16:48A campanha está nas ruas, mas poucos sabem

por Ivan Schmidt

Aos poucos os eleitores curitibanos vão se apercebendo de que estamos novamente em período de campanha política. Nas ruas ainda são reduzidas as demonstrações visíveis do esforço dos candidatos na tentativa de convencer os cidadãos de que suas propostas são melhores que a dos contendores, seja para a Câmara de Vereadores ou para a prefeitura.

Apenas para lembrar, é preciso que se diga que muitos dos recursos utilizados pelos candidatos beiram o patético, além do codinome político adotado por grande parte dos pretendentes a uma cadeira de vereador, talvez pensando que o bizarro da identidade seja o fator mais importante na conquista dos votos.

Escrevo antes de conhecer os números da nova pesquisa sobre a intenção momentânea do voto dos curitibanos nos candidatos a prefeito, fato que a depender dos percentuais atingidos pelos candidatos vai dinamizar as campanhas, exigindo o máximo dos marqueteiros. O outro viés da observação está na largada dos programas eleitorais em rádio e televisão (final de agosto), considerados por quase todos como a campanha propriamente dita. Além do tempo de duração do programa, a óbvia vantagem é do candidato que dispõe da melhor equipe de marketing político, no popular, que tem mais dinheiro para contratar as produtoras com equipamentos mais sofisticados e profissionais tarimbados na incrível arte da alquimia.

Em tempo. Para a maioria dos observadores, marketing político geralmente se confunde com imagens cinematográficas e glamurosas, com o candidato abraçando e beijando idosos e crianças, traçando um pastel de feira, pedalando numa bicicleta. Se não estivesse tão frio, quem sabe o prefeito poderia dar uns mergulhos em algum dos rios que correm pelo espaço geográfico do município, se é que existe algum ainda não assoreado ou poluído pelo civilizado lixo curitibano.

A temporada prevê também a exibição daquelas maravilhosas cenas filmadas ou animadas em custosos making off’s (ou o que quer que isso signifique!), retratando mirabolantes projetos que os candidatos retiram de suas inesgotáveis cartolas. E a temporada promete!

Falando ainda sobre pesquisa eleitoral, a primeira feita pelo Datafolha em Curitiba trouxe a surpresa do primeiro lugar na preferência do eleitor do deputado federal Ratinho Junior, mesmo que por escassa margem sobre Gustavo Fruet e Luciano Ducci. É necessário aguardar a liberação dos números aferidos nos últimos dias pelo Ibope, para ver se houve alguma modificação no quadro, mas não causaria estranheza se o candidato do PMDB, Rafael Greca de Macedo, subisse alguns preciosos pontos no ranking.

A referência está obrigatoriamente ligada ao desempenho de Greca no debate promovido pela Bandeirantes, cujas intervenções mostraram versatilidade e presença de espírito, além de uma sequencia de raciocínio e memória admiráveis. Fruet se situou no mesmo nível, apesar do tom um tanto acadêmico e professoral dos comentários, talvez por ter sido o primeiro encontro direto dos candidatos. Luciano, ao que parece, não conseguirá se desvencilhar do discurso característico da administração municipal, paráfrase perfeita do verso de Castro Alves (Ó bendito o que semeia, obras à mão cheia), incluindo o apelativo bordão (“para isso temos convênio com o governador Beto Richa”). E haja convênios!

Assim como houve surpresa no primeiro lugar de Ratinho na pesquisa Datafolha, o mesmo pode-se dizer de sua participação no debate, tendo em vista a inconsistência na elaboração de algumas posições quanto aos desafios atuais e futuros do gestor público e, sobretudo na argumentação que ainda carece de recursos de linguagem para tornar mais objetivas algumas de suas idéias, que são boas. Técnicas que a própria campanha aos poucos vai ensinando.

Deve-se considerar também o comportamento até certo ponto inusitado do eleitor ao transparecer a intenção majoritária de votar em Ratinho, valendo repetir que em pequena margem. Se confirmada a hipótese de Greca ter aumentado seu percentual depois do debate, é possível que a intenção tenha migrado do arraial de Ratinho Junior, de quem os eleitores provavelmente esperam mais no debate.

Ilação não menos realista é que os eleitores finalmente demonstram certa tendência de mudar o quadro, depois de sucessivas administrações municipais (Greca, Taniguchi, Beto Richa e Luciano), numa hegemonia que se prolonga desde as duas últimas décadas do século passado sob a mesmérica influência de Jaime Lerner, ele próprio governador por dois mandatos. Há também uma razão talvez melhor compreendida se as respostas forem buscadas na sociologia e ciência política, sobre o eventual comportamento dos eleitores nascidos de 1980 para cá, hoje na faixa dos 30 anos.

É plenamente aceitável afirmar que esse contingente, em grande parte descendente dos milhares de migrantes que, nos anos 80, deram início à explosão demográfica de Curitiba e com acesso ao título de eleitor na virada do século, nem chegou a votar nos políticos citados acima e mal os conhecem. Portanto, não é nenhum disparate concordar com a provável mudança de comportamento de vasta parcela do eleitorado e o óbvio desinteresse demonstrado a políticos considerados antigos ou superados. Essa é uma explicação possível para o primeiro lugar de Ratinho na pesquisa Datafolha, mas que somente terá a validade comprovada se o jovem político conseguir engordar a vantagem da pesquisa anterior.

Essa característica dos novos eleitores curitibanos foi bem percebida por Gustavo Fruet que, aliás, já a enunciou em várias entrevistas. O discurso prioritário do candidato do PDT apoiado pela ala do PT que segue a orientação dos ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann deverá focar essa extensa faixa da população preocupada, entre outras coisas, com a formação educacional, emprego, renda, segurança e qualidade de vida.

A visibilidade das campanhas nas ruas é de uma pobreza franciscana e pouca coisa deve mudar nesse panorama por falta de recursos financeiros, ou porque os resultados são pífios. Os velhos comícios que atraiam multidões para ouvir oradores inflamados tipo Carlos Lacerda, Jânio Quadros e Leonel Brizola – só para citar uns poucos – são, definitivamente, coisa do passado. Nesse aspecto a legislação eleitoral é drástica, ao passo que extremamente liberal em itens como a pulverização de siglas e o registro de candidaturas, por exemplo.

Cá pra nós, eu já sei em quem vou votar. E você?

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