7:20Aconteceu lá em casa

por Sérgio Brandão

-Solange, você viu uma tela que estava aqui em cima do balcão da cozinha?
-Não, seu Sérgio…. Como assim uma tela? Uma tela destas para proteger contra mosquito?
Neste momento já senti um frio subir pela barriga, passou pelo pescoço, quase saiu pelos olhos. Me acalmo e engulo seco.
– Não, Solange. Uma tela. Uma obra de arte. Uma pintura. Era uma aquarela. Estava aqui em cima. Era grande. Tinha uma bicicleta pintada, uma nuvem, em tom azulada, também um pouco branca. Estava protegida com um plástico, cheia de fitas adesivas em volta para proteger a pintura. Media mais ou menos uns três palmos.
– Ihhhh, seu Sérgio. O que tinha de lixo, de papel, já está tudo na rua. Coloquei tudo no latão!
Não precisei dizer mais nada. Pelo meu olhar ela entendeu que a sua vida estava em jogo. Aquela atitude podia determinar o dia de hoje como o último da vida de Solange. Mais rápido que um raio, pega a chave, abre a porta e sai correndo para rua tentando recuperar o prejuízo e salvar sua prórpia vida.
Cinco minutos de angústia e desespero. Da cozinha ouço Solange revirar o lixo.

Da mesma forma que estava, veio: amassado, com uma dobradura que ela fez para caber no lixo. Como quem amassa um papel para jogar fora.
A tela em questão foi um presente que ganhei do meu irmão, Paulo Assis.
A Solange é a moça que trabalha aqui em casa às segundas quartas e sextas.
E eu sou o pateta de ter deixado isso assim, dando mole, sabendo do inimigo perigoso que recolho três vezes por semana em casa.
A tela está salva, passa bem, com um ligeiro ferimento bem no centro, mas vai se recuperar e ainda deixará uma destas paredes  bem bonita.

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