9:58A nudez do provincianismo vesgo

por Jair Elias dos Santos Filho*

“A Mulher Nua é apenas a estátua da justiça encomendada para o Palácio da Justiça e jamais destinada à Praça 19 de dezembro. O resto é provincianismo vesgo acionado pelo oposicionismo desesperado da época”. Foi assim que se manifestou o ex-governador Bento Munhoz da Rocha ao ver a transferência da estátua da mulher nua, escondida nos jardins do Palácio Iguaçu para a Praça 19 de dezembro, em 1972.

Criada por Erbo Stenzel e Humberto Cozzo**, a escultura da mulher nua representa a Justiça e foi projetada para ficar na frente do Tribunal do Júri. Os monumentos foram inaugurados em 15 de junho de 1955. A Justiça não foi aceita e foi colocada atrás do Palácio Iguaçu, onde permaneceu por 19 anos. A escala e proporções da mulher nua não são semelhantes às do homem nu.

Em 30 de agosto de 1972, a estátua da mulher nua, que estava esquecida nos jardins do Palácio Iguaçu, foi levada para fazer companhia ao Homem Nu da Praça 19 de Dezembro. Tanto Erbo Stenzel quanto Bento Munhoz da Rocha Netto não concordaram com a remoção.

Stenzel explicou sua contrariedade devido às razões estéticas, pois a mulher nua de três metros se mostra inferior ao homem nu de oito metros. Em entrevista ao jornal Diário da Tarde, de 4 de setembro de 1972, Erbo Stenzel, aos 60 anos, com pernas imobilizadas, longa barba grisalha, cabelos brancos e lendo a Bíblia Sagrada e alguns livros alemães, expressou sua opinião sobre suas obras: O homem que a princípio eu projetara inclinado para frente, dando a impressão que estava correndo, e a mulher, que representaria Justiça, fugindo aos padrões normais, isto é, sem venda nos olhos, balança ou longo vestido”**Humberto Cozzo, paulistano, nascido Bartolomeu Cozzo, escultor formado pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo em 1920, foi primeiro lugar de escultura no Salão do Centenário, em São Paulo (1922). Conhecido pelas obras em espaços públicos, fez o monumento a José de Alencar (Fortaleza) e o monumento a Machado de Assis, no pátio da Academia Brasileira de Letras (Rio de Janeiro). Tem também obras na Argentina e
Portugal.

*Jair Elias dos Santos Júnior, historiador, autor do livro “Palácio Iguaçu: coragem de realizar de Bento Munhoz da Rocha Netto”.

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