6:40A lição do eleitor curitibano

por Célio Heitor Guimarães

Curitiba amanheceu radiante na segunda-feira. No dia anterior, dera mais uma demonstração de civilidade e sensatez. O pleito eleitoral do domingo ocorrera sem transtornos, a cidade estava limpa, de alma lavada; ganhou o candidato que devia ganhar e o eleitor deu novo chega-prá-lá nos pseudos coronéis da política local.

Gustavo Fruet, o patinho feio rejeitado pelo PMDB do galiforme Requião e pelo PSDB do frangote Beto Richa, é o novo senhor do terreiro curitibano. De fato e de direito, por vontade do povo, que confirmou não ter dono nem sensibilizar-se com campanhas milionárias e espetaculosas. Ou mentiras idiotas. No início, até atraem, mas na hora h prevalece o bom-senso. Pelo menos tem sido assim até aqui.

O segundo turno curitibano foi curioso: reuniu dois candidatos filhos de radialistas e homens de TV. Com uma vantagem para Gustavo: o falecido Maurício nunca ficou rico na profissão. E olha que era talentoso. Jornalista, radialista, pioneiro da televisão paranaense e advogado por formação, acabou fazendo carreira como político: vereador, deputado estadual, deputado federal, prefeito da Capital. Amealhou o que durante a vida? Uma casa na Rua Chile, uma chacarazinha creio que em Agudos do Sul, a arte de preparar um incomparável carneiro afrodisíaco, um monte de histórias protagonizadas por ele próprio, dona Ivete e três filhos abençoados. Que mais quereria? Talvez só o velho Coxa do coração mais vezes campeão.

De Maurício Fruet, pessoalmente, guardo bons momentos. Um em especial, porque me fez subir no conceito de meu filho, então com uns oito anos de idade. Ele era aluno de um conceituado colégio da cidade, o Anjo da Guarda, e, vez ou outra, convidado para festinhas de aniversário na casa dos coleguinhas. Algumas casas situadas em bairros nobres, bem equipadas, com piscinas e coisas e tal. Nunca imaginei que desse importância a isso. Até uma tarde em que passeávamos em família pelo Largo da Ordem. Acho que ali se realizava aquela tradicional festa da santa padroeira de Curitiba.

De repente, eis que cruzamos com o Maurício, então prefeito. Ele para, faz aquela festa, troca algumas palavras conosco e vai em frente. E o Carlos Eduardo, meu filho, cochicha-me, sem esconder um certo orgulho: “Nós não temos piscina, mas somos amigos do prefeito, né, pai?”

No primeiro turno das eleições deste ano, o grande perdedor foi o menino Beto, o garboso (como diria mestre Ivan Schmidt), inquilino provisório do Palácio Iguaçu, que imaginou poder impor ao eleitorado a sua vontade soberana. Perdeu e perdeu feio na Capital e em todo o Paraná. E enterrou de vez o PSDB paranaense.

No segundo turno, eu poderia dizer que o grande perdedor foi o Sr. Ratão. O animador Carlos Roberto Massa, pai, pintou e bordou, impôs a candidatura do filho – um bom menino, bem intencionado, que poderá vir a ter um belo futuro político, se souber se livrar de algumas influências perniciosas, como foi a de seu pai nesta empreitada –, formou a equipe de apoio, traçou normas de campanha, o discurso a ser utilizado e o tratamento a ser dispensado aos adversários. Fez Ratinho Jr. jogar sobre as costas do concorrente Gustavo o ônus petista, quando todo mundo sabia de suas estreitas ligações pessoais – ele sim – com Lula e companheiros. No segundo turno, já em desespero, usou descaradamente a emissora sobre a qual detém uma concessão pública para alavancar a candidatura do filho e malhar descaradamente o concorrente, inclusive nos isentos boletins noticiosos. Fez mais: patrocinou a vinda das “ratinetes” de São Paulo, bem nutridas, para distribuir santinhos do descendente em praças públicas e chegou ao cúmulo de gravar mensagens, repetidas à saciedade no rádio e em alto-falantes em circulação pela cidade, afirmando de viva voz que Gustavo Fruet, como deputado, negara dinheiro para a saúde do povo ao votar contra a CPMF. Mas logo a famigerada CPMF, ó sábio roedor?…

Pois é, eu poderia dizer – e teria razões de sobra para tanto – que Ratinho sênior foi o grande perdedor do segundo turno curitibano. Mas não o farei. Prefiro escrever que o resultado final da eleição foi uma grande lição para ele: descobriu que Curitiba não é um grande auditório e os eleitores curitibanos não são, todos eles, aqueles patetas que aplaudem as bobagens que ele faz diante das câmeras em São Paulo.

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9 ideias sobre “A lição do eleitor curitibano

  1. Parreiras Rodrigues

    Caraio, CHG, tomou chá de jiló às 6,30 doje?

    Pois bem. Também quero contar uma do bom Maurição – (ele tinha o dom de me enxergar no meio dum povaréu).

    1971 – Eu morava em Terra Roxa e fiquei sabendo que ele tava na região, com Alencar Furtado, Fernando Lira (baita dep. pernambucano) e mais uns menos votados. Juntei-me. Lira inventou de – depois do almoço na peixaria do Cícero nas beiras das 7 Quedas de Guaíra, conhecer Salto del Guaíra. Lá, foram pruma churrascaria dum paranaense que, imaginem, foi prá correr da ditadura daqui. O cara tinha aprendido rádio com o Maurício e ficou como eu olhando um Camaro aqui na Chevrolet do Bom Retiro. Tinha ele um programa na emissora local e logo providenciou uma entrevista ao vivo – por telefone. Mauricio tascou lá em Brasiguaio: Las minhas mas sinceras saudaciones ao brioso pueblo de la magnifica república guaraní – alguma coisa assim. Num demorou um minuto (pouco de exagero meu) e meia dúzia de jipes lotados de milicos do exército se postaram frente à churrascaria onde a turma uiscava. Desce um empertigado e cerro fechado oficial e se dirige aos já suados deputados e puxa-sacos – eu no meio. Bate continência e diz: Em nombre del generalíssimo presidente Alfredo Stroessnner, las saudaciones del pueblo paraguaio a todos los grandes parlamentares brasilenos.
    Mauricio passou um lenço na testa – no que foi imitado por todos e disse: Iniciamos a abertura política no Paraguai!
    Tá no meu livro 2 de Julho.

  2. Elton

    Contra tudo e contra todas as mentiras. Parabéns pela vitória Gustavo Fruet – ganhou Curitiba e todos os curitibanos, inclusive aqueles que repetiam as mentiras e calúnias contra você e sua candidatura, sua coligação. Parabéns pela análise C.H.G. – com todo os respeito, sua verve literária está como o tempo está para os bons vinhos.

  3. Wilson Bola

    Excelente, dr. Célio. bravo!

    belíssimo relato sobre o filho orgulhoso do pai amigo do prefeito Maurício e ótimo torpedo na ratazana pai.

  4. Ivan Schmidt

    Ave, Célio! Perfeita a análise da eleição e da espetacular vitória de Gustavo, homenagem tardia do povo curitibano à memória do grande Maurício Fruet, um dos homens públicos mais respeitados no Paraná. O filho vai no mesmo rumo, um estadista em formação, que ainda vai orgulhar muito o nosso povo!
    Do Maurício guardo saudosas memórias. Uma delas na Assembleia Legislativa em entrevista para o Show de Jornal da TV Iguaçu. Tudo combinado, o auxiliar acendeu as luzes do flash para a filmagem, um dos bulbos estourou e as faiscas acabaram abrindo um rombo na calça que o deputado vestia. A entrevista foi feita perto de uma janela para aproveitar a luz natural. Maurício ficou impassível e no final eu pedi desculpas e elogiei seu fairplay. A resposta veio na tampa:
    “Não se preocupe, depois mando a conta para o Paulo Pimentel!”.

  5. Felipe Rauen

    Caro Célio:
    Excelente texto, o que não é novidade. Daqui de Porto Alegre eu estava na torcida pelo Gustavo, com toda convicção de que era o melhor nome para minha Curitiba.
    E, embora esse fator não seja tão importante, vinha sofrendo piadas dos amigos gaúchos quando as pesquisas indicavam que o ratinho filho seria o comandante daquela que já foi a capítal modelo do país.
    Grande Abraço.

  6. The Stone

    Penso que o Gustavo é tão político como qualquer outro, faz o que é necessário para garantir uma eleição, até se juntar ao PT. Só quero registrar que daqui 2 anos teremos Gleise PT Hoffmam como governadora. E adivinhem, com o apoio do tão correto e bom político Gustavo Fruit. Só quero registrar meu protesto, pois, sempre fui partidário da política do Gustavo, mas ele perdeu meu voto e minha admiração quando baixou as calças para o PT. Como curitibano só posso desejar que ele faça um mandato brilhante, pensando e trabalhando pelo bem maior, nossa cidade e os cidadãos que aqui vivem, mas registro minha indignação por saber que mesmo os políticos que iniciam honestos têm um preço.

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