13:59HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Tinha o pão da padaria, a varanda do prédio velho, um abacateiro no quintal da casa do outro lado da rua, o casal se enamorando dentro do carro, um porão com tesouros inexistentes, montanhas na paisagem, um letreiro da GE, a rua sem saída, o beco que terminava numa matal e com portas para o desconhecido, as apostas nos cavalos do tio, o avô que catava papel, garrafas e latas para sustentar o vício do cigarro, uma vizinha que dava medo, um carro importado na garagem, as lotações, o cinema no bairro, as pipas no ar, um cristo querendo abraço, o monumento aos mortos, a favela pendurada, dedo de deus apontando o caminho, um boteco velho no centro, uma barca desatracando, paquetá do outro lado, ilha do governador para se banhar, lotação para deslumbrar, viagem ao lado do tio motorneiro no bonde a chacoalhar; tinha muito subúrbio e pouca zona sul, mas a lagoa estava lá com a história de um casamento que não vingou, oração na candelária, pão de açúcar querendo um beijo de avião; as cores variam a cada pincelada no pensamento, mas o rio sempre foi dele porque foi ali que ele e ela se enamoraram depois de descer o mapa para casar e ele gerar.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.