por Zé da Silva

Libra

Dormiu homem. Acordou mulher. Pensava como homem. Se olhou no espelho. A maquiagem ficou perfeita. O vestido da irmã ficou justo. Marca da calcinha. O andar era quase gisele. Olhos verdes como radares. Ar tímido para compor. Flutuava cada vez que um deles estancava para olhar. Queixo caído. Rodrigueanamente concordou que as belas sofrem. E têm um caso consigo com elas próprias. Ao mesmo tempo não gostava do desfile. Ele não gostava. Mas não conseguia impedir. O adolescente enrubesceu. O velhote fantasiou. Uma balzaca beliscou o marido barrigudo. Algumas beldades tentaram fazer o olhar de desprezo. Um carro parou. A porta abriu. A estrela no capô cintilou no raio de sol. Ele quis fugir. Ela entrou. Sem palavras. Estrada. Mar. A lua fez raio sobre as ondas. Do outro lado, a África. Ela então olhou para ele. Era ele antes de dormir. Ele olhou para ela. Era ela ao acordar. O beijo fundiu. Ficou um ser. Na imensidão dos grãos de areia.