8:20A promissória de 2014

por Ivan Schmidt

Neste domingo os eleitores curitibanos voltam a suas seções (a do escriba está localizada no colégio estadual Prieto Martinez, no Bom Retiro), para escolher entre Gustavo Fruet (PDT, PT e PV) e Ratinho Junior (PSC) o prefeito para o período de 2013 a 2016. Espero que a maioria escolha o candidato melhor preparado para exercer a importante missão de governar a cidade mediante a execução de um programa de obras adequado às necessidades da cidadania, que arquive de uma vez por todas os devaneios, intervenções tópicas e a implantação de monstrengos que para nada servem, senão para o gasto inútil de preciosos recursos públicos.

Espero também que o eleito cumpra seu mandato até o último dia, lembrando-se aqui o instituto da reeleição, o que tornaria no mínimo insensato o abandono do cargo, pela renúncia, para buscar eventualmente cargo mais elevado.

A discussão se impõe, tendo em vista o quanto se falou até agora sobre a probabilidade da utilização da prefeitura como uma espécie de catapulta para o governo estadual em 2014. Para esclarecer, é de justiça reconhecer que o comentário quase sempre foi associado à pessoa de Gustavo Fruet, que teria assinado uma promissória com resgate previsto para dois anos a partir de agora, em nome da ministra Gleisi Hoffmann, virtual candidata ao governo por uma coligação liderada pelo Partido dos Trabalhadores.

A menos de uma semana da eleição, entretanto, o pai de Ratinho Junior, segundo o que publicaram os jornais, informou que caso o filho perca a eleição para prefeito (teria sido ato falho ou admissão da derrota?), será candidato ao governo estadual. Se isto não desmoraliza por completo a veleidade de atribuir a outrem algo que se almeja em benefício próprio (mesmo com a desculpa da derrota), os abantesmas que se arrogam a pretensão de adonar-se da terra de ninguém permitida por nossa pobre política, para dar de barato, deveriam assimilar o fato corriqueiro que no Brasil mal termina uma eleição já se começa a pensar na próxima.

Retornando ao acalentado sonho petista de chegar ao Palácio Iguaçu e à apreciável condição vivida hoje pela ministra Gleisi Hoffmann, eu diria que nada é mais justo que sua aspiração por esse posto tão relevante na trajetória de qualquer político. Se há cacife suficiente para bancar a empreitada é cedo para arriscar prognósticos, mas navegar é preciso. Auxiliar da extrema confiança da presidente Dilma Rousseff, como também ocorre com a ministra Miriam Belchior e Rosa Foster, presidente da Petrobras, apesar de seu estilo moderado no desempenho da gerência da complicadíssima máquina governamental, Gleisi tem se conduzido à altura das responsabilidades que assumiu na Casa Civil, no lugar do então todo-poderoso da vez, Antonio Palocci.

É óbvio que as próximas decisões políticas da ministra Gleisi Hoffmann dependem do saldo de acertos de Dilma, cujo estilo de gestão difere sem entrar em choque com quem a antecedeu na presidência da República e bancou sua candidatura à sucessão, ela que até então não havia recebido votos nem para síndica de prédio. Estreando na carreira legislativa diretamente pelo Senado, que ao contrário é o fim da linha para muita gente, Gleisi nem esquentou a cadeira e foi convocada para a instância mais importante do Executivo (abaixo apenas da presidência), tanto que o que separa os gabinetes da presidente e da ministra é um pequeno lance de escada.

Também parece cristalino na aliança política que aproximou Gustavo Fruet dos ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, sabidamente os protagonistas de maior destaque no atual petismo paranaense, a inclusão do tema das eleições para o governo em 2014. Ninguém em sã consciência se arriscaria a dizer que Gustavo apenas quis aproveitar-se do apoio significativo para sua campanha, negando-se a oferecer igual contrapartida à ministra em 2014.

Temos mostras significativas em nosso processo político da correlação existente entre determinadas eleições. Os exemplos mais explícitos são oferecidos hoje pelas eleições municipais nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte que sempre estiveram, de uma forma ou outra, ligadas à eleição presidencial. O mesmo critério é aplicável ao conjunto das capitais, que ressalvadas as situações de visível anormalidade, tem na eleição do prefeito um componente de peso na definição do candidato com a maior probabilidade de vitória na eleição de governador.

Retoquei estas notas na manhã de quinta-feira (25), portanto, conhecendo os números da última pesquisa Datafolha que confirmaram a anterior divulgada no dia 18. Na pesquisa atual Gustavo continua com 52% das intenções de voto e Ratinho perdeu um ponto percentual, indo de 36 para 35%. De certa forma o Datafolha, que ouviu 1.185 pessoas entre os dias 23 e 24, admitida a margem de erro de 3% para mais ou para menos, também chancela as pesquisas anteriores do Ibope e IRG registradas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), nas quais Gustavo exibia confortável diferença em relação ao contendor.

Tendo em vista a insistência do candidato Ratinho Junior em apelar a seus eleitores que continuem se arregimentando para a “hora da virada”, não é inválida a suposição de que as pesquisas para uso interno (feitas pelo Datacenso) indicavam nesses últimos dias um agravamento preocupante da adversidade do quadro. Sintomáticas foram igualmente as informações publicadas pela imprensa sobre a retirada do publicitário Maurício Ramos, ao que se sabe, autor intelectual e responsável pela medida exata das exposições de Ratinho Junior no horário eleitoral, no primeiro turno.

Os leitores deste blog devem estar lembrados do que escrevi ainda no primeiro turno, quando Gustavo estava ancorado em terceiro lugar, mesmo com toda a potencialidade de sua vocação para a vida pública demonstrada em carreira brilhante como parlamentar, em propostas claras e afirmativas, além do discurso equânime com as atitudes que sempre o pautaram na vida pública.

O que escrevi foi o seguinte: caso o herdeiro da mística do extraordinário político que foi Maurício Fruet conseguisse romper as amarras que o prendiam ao terceiro lugar, passasse ao segundo turno e fosse eleito prefeito, estaria coberto de glória.

Mesmo sabendo das súbitas e incontroláveis mudanças num cenário mutante como é o da política, o Datafolha se encarregou de fornecer a última razão para crer que estamos bastante próximos desta realidade.

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3 ideias sobre “A promissória de 2014

  1. Leonardo

    E Graças a Deus estamos!
    Gustavo Fruet merece a chance! Já tentou uma vez e não conseguiu, agora tenta, mais experiente ainda, sua segunda chance, que pelo que parece está próxima de se tornar uma realidade! Lutou contra tudo e todos no 1º turno, haviam momentos até que o pedetista e a coligação não acreditavam mais, mas a virada aconteceu e desde então é uma crescente extraordinária do candidato!! Foi uma eleição marcante para a história de Curitiba! Uma das viradas mais significativas que ja vi…Parabéns ao Gustavo Fruet! Pela campanha que fez neste 2012 eu tiro o chapéu para ele

  2. Daniel

    E vai!!

    o povo viu que é isso que curitiba precisa
    e nao de aventuras como o Fruet mesmo disse!

  3. antonio carlos

    Data venia mas peço venia para discordar dos posts anteriores. Infelizmente Curitiba vai ser governada por duas pessoas já compromissadas, uma com a ministra e outro com o papai, ou seja, já tem quem a quem se reportar. Os dois contrincantes não tem nenhuma experiência em administrar nada, apesar de um jurar que “está pronto”. Mas está pronto para quê? Para administrar imóveis? Espero que os próximos 4 anos passem voando, e espero que daqui há 4 anos a cidade tenha sobrevivido à hecatombe que vem por aí. ACarlos

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