7:13O candidato preferencial

Por Ivan Schmidt

Ainda é muito difícil arriscar um prognóstico sobre o desfecho da eleição para prefeito de Curitiba, mesmo com algumas pesquisas de intenção de voto já divulgadas pela mídia. Na última pesquisa Ibope conhecida no último dia 24 de agosto, Ratinho Junior tinha 27% (o mesmo percentual do Datafolha), Luciano Ducci 23%, Gustavo Fruet 21% e Rafael Greca 6%, mas apesar da vantagem ainda é cedo para afirmar que as coisas estão definidas.

Lembro-me de ter comentado aqui, após a realização do primeiro debate da Bandeirantes com os candidatos a prefeito, que Rafael Greca (PMDB), a meu juízo tinha condições de apresentar alguma elevação em seu percentual de intenções de voto, embora tenha acontecido exatamente o contrário: o ex-prefeito caiu para seis pontos percentuais onde estacionou nas duas pesquisas realizadas pelo Ibope.

Minha impressão naquele momento se baseava na boa performance de Greca no debate, com respostas e comentários bem elaborados e convincentes, mas ao que parece repetitivos e até cansativos para o povão. Essa perspectiva está hoje bem delineada no imaginário do eleitor que não respondeu positivamente às mensagens do candidato peemedebista no horário eleitoral, quase todas entretecidas com a verve cavalheiresca dos madrigais renascentistas, como se o candidato estivesse disputando não uma corrida eleitoral, mas um torneio de jogos florais.

Há observadores, entretanto, que acreditam (ou supõem acreditar) que Rafael Greca já teria pelo menos uns 15% das intenções, mas a revelação desse patamar não é conveniente para os institutos de pesquisa, numa afirmação estribada em critérios tão absurdos quanto sustentar que a Terra é quadrada. No dia em que instituto escamotear ou esconder resultados de pesquisa eleitoral, por exemplo, esse tipo de serviço ficará completamente arruinado, aliás, como aconteceu com o Instituto Gallup constrangido a se retirar do Brasil tantas foram as mancadas que cometeu.

Todavia, para outros analistas o percentual de Greca é reflexo direto de sua atual situação política e do legado que lhe restou de suportar o fardo da decadência do PMDB, um partido esfacelado por idiossincrasias e visões personalistas de pretensos líderes que sequer conseguem audiência para suas arengas. Opina alguém especializado em pesquisas de opinião pública que a tendência de Greca é permanecer onde está, porquanto não conseguiu empolgar o eleitor e tampouco transmitir carga suficiente de entusiasmo a sua campanha, requisito fundamental para qualquer candidato trabalhar com a variável da vitória ou a condição de disputar o segundo turno.

Dado inquietante na caminhada de Greca está no elevado índice de rejeição (26%) revelado pelos eleitores na recente pesquisa Ibope, num primeiro lugar que ninguém gostaria de ocupar. Para os críticos contumazes do senador Roberto Requião, a campanha de Greca não deslanchou exatamente por essa também incômoda proximidade, que para muitos é tão artificial quanto uma tubaína sabor cereja.

Pode-se afirmar que fenômeno parecido está ocorrendo na campanha de Gustavo Fruet, que foi perdendo terreno para Ratinho Junior e Luciano Ducci, até aparecer em terceiro lugar na pesquisa Ibope. O discurso um tanto engessado e acadêmico do primeiro debate, assim como o começo morno do horário eleitoral cobraram um preço alto do candidato apoiado pela ministra Gleisi Hoffmann e uma parte do PT, enxerto que o típico conservadorismo curitibano decididamente não viu com bons olhos.

O mesmo raciocínio é válido para uma tentativa de avaliar o provável sentimento das alas mais radicais do Partido dos Trabalhadores em relação a Gustavo Fruet. Parece claro que essa militância ainda não mostrou a mínima disposição de vestir a camisa do político que se notabilizou pelo afirmativo desempenho na CPMI dos Correios, a que desnudou a prática do mensalão, cujos autores estão sendo julgados atualmente pelo Supremo Tribunal Federal, em verdadeira devassa dos desvios éticos e morais cometidos pela cúpula de um partido que desde sua fundação prometera eliminar de uma vez por todas, o que para eles, eram safadezas da política brasileira.

O programa eleitoral de Fruet melhorou sensivelmente nas últimas edições, ficando aos poucos mais explícita sua vocação para a política, assim como o conhecimento dos principais problemas da cidade e as soluções descomplicadas que pretende implantar na administração municipal, caso seja eleito. O grande teste de Gustavo, portanto, está nas próximas pesquisas tanto do Datafolha quanto do Ibope, que servirão como uma espécie de aferidor de sua capacidade de avançar na corrida, num sprint que o coloque mais perto dos calcanhares dos dois competidores em vantagem ou, melhor, na frente.

A surpresa continua no bom desempenho de Ratinho Junior, corredor criterioso na avaliação de suas forças e, por isso, ainda dosando o momento certo para a largada consagradora. A medida dessa força virá nas próximas pesquisas registradas no Tribunal Regional Eleitoral, quando operadores da campanha do jovem político esperam a confirmação das pesquisas feitas para consumo interno, nas quais o antigo sonoplasta está bem distanciado do segundo colocado. Caso a percepção se confirme e a arrancada de Ratinho seja real os demais corredores ficarão em visível desconforto.

Já escrevi nesse espaço que a votação de Ratinho Junior predomina maciçamente nas camadas mais recentes da população, ou seja, entre filhos e netos das famílias que ao longo da década de 80 vieram em massa (sem o menor trocadilho) para Curitiba. Uma dessas famílias foi exatamente a de Ratinho pai que arribou à capital em 1983. Hoje o primogênito que já foi deputado estadual e é deputado federal, é sério concorrente à prefeitura de uma das mais importantes capitais do Brasil.

Essa população nova trouxe na bagagem hábitos, costumes, modos de falar ou vestir, enfim, sua cultura própria e, também está provado, seus candidatos preferenciais. Resta saber se os hierarcas da política curitibana – os que falam e agem em nome da elite – terão força para impedir, como o fizeram em passado recente, que um político de origem autenticamente popular cruze as portas do palácio 29 de Março como chefe da administração municipal.

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7 ideias sobre “O candidato preferencial

  1. Antonio Siqueira Ferreiros

    Muito interessante o artigo. Outro aspecto importante, mas que não foi citado é que, além do carisma e do nome, a campanha de Ratinho cresce pela impressionante presença nas ruas. Campanha que não aparece na rua não existe aos olhos do eleitor. Poucos vêem os programas eleitorais, mas todos andam pela cidade. Pela estrutura e poder econômico do atual grupo, todos esperavam que Ducci dominasse as ruas. Fruet, como Osmar em 2010, não aparece nas esquinas, o que transmite fraqueza e falta de ânimo ao eleitor. Já Ratinho Jr, com esses banners imensos e muito bem feitos, está ofuscando até o Luciano. Se continuar assim, não vai ser fácil segurar o “homem menino”.

  2. Giovana Maia

    Eu defendo as propostas do Gustavo mas não nego o crescimento do Ratinho entre a população. O fato é que por mim quem sairia da briga antes com certeza é o Luciano por estar jogando tão baixo. Eu voto no Fruet, mas já fico muito feliz se o Luciano não vencer.

  3. Joao Agil

    Temos que concordar, mesmo nao sabendo os reais números o crescimento de Ratinho é evidente, diga-se de passagem igualmente posicionado na disputa entre os 2. Deixando claro que Ducci perdeu muitos votos, levando Fruet á tambem perder um pouco mesmo sendo em quantidade inferior.
    Em meu ver o segundo turno dará Ratinho e Fruet

  4. Cris

    Dando foco na questão Rafael Greca….
    Eu não acho que seja o pior candidato, pelo contrário, é minha segunda opção de voto! Mas, porque não é a primeira?

    Apesar do carisma e da facilidade de falar sobre Curitiba e sobre os problemas deixados pelo prefeito Luciano Ducci, vejo que Greca não tem fundos suficientes para suprir todas as demandas que Curitiba necessita e também não vejo que tem uma equipe forte junto a ele…o PMDB diminuiu muito aqui na capital e consequentemente enfraqueceu! Nem mesmo Requião, que tirou muitas intenções de votos do Greca, está dando apoio suficiente à campanha comparado ao apoio de outras peças da política brasileira à outros concorrentes! Além de tudo isso, Greca tem um discurso muito fora do comum, díficil de acreditar! São propostas que saem um pouco do padrão e da capacidade de um candidato! Li esses dias nos blogs e parece-me que ele quer construir 1 posto de saúde a cada 16 horas!!! Ao meu ver isso está completamente fora de cogitação, é algo quase impossível! Onde está o dinheiro pra tudo? A infra-estrutura? Tanta mão-de-obra? e outros fatores! Enfim, conversa e papo Rafael Greca tem, mas pra mim falta ser mais realista e ver o que está dentro de sua capacidade!

  5. Cleiton

    Apesar de eu não estar ligando muito pra essas pesquisas acho que com 6% das intenções de voto e liderando o ranking de rejeição em Curitiba é mesmo um pouco dificil o Greca reverter o quadro!
    Agora…o lado de cima da disputa está pra mim muito embolado…não tem favorido! O que são 600 pessoas perto de 1 milhao de eleitores? Capais da margem de erro ser até maior do que 4%….é muito superficial essa pesquisa! Não da pra afirmar que o candidato X ou Y representou crescente ou declinio na campanha!!!

  6. Thiago

    Eu como jovem e agora todos os dias interado nos assuntos políticos que rondam a minha cidade, não voto e não conheço pessoas no meu ciclo mais intimo de amigos que vá votar no Ratinho Jr! Todos tem o mesmo discurso…o cara é um caipirão que não nasceu em Curitiba, não se criou aqui e tem pouca experiencia política, ou seja, Curitiba é demais na mão dele! O fogo da campanha está sendo sustentado pelo pai que quer é obvio o filho na prefeitura ganhando mais dinheiro! Vai de cada um ou cair na conversa barata do mickey mouse ou se dar conta de que Curitiba não é a terra dele e que toda essa candidatura é um projeto da Rede Massa e não de alguém que trabalha por amor a Curitiba!!!

  7. Motoqueiro Infernal !!!

    A desenvoltura da campanha, do meu ponto de vista, está a contento das alianças e propostas apresentadas. Fruet, pisou na bola ao se aliar ao PT, Ducci faz 30% com a máquina e Beto como garoto propaganda, Ratinho é a novidade… Greca repete chavões, parou no tempo! Hoje o povão tá mais esclarecido… resumindo, tá uma merda!

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