11:41Um debate fraquinho, fraquinho

por Rogério Waldrigues Galindo*

O pessoal que analisa o discurso dos candidatos descobriu uma curiosidade em 2010. Quem mais falava em continuidade era José Serra (PSDB). Prometia não mexer naquilo que o povão aprovava. Dilma falava era em aprofundar a mudança. Ganhou com facilidade. Num país cheio de mazelas como o nosso, prometer que tudo vai continuar como está é pedir para levar pancada do eleitor. Que o diga Luciano Ducci (PSB).

Os dois candidatos do segundo turno curitibano entraram numa disputa besta nos últimos dias. Querem saber o que vale mais: ser sonoplasta do próprio pai ou criar carneiros para fazer pratos afrodisíacos. A isso chamam experiência. E querem convencer o eleitor de que esse seu glorioso passado os cacifa para a prefeitura de Curitiba: um monstro de quase R$ 6 bilhões ao ano. De dar dó.

O eleitor já afirmou no primeiro turno que não queria continuidade. Não quis o pessoal que baseava sua campanha na experiência. Lembram de Lula? Em 2002, depois de o PSDB dizer que só aquele grupo sabia dominar as finanças do país, Lula prometeu mudar. A esperança venceu o medo, disse o petista.

O recado era claro. Lula nunca havia administrado nada. Mesmo assim, o eleitor escolheu o projeto dele. Não foi caso único. Repare só: na Nova República, todos os presidentes eleitos eram “inexperientes”. Fernando Henrique nunca havia passado pelo Executivo. Nem Lula. Dilma nunca sido eleita para nada. E quem acompanhou o mandato de Collor em Maceió?

O problema de Ratinho e de Fruet é que os dois contavam disputar o cargo contra a atual administração. E aí tudo ficaria mais fácil. É só mostrar que o outro não está fazendo as coisas à perfeição e prometer fazer melhor. Agora não dá mais. Os dois estão do lado de fora e têm que mostrar diferenças para o projeto do outro. E aí está o ponto: que projeto?

Ao contrário de Lula em 2002, nenhum dos dois candidatos curitibanos tem uma bandeira forte. Nada no estilo Fome Zero ou “Fora FMI”. Os dois parecem ter se preocupado demais em montar alianças e passaram tempo de menos pensando em alguma proposta realmente interessante para a cidade. Os planos de governo são incompletos, frágeis e muitas vezes levianos.

Ratinho Jr. vê o orçamento de Curitiba como se fosse a caixa-forte do Tio Patinhas. Promete tudo, para todos. Somem-se seus projetos para as calçadas, o uniforme escolar, o novo turno para as creches e só isso já gastou quase R$ 600 milhões. E, convenhamos, nada disso muda a cidade de fato: são remendos. Gustavo Fruet agora deu de prometer coisas que a atual gestão fez ou está fazendo. Que mudança é essa? Sua única proposta mais forte parece ser a dos 30% para a educação. A mudança segura não deveria ser mais do que isso?

Na falta de projetos, um apela para o carisma de comunicador e para ataques que prometem ser cada vez mais grosseiros. O outro fala em biografia e serenidade. Se tivessem pensado um pouco mais sobre a cidade, saberiam o que o eleitor quer. Alguém, por exemplo, reparou que o tema da desigualdade sumiu após o fim do primeiro turno?

A população não quer experiência. Mas atenção a seus problemas reais, isso ela quer.

*Publicado na edição de hoje do jornal Gazeta do Povo

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5 ideias sobre “Um debate fraquinho, fraquinho

  1. Ari cardoso

    Quem escreveu este artigo deveria ser candidato a prefeito para resolver os problemas da nossa cidade, assim como comentarista esportivo deveria ser técnico de futebol, atrás do teclado tudo tem solução, só temos 2 candidatos temos que escolher um então traga-nos algo que nos ajude a decidir, não querer mostrar que é o Dono da verdade….

  2. Felix

    O Galindo não ajudou muito nesta eleição. Suas análises foram fraquinhas, cheias de idéias pre-concebidas . . .

  3. Boca do Inferno

    Esse blogueirista da gazetona deve ser o maior colecionador de Almanaque Sadol do mundo!!!

  4. antonio carlos

    Hoje temos que escolher entre o nada e o coisa nenhuma, nenhum dos dois nunca pegou na enxada, nunca entrou em uma unidade de saúde´. E só ouvu falar de transporte coletivopela televisão. Mas agora é tarde, Inês é morta e não adianta chorar o leite derramado. O negócio é começar a rezar, e rezar muito, com muita fé, para que os próximos 4 anos passem bem rápido. E que o eleito não deixe pior a cidade do que ela está hoje. ACarlos

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