14:16Quanto vale o patrimônio histórico de uma cidade?

Argola para cavalos na Rua São Francisco – Foto de Lina Faria


por Claudio Henrique de Castro

A foto acima mostra uma argola centenária em frente a funerária São Francisco, que outrora foi uma maternidade e que servia para amarrar arreios de cavalos. Esta é a última e onde ficará? Nos escombros de algum depósito de lixo? A rua mais antiga da cidade, assim como o patrimônio histórico do Hospital Bom Retiro e o bosque que deveriam ser tombados estão aos ventos do mercado, esse novo e poderoso destruidor da história e da cultura.

O tombamento se faz necessário toda vez que a conservação se vincule a fatos memoráveis da história. É assim nas cidades que possuem algo para contar (1).

Ao invés disto prevalece a vontade do “mercado”.

Sobre o tema o professor Michael Sandel argumenta: “Precisamos perguntar se não existem certas coisas que o dinheiro não pode comprar, pois o mercado descarta o moral”. (2)

Os períodos que antecedem as eleições transformam profundamente as cidades. Não acontecem somente discursos, mas ações muitas vezes sem o debate e a discussão democrática que devem antecedê-las.

O patrimônio histórico e cultural de um território define sua cultura – e a base das civilizações se forma na cultura. Com a globalização e o neoliberalismo vem a devastação dos lugares públicos e do sentido de coletividade. Em resumo: o público se privatiza.

Ocorre que a história de uma cultura nos demonstra que quando os interesses econômicos prevalecem, ela desaparece.

Curitiba recentemente perdeu o bosque do Batel, perderá a toque de caixa, se algo não for feito, o bosque do Bom Retiro, e hoje possivelmente a última argola da rua mais antiga de cidade.

Notas
(1) DI PIETRO, M.S.Z. Direito administrativo. 25ª ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 146 e ss.
(2) SANDEL, M. O que o dinheiro não compra: os limites morais do mercado. Trad. ClóvisMarques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012, p. 13 e 93.
Compartilhe

6 ideias sobre “Quanto vale o patrimônio histórico de uma cidade?

  1. Cavalgadura

    Muito bem, o local foi destruído, e guardada a argolinha. O que faltou falar é que a calçada igualmente era histórica, e o cargo perdido no IPUCC todos sabem quem foi.

  2. Lina

    A história no cofre, de nada adianta. Deveriam ter mantido um recuo e nem mexido na mesma em seu sitio original. Transplante de história é patético. Vontade de arrancar os caninos de quem mexe onde não deve e transplanta-lo no meio da testa, por exemplo/ Falta total de compromisso com a história. Os comerciantes da quadra juram que os horrorosos postes e sua fiação serão retirados e a fiação passará a ser subterrãnea para que se amenize um pouco a lambança.
    Serea que alguém do ippuc pode responder se vão mesmo passar afiação por baixo?

  3. Zangado

    Morei na Rua São Francisco até os 19 anos. Era uma rua, principalmente, entre a Barão e a Riachuelo que tinha uma vida de comunidade, onde os habitantes e transeuntes habituais se frequentavam e se conversavam ao longo dos dias, dos meses, dos anos. Houve tempo que sequer se julgava necessário fechar as portas com chave, não precisava. Ninguém perturbava a paz noturna. Quando muito uma conversa mais alta que logo baixava o tom quando alguém reclamava. Um bébado poderia entrar e dormir na escada dos edifícios. Foi desfigurada arquitetônicamente ao longo dos anos. Pouco restou de importante. Também na Rua Riachuelo. Dois hotéis que lá existiam só tem fachada deteriorada. A lei de preservação histórica nada incentiva à conservação. Se revitaliza pintando fachadas e consertando calçadas. Pura perfumaria de véspera de eleições. Mais que esse arremedo de revitalização, ali dever-se-ia proceder uma intervenção urbanística, de modo, de um lado, preservar o que realmente tem importância mas, de outro lado, permitir a remodelagem do bairro, valorizando os imóveis em vez de trazer-lhes debaixo do guante de uma pretensa “preservação histórica”. O que vai acontecer é que os donos de imóveis vão deles se desfazer e logo a especulação imobiliária disso se aproveitar. Então, virão os “cérebros da Prefeitura” com outra história da carrochinha. Esperem e verão.

  4. antonio carlos

    Até hoje não consegui entender como o dono do Shopping Müller conseguiu construir um shopping em meio ao casario histórico do Batel. Como aconteceu tal milagre? Como conseguiu os alvarás que lhe possibilitaram tal construção? E estão preocupados com as argoals que amarravam cavalos e mulas na rua São Francisco? Gente, Curitiba está sendo privatizada, e conta com o beneplácito da nossa nobre prefeitura. Tudo em Curitiba tem preço, é tudo uma questão de saber quanto. E a quem pagar. ACarlos

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.