O escritor, crítico e professor Miguel Sanches Neto anuncia que, depois de quase 20 anos, vai parar de escrever a coluna semanal no jornal Gazeta do Povo para se dedicar a um novo romance. O último texto será publicado no dia 26 de agosto e será sobre o poeta português Herberto Helder. Na mensagem que enviou, Sanches Neto repete a frase que Helder escreveu na parede do próprio quarto:“Meu Deus, faz com que eu seja sempre um poeta obscuro”. Fechando a mensagem, depois de um “amém”, o amigo enviou um poema sobre o exercício da crítica que está em seu livro O pisador de horizontes.
RELÓGIO CANSADO
São horas de parar
no relógio cansado do crítico.
A poesia só pode ser vista
do outro lado do vidro.
Nunca mais ler um poema
sem nenhum outro motivo
do que o de querer
provar de seu visgo.
Maldição de só pensar
pela estrutura do artigo,
sem poder sentir livre
o que contém um livro.
O poeta morreu lúcido,
catalogando delírios.