15:24A Tragédia de Newtown… E agora?

por Mauricio Gomm*

Os EUA estão atônitos com a tragédia inimaginável, ocorrida na escola elementar na cidade de Newtown in CT. A sensação de revolta e tristeza coletiva se assemelha apenas – guardadas as devidas proporções – ao que ocorreu na tragédia das torres gêmeas. Há muitas perguntas e quase nenhuma resposta. Quando passar a emoção do momento (para nós os outros, menos para as destroçadas familias das 20 crianças de 6 a 7 anos) a missão será como evitar novas rajadas indescritíveis como esta.

Várias teorias surgem para “enfrentar”o problema:

(1) reduzir ou mesmo proibir a aquisição de armas pela sociedade civil. Esta opção é complicada na medida em que a Constituição americana assegura o “right to bear arms” (direito ao porte de arma) aos cidadãos. No entanto, o debate deve entrar na pauta no Congresso Nacional, no momento em que o Legislativo se depara com a contagem regressiva relacionada ao Abismo Fiscal. Aliás, mais uma abismo a ser lidado. Espera-se que haja uma maior regulamentação quanto à compra e uso de armas de fogo, via leis estaduais. Segundo as investigações iniciais revelam, a mãe do atirador (também assassinada), tinha em casa 4 armas de fogo, dentre as quais um rifle. Se o cidadão tem direito ao porte de arma, por que precisa de um arsenal bélico? A mudança da legislação infra-constitucional será necessária, embora o lobby dos fabricantes não é nada pequeno. Vamos ver o que vai dar, mas muita arma solta não é uma receita pacífica.

(2) armar professores e diretores das escolas elementar, média e superior. Conversei com um policial de Miami (também pai de duas crianças) que me disse que a solução será exatamente esta. Que opção maluca? Não basta o que se passa nos aeroportos onde todos somos despidos pelos raios X, (confesso que não me oponho a isso nos aeroportos), agora, segundo o policial, os EUA deveriam armar as escolas até os dentes. Onde vamos parar? Verdadeiro bang-bang do século XXI. Política da “paz armada” constante.

(3) aumentar o número de pscicólogos e psiquiatras acompanhando o comportamento de alunos “suspicious”. Aqui também a missão é hercúlea, seja pelo custo ou pela dificuldade enorme de decifrar o problema mental no jovem. Aquele(a) que é introvertido(a) na escola passa a ser suspeito? Aquele que tem autismo passa a ser suspeito? Parece que o acusado era autista. Defensores e famílias de autistas (corretamente) levantaram vozes quanto a este rótulo.

Enfim, o problema é gigante e espinhoso. Ao tempo em que o mundo está tecnologicamente mais fácil e rápido, as pessoas parecem estar paradoxalmente cada vez mais isoladas. A sociedade trata o atirador como um monstro. De fato o é, dentro de um ângulo. Mas, não há ser humano por mais selvagem, animal ou desprovido de coração, que – em sã conscência – se prontifique a invadir uma escola infantil e assassinar a queima roupa crianças de 6 anos. A equação não fecha. O atirador, apesar do resultado de seus atos, era uma “vítima” também, pois – seguramente – não sabia o que estava fazendo: um doente mental a enésima potência.

Por que não foi detectado e tratado a tempo? Como?

Enfim, neste momento em que o Natal se aproxima, a receita é cada vez mais escutarmos

ativa (e não passivamente) nossos filhos com amor, carinho, atenção e disciplina. A omissão paterna é tão perigosa quanto a ditadura que às vezes se oferece aos adolescentes.

Precisamos ver e acompanhar o que está passando em casa. Não podemos ficar delegando  para a sociedade, governo, escola, enfim a “terceiros” um direito/dever que nós, os pais, temos. Ninguém mais parece ter tempo para nada. Mas, se tivermos que priorizar ações que a atenção aos – e nos filhos – fique no topo da lista.

*Mauricio Gomm Santos, advogado e professor de arbitragem da Universidade de Miami

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2 ideias sobre “A Tragédia de Newtown… E agora?

  1. swissblue

    Para ler e colocar em pratica. Realmente nos dias de hoje a omissão familiar é a responsavel maior por inumeras fatalidades. Amor, atencao e disciplina fazem a diferenca.! Parabéns pelo artigo.

  2. Arnaldo Camargo

    Maurício, excelente artigo!

    Parabéns ao Zé Beto pela publicação.

    Se existe permissão constitucional para portar armas nos EUA, eles devem mudar a Constituição, que foi feira por homens e pode ser mudada.

    Impossível é mudar os Dez Mandamentos, pois vai ser um tanto difícil acessar quem redigiu o texto.

    Este direito de “portar armas” era importante nos tempos do “Far West”, quando cada um tinha que se defender sozinho. Agora não é mais.

    Abraços, Arnaldo.

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