18:48HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Libra

Os revólveres niquelados, cabos vermelhos, nos coldres e cinturão com fivela prateada ficavam tão distantes quando o tal do Papai Noel. Na vitrine da loja que ele tinha medo de entrar – e não sabia o por quê. Estrela de xerife e da marca do brinquedo. Feliz Natal só nas músicas. Um dia teve uma mesa com tudo em cima. Fez vira-vira com o vinho do garrafão. Vomitou. Não ligou. Porque era assim. É assim. A história pessoal. Tem mais? Ganhou seu presente anos depois. Tinha cor laranja. Aro 28. Usada. Comprou com o dinheiro que juntou aturando bêbados no balcão do boteco da esquina. Gostava do jeito com que alguns jogavam bilhar. Principalmente quando as tacadas eram firmes e a bola acertava nem rolava. Caçapa direto. Gostava de andar na rua de terra ao lado da igreja do bairro. Plana, reta. Depois de algum tempo controlava derrapagens. Freio de pé. Pedrinhas voando. Logo acima o campo de futebol ao lado da delegacia. Entrou nos dois mais tarde. Para se deslumbrar com alguns craques e detido por estar perdido no delírio alcoólico. A igreja continuou longe, apesar de crer. Ninguém entende o tanto faz quando organizam encontros familiares no fim do ano. Foi assim que aprendeu. Sente saudade da bicicleta. Seu presente do Natal para sempre.

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