6:50Um adeus a Joe Kubert

Sargento Rock e a Companhia Moleza

Joe Kubert

por Célio Heitor Guimarães

Lenda viva das histórias em quadrinhos, brilhante escritor e desenhista, criador gráfico de inesquecíveis personagens, Joe Kubert, faleceu no domingo passado, aos 85 anos, em New Jersey, EUA. Ainda não se sabe as causas da morte, mas era sabido que o artista encontrava-se adoentado há algum tempo.

Dono de um estilo refinado e traço característico, Joseph Kubert nasceu a 18 de setembro de 1926, na cidade polonesa de Yzeran, hoje pertencente à Ucrânia. Tinha apenas dois meses quando seus pais imigraram para os Estados Unidos, fixando-se no Brooklyn, em Nova York. Naturalizado americano, começou a desenhar aos 9 anos e aos 12 já prestava serviços profissionais para a MLJ Publications (mais tarde Archie Comics), ganhando cinco dólares por página.

Cursou a High School of Music and Art, de Nova York, e no início da década de 1940 chegou à DC Comics (então National Publications), onde expandiu a sua criatividade em personagens de enorme sucesso, como Gavião Negro (que passou a desenhar aos 19 anos), Sargento Rock, Tomahawk, Tor e Príncipe Viking, entre outros. Em 1967, assumiu o cargo de diretor de publicações da editora e conquistou os direitos sobre a criação de Edgar Rice Burroughs, Tarzan, que passou a desenhar (o material inicialmente editado no Brasil pela Ebal, foi relançado em 2010 pela Editora Devir).

Perfeiccionista, antes dessa tarefa, Kubert releu todos os romances de Tarzan, procurando familiarizar-se com a origem do Rei das Selvas. Depois, estudou o trabalho de Hal Foster. “Minha intenção” – assumiu – “era injetar a emoção e a proximidade que senti quando li suas histórias pela primeira vez”.

Em setembro de 1976, fundou, junto com a esposa Muriel (que faleceu em 2008, depois de 57 anos de casados e que teria inspirado o visual de Shiera Hall, a Mulher-Gavião), a Joe Kubert School of Cartoon and Graphic Art, em Dover, New Jersey, a primeira escola norte-americana com formação superior específica em cartunismo e quadrinhos, que se tornaria referência nos EUA e foi responsável pela formação de inúmeros artistas de renome, entre os quais o brasileiro Sérgio Cariello. Foram também alunos ali Andy e Adam Kubert, dois dos cinco filhos de Joe e que hoje se destacam no mercado americano dos comics. Mesmo assim, ele continuou desenhando ocasionalmente. Nessa época, fez algumas tiras das séries Big Ben Bolt e Terry e os Piratas.

Ultimamente, Joe Kubert vinha se dedicando mais às novelas gráficas, como “Fax from Sarajevo”, gerada a partir de faxes trocados com o agente de quadrinhos Ervin Rustemagic, durante o cerco da capital da Bórnia e Herzegóvina. Ele era amigo pessoal de Ervin e quando a guerra estourou, só restou ao amigo comunicar-se com o mundo externo através do fax.

Joe foi também o primeiro desenhista norte-americano a ilustrar Tex, do italiano Bonelli. “O Cavaleiro Solitário”, com texto de Claudio Nizzi, foi publicado originalmente em junho de 2001, na Itália, e em abril de 2002 no Brasil, em “Tex Gigante” nº 9, da Myrhos Editora.

Em entrevista publicada nessa edição, Kubert conta que, quando pequeno, foi influenciado por Flash Gordon, de Alex Raymond; Tarzan, de Hal Foster; e Terry e os Piratas, de Milton Caniff. E que nunca sentiu maior dificuldade em dar vida a histórias escritas por outros. “Apenas procuro fazer o melhor que posso” – frisou.

Mas o grande personagem de Kubert talvez tenha sido Sargento Rock, o destemido líder da Companhia Moleza, criado pelo roteirista Robert Kanigher. Ao prefaciar a edição de luxo do personagem (aqui publicada em 2006 pela Opera Graphica Editora), Joe confessou que, embora já houvesse desenhado uma infinidade de heróis populares, incluindo Batman, Superman, Flash e Gavião Negro, era inevitavelmente interpelado, em toda convenção de quadrinhos, sobre Rock. Mas, modestamente, atribuiu isso ao escritor Kanigher: “Sem as histórias, nós cartunistas teríamos de nos contentar em fazer rabiscos”. E sublinhou: “O conteúdo emocional das histórias é o resultado direto daquilo que Bob injetava nelas”.

As histórias eram, de fato, bem armadas e amarradas com competência e boas doses de emoção e humor. Mas o que fazia mesmo a diferença era o traço sempre genial de Kubert.

Entre os prêmios conquistados por ele, destacam-se os Alley Award, National Cartoonist Society Award, Harvey Award e Eisner Award.

Seu derradeiro trabalho foi feito com o filho Andy: Before Watchmen: Nite Owl, que está sendo lançado agora nos EUA. Além disso, a DC Comics já vinha anunciando para outubro o lançamento da minissérie Joe Kubert Presents, em seis edições produzidas pelo próprio e por artistas convidados, com os heróis que marcaram a carreira do velho quadrinista.

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