6:47Lição de um velho cão

por Célio Heitor Guimarães

Por treze anos, no saudoso O Estado do Paraná, fui porta-voz dos avós sem coluna. Hoje, tendo me tornado septuagenário, posso ser, no máximo, por deferência do generoso Zé Beto, porta-voz dos velhinhos sem blog, dos quais é padroeiro São Rubem Alves. Aos jovens, antes que abandonem a leitura destas mal traçadas e comecem a fazer chacota, lembro que, se nós – os seus pais ou avós – não tivéssemos envelhecido, eles não estariam aqui.

Dito isso, informo o distinto frequentador desta página que hoje, 27 de setembro, é o Dia do Idoso. Ou era, porque no Brasil varonil, de dinamismo mil, parece que a celebração foi transferida para 1º de outubro, data da promulgação do tal Estatuto do Idoso.

Isso tudo não tem, é claro, a menor importância, mas devo dizer-lhe, paciente leitor, que, se você é daqueles que pensam que cachorro velho perdeu o faro e se tornou inútil, precisa conhecer a lição que capturei na internet e que vem bem a calhar na data de hoje:

A madame embarcou em um safári na África e levou com ela o seu velho cão vira-lata. Um dia, caçando borboletas, distraído, o velho cão, de repente, se deu conta de que estava perdido.

Vagando a esmo, atrás do caminho de volta, o velho cão avistou um jovem leopardo, que caminhava em sua direção com intenções nada amistosas. Pensou rápido, pois velho, ao contrário do que se supõe, pensa rápido:

– Huuummm… Estou enrascado.

Olhou ao redor e viu um monte de ossos espalhados pelo chão, próximos a ele. Aí, em vez de dar mostras de pavor, achegou-se ao osso mais próximo e passou a roê-lo, dando as costas ao leopardo, como se não o tivesse visto.

Quando o leopardo estava prestes a dar o bote, o velho cão exclamou bem alto:

– Este leopardo estava uma delícia!!! Será que há outros por aí?…

Ouvindo isso, o jovem leopardo sentiu um arrepio na espinha e suspendeu o ataque. De mansinho, esgueirou-se em direção das árvores, pensando:

– Caramba! Essa foi por pouco. Aquele cachorro quase me pega!…

Um macaco, numa árvore ali perto, viu a cena e, safado como ele só, imaginou como fazer bom uso do que assistira. Em troca de proteção para si, informaria ao predador que o vira-lata não comera leopardo algum…

E assim foi rápido atrás do leopardo. Mas o velho cão, que a tudo assistia, logo deduziu:

– Ih, aí tem coisa!…

O macaco alcançou o leopardo e cochichou-lhe o acontecido, fazendo um acordo com o felino. O jovem leopardo ficou furioso por ter sido feito de bobo pelo velho cão:

– Macaco, suba nas minhas costas para você ver o que vou fazer com aquele cachorro abusado!

Agora, o velho cão vê um leopardo furioso, com um macaco nas costas, vindo em sua direção. Pensa:

– E agora, o que é que eu posso fazer?

Mas, em vez de correr, pois sabia que as sua pernas doidas não o levariam muito longe, o velho cão sentou-se, dando as costas aos agressores, como se ainda não os tivesse visto. Quando sentiu que eles já estavam bem próximos, falou alto o necessário para ser ouvido:

– Cadê o f.d.p. daquele macaco? Estou aqui morrendo de fome! Ele disse que iria trazer outro leopardo para mim, e não chega nunca!…

Moral da história: não faça pouco de um cachorro velho. Idade e inteligência sobrepõem-se à juventude e à intriga. Sabedoria só chega com a idade e com a experiência.

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