7:09A perspectiva e seus obstáculos

por Ivan Schmidt

O PMDB paranaense está buscando formas de sobreviver por mais um tempo, mirando o horizonte da eleição para o governo estadual em 2014. Na segunda e terceira eleição de Roberto Requião em 2002 e 2006, o partido contou com o apoio do PT, mas esta probabilidade está hoje afastada tendo em vista a nova roupagem petista e a aclamada candidatura da ministra Gleisi Hoffmann.

Os papeis, portanto, estariam invertidos (perdão pela má palavra), passando o PDMB de apoiado a apoiador da ministra, embora o prognóstico esteja cada vez mais difícil a julgar pela animosidade recente entre os dois partidos. Não há clima propício para a aproximação entre o senador Roberto Requião e o ministro Paulo Bernardo e, por consequência, com a ministra Gleisi Hoffmann. As diatribes de Requião resultaram num processo por calúnia e difamação ganho pelo ministro, com a engorda do não pequeno passivo que o ex-governador acabou contabilizando por conta de decisões judiciais.

Mesmo assim, conquanto impedimentos de ordem ética estejam plenamente banidos da política brasileira desde a celebração do apoio de Paulo Maluf à candidatura do petista Fernando Haddad para a prefeitura paulistana, com direito a fotografias no jardim da mansão do apoiador, não haveria propriamente nenhuma surpresa se PMDB e PT voltassem a caminhar juntos na próxima eleição para o governo.

Aliás, tal possibilidade seria viável caso o diretório regional viesse a ser controlado pelo ex-governador Orlando Pessuti, responsável pela indicação do suplente de Gleisi na chapa para o Senado, Sérgio Souza, atualmente ocupando a vaga da senadora licenciada. Pessuti mantém boa interlocução com o PT e, tanto quanto é possível no delicado quadro de relacionamentos internos do PMDB nacional, tem aparentado cultivar bom diálogo em especial com o vice-presidente Michel Temer e o presidente em exercício do partido, senador Valdir Raupp.

O obstáculo a esta perspectiva está exatamente nas intenções reveladas pelo deputado e secretário estadual licenciado Luis Cláudio Romanelli, principal articulador da célula pró-Beto Richa, que já teria se manifestado contrariamente à eventualidade da indicação do senador Roberto Requião para a presidência do diretório regional do PMDB. O próprio Romanelli se coloca como opção natural para a presidência do partido, apontando também nos colegas de bancada, Caíto Quintana e Waldir Pugliesi, candidatos em potencial para o cargo.

A tese se robustece pelo fato de que a nova configuração partidária alocaria o PMDB, definitivamente, no condomínio político gerenciado pelo governador Beto Richa, cuja medida compensatória viria na forma altamente bem-vinda de, no mínimo, mais duas secretarias de Estado. A contrapartida seria inevitável: o apoio do PMDB à candidatura do governador à reeleição.

A conversa, no entanto, pode não prosperar, pois o ex-governador Orlando Pessuti, apesar da histórica ligação com Caíto e Waldir com os quais chegou à Assembleia em 1983 para o mandato inaugural, dificilmente romperia com a ministra Gleisi Hoffmann na praticamente consumada candidatura ao governo. A atitude do ex-governador deverá levar em consideração o futuro do senador Sérgio Souza, sua indicação pessoal para a chapa de Gleisi.

Há também que ponderar que o apoio do PMDB à candidatura petista ao governo do Paraná, não seria um corpo estranho na aliança entre ambos os partidos na esfera federal. O mesmo não ocorreria na hipótese de apoio ao candidato do PSDB, com quem o PMDB alimenta um contencioso, que se não chega a ser briga de foice no escuro, também não é uma tertúlia para exaltar a sublimidade da poesia parnasiana.

Dizem que o plano de Requião de voltar a presidir o PMDB estadual será a fórmula para garantir a quarta candidatura ao governo, em 2014. Confirmada a premissa, o primeiro e gigantesco desafio será a reconstrução do partido na maioria maciça dos municípios, nos quais é apenas pálida sombra do que foi em passado recente. O resultado das últimas eleições, nas quais o PDMB não conseguiu eleger o prefeito em nenhuma das cidades importantes (Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu, Ponta Grossa e Guarapuava, entre outras), é a lamentável constatação de que o “Velho MDB de Guerra”, como os elefantes que começam a morrer uma década antes, é uma estrutura que ameaça ruir.

A situação interna do partido, o desgaste sofrido nos últimos anos – Requião foi governador por dois mandatos – mas mesmo assim o PMDB perdeu sua importância como protagonista na política estadual, torna bastante onerosa a tarefa da reconstrução e, acima de tudo, do recrutamento e preparo das lideranças que darão suporte aos próximos compromissos eleitorais da agenda peemedebista.

No que me concerne, minha apreciação foi irrestrita ao Roberto Requião prefeito, governador e senador nos primeiros mandatos. Mas, ainda estou convicto de sua entranhada vocação dehomo politicus – animal político — na crassa definição de Aristóteles, para quem toda a atividade humana é suscetível à politização, ao mesmo tempo em que, sabiamente indicava que a política não é suscetível a todos os atos humanos.

Sabemos que Requião governou o Paraná três vezes, mas somente na primeira campanha venceu com o apoio decisivo do então governador Álvaro Dias e da estrutura do PMDB. Nas campanhas seguintes foi eleito apesar dos pesados teores da desintegração partidária, pois o PMDB há muito havia perdido o extraordinário capital de votos no interior, além de não contar com nenhum peso pesado em seus palanques.  Contudo, assim como as nuvens mudam rapidamente de formato, em política não é conveniente apostar todas as fichas na imutabilidade.

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10 ideias sobre “A perspectiva e seus obstáculos

  1. Bitte

    Zé: o retrato está perfeito. Ainda mais no primoroso texto do Ivan, esse danado que vaza talento por baixo das unhas e espalha no teclado.
    Saúde e alegria! Abs,
    Bitte

  2. jovem

    Para que a Ministra Gleisi efetivamente comprove que tem força no Governo Federal em prol do PR, é, no mínimo, necessário que consiga a aprovação do TRF do PR e que um paranaense de nascimento seja enfim nomeado para o STF!!! Demandas e anseios (de longa data diga-se de passagem) mais do justos e merecidos de todos nós paranaenses!!

  3. OGARITO LINHRES

    EM 2014 SERIA A QUINTA E NÃO A QUARTA CANDIDATURA DO REQUIÃO AO GOVERNO , VEJA O QUADRO ABAIXO:
    ANO DA ELEIÇÃO CONCORRENTES (PRINCIPAIS ) VENC
    1990 REQUIÃO /RICHA/MARTINEZ REQUIÃO
    1998 REQUIÃO/LERNER LERNER
    2002 REQUIÃO/ALVARO DIAS REQUIÃO
    2006 REQUIÃO/OSMAR DIAS REQUIÃO

  4. Ivan Schmidt

    O presidente Marco Maia, da Câmara dos Deputados, anunciou recentemente a colocação na ordem-do-dia da matéria referente à criação dos tribunais regionais do trabalho, incluindo o do Paraná. O projeto de lei de autoria do senador Osmar Dias foi aprovado no Senado em 2002 (se não me falha a memória), mas até hoje não foi apreciado pela Câmara. Acho que agora sai…

  5. Ivan Schmidt

    Bitte, meu querido amigo, você que também esbanja talento e bondade, às vezes exagera um bocado em relação à humilde pessoa desse escriba… Deus te guarde, irmão!

  6. Ivan Schmidt

    O atento leitor Ogarito Linhares corrigiu minha falha, lembrando a candidatura de Requião em 1988. Grato.

  7. Ivan Schmidt

    Pô, desculpem mais uma vez o escriba algo confuso. A candidatura de Requião corrigida por Ogarito Linhares deu-se em 1998! Acho que devo caprichar um pouco mais na ingestão de fosfato…

  8. jovem

    Prezado Ivan,

    TRT o PR já tem. Precisamos mesmo da aprovação do TRF (Tribunal Regional Federa) e da indicação de um paranaense de nascimento para a vaga de Ayres Britto no STF!!!

  9. Ivan Schmidt

    Jovem, não é “devarde” como se dizia em Lages, a terra de minha infância (quando se queria dizer “debalde”) que minha dose diária de fosfato precisa aumentar com urgência! Suponho, no entanto, que o caso esteja perdido…

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