19:10HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Áries

Na mira telescópica ela surgiu exuberante. Os sol lhe dava um contorno como aura. Peito estufado, olhar atento ao entorno. Ele destravou a arma, inspirou profundamente e foi soltando o ar devagar, como aprendera nos tempos de farda. Sabia a hora certa de disparar – era quando todo o pulmão estivesse vazio e o corpo totalmente imóvel. Esse tempo se alongou, como se tudo tivesse perdido referência. Não havia mais ponteiros, mas sim aquele telhado à frente e na rua de terra um grupo de garotos munidos de estilingues, setras, atiradeiras. Estavam à caça de pardais, mas quem conseguisse acertar e matar pombas, ah, era o herói das tardes depois das aulas. Os projéteis eram bolas de barro feitas com esmero, redondinhas, secadas sob o mesmo sol de agora. Ele piscou. Voltou a atenção para o alvo. Penas brancas que, às vezes, se movimentavam ao sabor do vento. Ele olhou e previu a bala, na verdade um chumbinho, entrando no corpo, rasgando pele, ossos, músculos. A pomba olhou em sua direção, mas não voou. Ficou ali, como se quisesse aumentar a luta interna daquele matador. Ele encostou o dedo no gatilho, mas logo tirou e viu a ave voar. Olhou então uma janela na vizinhança e notou que alguém acompanhava aquela cena. Viu então um sorriso. Sorriu também.

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