Argola para cavalos na Rua São Francisco – Foto de Lina Faria
por Claudio Henrique de Castro
A foto acima mostra uma argola centenária em frente a funerária São Francisco, que outrora foi uma maternidade e que servia para amarrar arreios de cavalos. Esta é a última e onde ficará? Nos escombros de algum depósito de lixo? A rua mais antiga da cidade, assim como o patrimônio histórico do Hospital Bom Retiro e o bosque que deveriam ser tombados estão aos ventos do mercado, esse novo e poderoso destruidor da história e da cultura.
O tombamento se faz necessário toda vez que a conservação se vincule a fatos memoráveis da história. É assim nas cidades que possuem algo para contar (1).
Ao invés disto prevalece a vontade do “mercado”.
Sobre o tema o professor Michael Sandel argumenta: “Precisamos perguntar se não existem certas coisas que o dinheiro não pode comprar, pois o mercado descarta o moral”. (2)
Os períodos que antecedem as eleições transformam profundamente as cidades. Não acontecem somente discursos, mas ações muitas vezes sem o debate e a discussão democrática que devem antecedê-las.
O patrimônio histórico e cultural de um território define sua cultura – e a base das civilizações se forma na cultura. Com a globalização e o neoliberalismo vem a devastação dos lugares públicos e do sentido de coletividade. Em resumo: o público se privatiza.
Ocorre que a história de uma cultura nos demonstra que quando os interesses econômicos prevalecem, ela desaparece.
Curitiba recentemente perdeu o bosque do Batel, perderá a toque de caixa, se algo não for feito, o bosque do Bom Retiro, e hoje possivelmente a última argola da rua mais antiga de cidade.
Parabéns!
Quanto vale um cargo comissionado perdido, por falta de competência?
E a argola, para o focinho, está em um cofre, no Ipuc, á salvo da sanha histórica.
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1292342
Muito bem, o local foi destruído, e guardada a argolinha. O que faltou falar é que a calçada igualmente era histórica, e o cargo perdido no IPUCC todos sabem quem foi.
A história no cofre, de nada adianta. Deveriam ter mantido um recuo e nem mexido na mesma em seu sitio original. Transplante de história é patético. Vontade de arrancar os caninos de quem mexe onde não deve e transplanta-lo no meio da testa, por exemplo/ Falta total de compromisso com a história. Os comerciantes da quadra juram que os horrorosos postes e sua fiação serão retirados e a fiação passará a ser subterrãnea para que se amenize um pouco a lambança.
Serea que alguém do ippuc pode responder se vão mesmo passar afiação por baixo?
Morei na Rua São Francisco até os 19 anos. Era uma rua, principalmente, entre a Barão e a Riachuelo que tinha uma vida de comunidade, onde os habitantes e transeuntes habituais se frequentavam e se conversavam ao longo dos dias, dos meses, dos anos. Houve tempo que sequer se julgava necessário fechar as portas com chave, não precisava. Ninguém perturbava a paz noturna. Quando muito uma conversa mais alta que logo baixava o tom quando alguém reclamava. Um bébado poderia entrar e dormir na escada dos edifícios. Foi desfigurada arquitetônicamente ao longo dos anos. Pouco restou de importante. Também na Rua Riachuelo. Dois hotéis que lá existiam só tem fachada deteriorada. A lei de preservação histórica nada incentiva à conservação. Se revitaliza pintando fachadas e consertando calçadas. Pura perfumaria de véspera de eleições. Mais que esse arremedo de revitalização, ali dever-se-ia proceder uma intervenção urbanística, de modo, de um lado, preservar o que realmente tem importância mas, de outro lado, permitir a remodelagem do bairro, valorizando os imóveis em vez de trazer-lhes debaixo do guante de uma pretensa “preservação histórica”. O que vai acontecer é que os donos de imóveis vão deles se desfazer e logo a especulação imobiliária disso se aproveitar. Então, virão os “cérebros da Prefeitura” com outra história da carrochinha. Esperem e verão.
Até hoje não consegui entender como o dono do Shopping Müller conseguiu construir um shopping em meio ao casario histórico do Batel. Como aconteceu tal milagre? Como conseguiu os alvarás que lhe possibilitaram tal construção? E estão preocupados com as argoals que amarravam cavalos e mulas na rua São Francisco? Gente, Curitiba está sendo privatizada, e conta com o beneplácito da nossa nobre prefeitura. Tudo em Curitiba tem preço, é tudo uma questão de saber quanto. E a quem pagar. ACarlos