino

    Ráááá, a sociedade do controle! Sempre tentando tapar o sol com a peneira!

    Parafraseando Neil Postman:
    “Contrariamente à crença comum, mesmo entre as pessoas cultas, Huxley e Orwell não profetizaram a mesma coisa. Orwell adverte-nos de que seremos superados por uma opressão imposta de fora. Enquanto na visão de Huxley, não se precisará de nenhum Big Brother para privar as pessoas de sua autonomia, maturidade e história, (pois) na sua visão, as pessoas irão amar a sua opressão e adorar as tecnologias que anulam (undo) a sua capacidade de pensar. Enquanto Orwell temia aqueles que iriam proibir os livros, Huxley temia o fato de que não haveria razão para proibir um livro, pois não existiria quem quisesse ler um (livro). Orwell temia aqueles que nos privariam de informação. Huxley temia aqueles que nos dariam tanta (informação) que seríamos reduzidos à passividade e ao egoismo. Orwell temia que a verdade fosse escondida (concealed) de nós. Huxley temia que a verdade fosse afogada (drowned) em um mar de irrelevância. Orwell temia que nos transformássemos numa cultura submissa. Huxley temia que nos tornássemos uma cultura banal, em que estivéssemos apenas preocupados com diversão, prazer e trivialidades. (Prossegue) ‘Como Huxley acentuou na edição revisitada de seu Admirável Mundo Novo, os defensores dos direitos civis e os intelectuais que estão sempre em alerta para opor-se à tirania erraram ao não tomar em conta o quase infinito apetite humano para a diversão’. Huxley acrescentou que as pessoas, no 1984 de Orwell, eram controladas pela imposição do sofrimento. No Admirável Mundo Novo, elas são controladas pela administração (inflicting) do prazer. Em resumo, Orwell temia que aquilo que odiamos se transformasse na causa de nossa ruína. Huxley temia que aquilo que nós amamos é que nos levaria à destruição.”

    Neil Postman. Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business. Versão Kindle, location 237-245.

  2. Parreiras Rodrigues

    Os governos estaduais fazem o que podem, pois tem que lidar com a droga já dentro dos seus territórios.

    Ao federal, cumpriria o policiamento na fronteira. O que existe, só inglês vê.

    Observa-se que em cada notícia de apreensão, a observação de que se deveu a notícia anônima, isto é, por parte dalguém que foi passado prá trás, por conta de briga de espaço, etéque…

    O trabalho da polícia não aparece por falta de contingente, de equipamento e …

  3. Mário Lunardi

    Caro Zé Beto
    respeito sua posição mas a questão que fica é: Como haverá o tal vínculo se o começo é feito de forma compulsória? Este tipo de internamento só pode se constituir em exceção nunca em regra.

  4. zebeto

    simples, meu caro: no começo o doente não tem como decidir. o grande problema da dependência, seja de que droga for, é a falta de conhecimento sobre o assunto. internamento não quer dizer que o dependente vai controlar a doença, ou seja, vai entrar por uma porta e sair pela outra como se aquilo fosse uma tenda de milagres, mas é uma das principais tentativas. por isso afirmo que é preferível amarrar um drogado e levá-lo para uma clínica do que ficar discutindo o sexo anjos enquanto ele morre. obrigado. abraço. saúde.

  5. Mário Lunardi

    Continuo respeitando, e muito , sua posição e sua história. Mas não vejo a questão da mesma forma. É claro que há casos limites nos quais esta ação se aplica. É mesmo impossível ficar vendo alguém morrer e ficar discutindo filosofia. Em outros, e são muitos casos também, a internação compulsória decreta a impossibilidade do tratamento. Saúde para você também Zé.

  6. fano

    gente o Parreira Diniz roubou minhas palavras, se existe crack com certeza não foi Papai Noel que trouxe, e as autoridades de Brasilia com o dinheiro do tratamento poderiam fazer a prevenção agindo enèrgicamente com nossos “irmãos” vizinhos que nos introduzem a droga para comercializar no nosso território……….alguns anos atraz ninguem falava em crack……….e hoje classe média alta está se envolvendo. Esses que aparecem na TV são uma minoria de “desgraçados” Tem que bloquear as fronteiras e punir os paises vizinhos que são complacentes!!!!!!!!!!

  7. zebeto

    você já viu dependente aceitar internamento? qual alcoólatra que está bebendo diz que é alcoólatra? sua generalização para o caso de internação compulsória decretando a impossibilidade de tratamento condiz apenas com a realidade dos primeiros dias de revolta para quem acha que não deveria ter sido levado a uma clínica. repito: internamento, voluntário ou não, não garante recuperação ou controle, mas é um caminho que tem possibilidade de dar certo. quando se fala em casos extremos, isso quer dizer que a pessoa pode estar tão comprometida física e mentalmente que talvez não haja mais salvação. portanto, se o dependente ainda não chegou a este estágio não seria preferível tentar este caminho? sempre digo em minhas palestras como voluntário numa clínica que uma pessoa que interna outra, mesmo contra a vontade desta, está declarando amor porque tenta salvar uma vida. quem se revolta quer ficar do lado de fora fazendo o que? se drogando, claro, porque perdeu o controle e a capacidade de poder escolher. abraço.

  8. fano poli

    é isso ai Zebeto embora não psiquiatra (sou clínico) tenho várias familias e amigos que me procuram para orientar parentes no último degrau do crack; dois casos recentes de advogados que ficaram viciados comprometendo as familias, ambos de alto grau aquisitivo que é o preferencial dos traficantes. Um deles transformou a residência em ponto de venda de drogas e ficou “um trapo” – foi levada a ele uma “namorada” viciada e traficante para facilitar as vendas e o outro veio do interior para cursar direito e que advogava para uma empresa de destaque em Curitiba teve o pai no interior de S. Paulo chamado às pressas pelos traficantes para trazer quantia em dinheiro urgente senão iriam apagar o filho; ambos resistiram até o fim o internamento que foi efetuado contra a vontade mas que se não fosse feito colocaria a vida deles em jogo e dos familiares. Sou favorável a um bloqueio mais eficiente às fronteiras com o exército fora dos quartéis, penas duríssimos aos traficantes e com nossas embaixadas exigindo uma colaboração mais rigorosa dos nossos paises fronteiriços, nos moldes dos EUA com o Mexico. As cenas de TV são “fichinhas” e representam a degradação moral de pessoas que pouco representam financeiramente ao mega traficante que se interessa pelos jovens de classe média e principalmente como citei pessoas já estabelecidas profissionalmente e que tem dinheiro para até certo ponto manter o vicio. Sugiro que se leve este assunto a outros blogs, jornais e diversos setores da mídia o mais rápido possível para que os setores responsáveis agilizem medidas cabíveis.

  9. Parreiras Rodrigues

    Pois é, Fano, grato pela adesão (Diniz é a vovozinha, viu? Sou Rodrigues – rsrsrsrsrsrsrsrsr), e todos ficam ai bestando com a droga aqui dentro.

    Em todos as discussões, em todos os blogues que pentelho, insisto na providência primeira que é o policiamento na fronteira, fraquim, amador, desconfiável, quase inexistente.

    Todo mundo, governo e área médica ficam discutindo a droga já aqui dentro e que é uma quantia estúpida.

    É uma piada o policiamento nas nossas balsas e pontes.

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