7:41PARA NUNCA ESQUECER

Siba e grupo no Teatro Paiol – Fotos Roberto José da Silva

Era um caminho / quase sem pegadas / onde tantas madrugadas / folhas serenaram / era uma estrada / muitas curvas tortas / quantas passagens e portas / ali se ocultaram /era uma linha / sem começo e fim / e as flores desse jardim / meus avós plantaram / era uma voz / um vento, um sussurro / relampo, trovão e murro / nos que se lembraram /uma palavra quase sem sentido / um tapa no pé do ouvido / todos escutaram / um grito mudo / perguntando aonde / nossa lembrança se esconde / meus avós gritaram. //Era uma dança / quase uma miragem / cada gesto / uma imagem / dos que se encantaram / um movimento / um traquejo forte / traçado, risco e recorte / se descortinaram / uma semente no meio da poeira / chã da lavoura primeira / meus avós dançaram / uma pancada / um ronco, um estralo / um trupé e um cavalo / guerreiros brincaram /quase uma queda / quase uma descida / uma seta remetida / as mãos se apertaram /era uma festa / chegada e partida / saudações e despedida / meus avós choraram. //Onde estará / aquele passo tonto / e as armas para o confronto / onde se ocultaram / e o lampejo da luz estupenda / que atravessou a fenda / e tantos enxergaram / ah! se eupudesse / só por um segundo / rever os portões do mundo / que os avós criaram.

De repente o repente que se fez mantra e o som da guitarra fez lembrar a rabeca dos tempos do ambrósio. Sergio é Siba porque assim são os mestres que nasceram com a poesia do agreste nordestino mesmo saídos da capital e que se lançaram para a grande Sampa no trajeto tradicional dos paus de arara modernos como a pipoca saídas dos pífanos de Caruaru. Todos nós, os Zés ligados em quem traduz um pouco da alma deste gigante tão maltratado pelo desalmados nhonhôs, tomamos cuidado e só nos entregamos para receber poesia revestida na música que pode ser a da bandinha do coreto, do ritmo do cantador de feira, da toada brega, ou em parceria com os raios alucinantes e viajantes de um Hendrix/Lucio Maia. O calor se fez assim como a luz dentro do Paiol encapsulado na noite gelada. Os meninos do mestre que é também Veloso nos tiraram di passeio mágico que os velhos músicos de Nazaré da Mata nos levaram pela Fuloresta, mas continuamos a beber na fonte pouco conhecida do Brasil brasileiro – e por isso mesmo sem fronteira. Alguém na plateia pediu a rabeca. Ele não trouxe. Um menino de cinco meses de olhos arregalados segurava os dedos das mãos de um casal que pareciam ser avós e a energia que vinha do palco fazia sua perna esquerda traduzir em movimentos o que recebia na alma de anjo. Ritmo. Uma canção que fez para o filho Siba cantou. Depois, o Vale do Jucá, este da letra acima. Meus avós plantaram na linha sem começo e fim. As flores desse jardim.

Compartilhe

Uma ideia sobre “PARA NUNCA ESQUECER

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.