6:37Pragas do Apocalipse

por Ivan Schmidt

O próximo domingo, dia 7 de outubro, vai ficar marcado na história eleitoral de muitas capitais brasileiras, algumas bastante importantes em termos nacionais como São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Curitiba e Porto Alegre, entre outras. A citação vem do fato que em quase todas, dificilmente os candidatos a prefeito pelo Partido dos Trabalhadores (ou apoiados por ele) serão eleitos.

Um dos casos mais emblemáticos é o de Porto Alegre, capital em que o PT elegeu inúmeras vezes o prefeito, chegando ao governo estadual com Olívio Dutra e agora com Tarso Genro. Na eleição atual, o candidato petista teve inexpressiva intenção de votos declarada pelos eleitores nas várias pesquisas feitas até agora. A realidade mostra que a eleição está sendo polarizada pelo candidato à reeleição, José Fortunati (PDT), e a deputada Manuela Dávila (PCdoB).

O PT que sempre foi muito forte na capital gaúcha acabou perdendo espaço para partidos que trafegavam na mesma linha e tradicionalmente reforçavam sua vanguarda, mas que evoluíram para a condição de protagonistas. Em Recife, o candidato imposto pelo presidente Lula, senador Humberto Costa (rejeitado por 43% dos eleitores jovens), ao que tudo indica será derrotado olimpicamente pelo candidato do governador Eduardo Campos. Uma derrota que vai doer muito no ex-presidente, assim como será duro absorver o fracasso de Belo Horizonte, onde o antigo ministro Patrus Ananias, tido como o pai do Bolsa Família, já foi engolido pelo prefeito Márcio Lacerda, socialista apoiado pelo senador Aécio Neves.

A eleição de Márcio há quatro anos foi garantida pela aliança firmada pelo então governador Aécio Neves e o prefeito petista Fernando Pimentel, em troca de futuros e mútuos apoios, mas  rompida na presente eleição porque o PSB não aceitou coligar-se com o PT, preferindo ficar ao lado do senador. A reeleição do prefeito de Belo Horizonte tornar-se-á, caso se concretize, um handicap decisivo para a consolidação da candidatura de Aécio à presidência da República em 2014, tendo em vista que sairá fortalecido nas Minas Gerais como um dos raros líderes remanescentes da mixórdia em que vai se transformando o PSDB.

Na maior cidade do país, o candidato do PT, ex-ministro Fernando Haddad, disputa voto a voto com o tucano José Serra a chance de ir para o segundo turno. Esta seria uma vitória pessoal do ex-presidente Lula que preteriu nomes com maior probabilidade de sucesso, especialmente a atual ministra da Cultura, Marta Suplicy. Nas últimas pesquisas Haddad encostou em Serra e diante das últimas derrapadas de Celso Russomanno, pode-se até sonhar com uma rocambolesca zebra, que seria a passagem de Serra e Haddad para o segundo turno.

A última rodada da pesquisa Ibope publicada pela Folha de S. Paulo na quarta-feira (3) mostra que Russomanno despencou perigosamente de 34% para 27% das intenções de voto em uma semana, embora ainda esteja a sete pontos percentuais de distância de Serra (19%) e Haddad (18%) empatados tecnicamente. O ainda líder nas pesquisas em São Paulo, defensor dos direitos do consumidor em programas de televisão e ex-deputado federal, político que já teve o apoio de Paulo Maluf e tem a campanha coordenada por bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, além da simpatia de vários ramos da Assembleia de Deus e outras comunidades do ramo pentecostal, provavelmente esteja sofrendo esta avalanche em face da reação espontânea de eleitores católicos e até mesmo protestantes históricos da capital paulistana, receosos de ter um prefeito susceptível à influência de aiatolás de outras searas religiosas. O cálculo é um tanto extravagante, mas se Russomanno continuar a perder uns dois pontos percentuais a cada dia (escrevo faltando quatro para a eleição), o país assistiria à mais sensacional reversão do cenário eleitoral da história recente, comparável à derrota infligida por Janio Quadros a Fernando Henrique Cardoso que disputavam a prefeitura de São Paulo, no exato dia da eleição.

Em Curitiba, uma das capitais em que o PT tem trabalhado arduamente para eleger o prefeito, mas parece já sem o signo da obsessão, até pela dificuldade de localizar um nome com aceitação plena por suas múltiplas tendências e, óbvio, da sociedade, a coligação com o PDT de Gustavo Fruet não rendeu o efeito esperado. Aliás, um caso sobre o qual devem se debruçar os cientistas políticos em busca de explicações plausíveis para a falta de empolgação popular pelas propostas de Fruet, que parecia imbatível quando pré-candidato.

A três dias da eleição, ao contrário de Russomanno, Ratinho Junior continua em marcha batida para cruzar a linha de chegada em primeiro lugar. Pesquisa do Ibope divulgada também na quarta-feira pela RPC e Gazeta do Povo confirmam-no na ponta (35%) seguido por Luciano Ducci (28%), consolidando o segundo turno entre ambos. Seria lamentável testemunhar, mais uma vez, motivada pelo desespero do grupo hegemônico ante a iminência do desmoronamento do esquema que não conhece derrota desde o século passado, a atitude infame com que sequazes se prestam à desconstrução da imagem do contendor com a edição de volantes apócrifos. Ratinho Junior que esteja pronto a encarar esse tipo de ataque insolente e covarde.

Não custa lembrar que na campanha em que Vanhoni ganharia fatalmente de Taniguchi houve todo o tipo de baixarias, inclusive a publicação da ficha funcional do petista no período em que foi funcionário do Banestado. Coisas da intimidade de um empregado como absenteísmo, agitação nos corredores e mexericos (anotados na ficha) foram espalhadas aos milhares pela cidade caracterizando crime eleitoral, sem a menor manifestação da Justiça Eleitoral. E não foram poucas as aleivosias maldosas e racistas sobre seu candidato a vice, pelo fato de ser negro.

Volto ao desgaste flagrante do PT e o peso exponencial das gravíssimas verdades reafirmadas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento dos réus do mensalão. A  mais demolidora destas manifestações veio do ministro Celso de Mello, que se referiu aos mensaleiros como “marginais do poder” e, pior, “uma quadrilha de bandoleiros de estrada”, que transformaram “a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de governo”.

Como na canção popular o PT arca com a dureza do cipó caindo no lombo de um partido que julgava estar acima do bem e do mal, destinado a introduzir ética e transparência na política brasileira, mas que ao sentir o gosto do poder embuçou-se com o mesmo manto dos parceiros cujo fisiologismo condenara como pragas do Apocalipse.

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