9:46O NOVO OLHAR DO GRANDE NOVISKI

Texto e desenho de Noviski

Pois bueno, aos poucos a visão está voltando e minha vontade de retornar ao trabalho está me matando. Mas vou segurando as pontas, ordens médicas.
Na sexta-feira, dia 27/07, cheguei ao Hospital de Olhos de Curitiba na companhia do meu sobrinho, o Neto. Aqui devo enaltecer o atendimento de primeira deste hospital. A partir do momento em que você põe os pés lá dentro, há um atendente ao seu lado de prontidão para acompanhá-lo por todo o complexo hospitalar. Seja particular, convênio ou do SUS, não importa, o tratamento é o mesmo. Exemplar.
Subi ao primeiro andar logo após o atendimento em uma espécie de triagem. Tudo muito rápido. Lá no andar de cima, mede-se a pressão e pingam um colírio para contrair a pupila a ponto de você não enxergar nada. Pressão 15/9. Um pouco alta, devido a ansiedade, mas tudo ok.
A coisa começou a ficar estranha quando a enfermeira entrou na sala de espera e me disse: “- Sr. Carlos! Hora de trocar de roupa para a cirurgia.”
Vou lhes contar algo sobre a relação de gente obesa e roupas. ELA É IMPOSSÍVEL! De maneira alguma eles teriam o meu tamanho que é “P”. De “Paquiderme”.
Ao pegar a calça vi que ela me caía como uma luva. Digo isso não por que ela me serviu bem, mas por que ela só me cabia na mão. “- Não serve, minha filha” – avisei à enfermeira. “-Tem certeza?” – disse ela assustada, esticando ao máximo o elástico da calça. Para não decepcioná-la, fui até o reservado e tentei – em vão – colocar a minúscula peça de roupa. Nesse ponto eu já suava em bicas, imaginando que minha pressão arterial já atingira níveis estratosféricos. Uma enfermeira mais experiente me acalmou, dizendo que eu não me preocupasse com aquilo, que uma vez no centro cirúrgico, eles achariam uma solução. Para não dizer que o vestuário foi um fiasco total, a touca e as sapatilhas serviram muito bem, obrigado.
Subimos mais um andar até o centro cirúrgico. Lá três belas e jovens enfermeiras me aguardavam. “-Sr. Carlos. Tire a roupa”.
Devo dizer que tive um terço de uma velha fantasia sexual atendida nesse instante. Os outros dois terços envolveriam três latas de sorvete Bapka e uma cabrita. Mas isso já é outra história… A solução encontrada pelas meninas foi me envolver com lençóis esterelizados e fixá-los com fita crepe. Senti-me como um daqueles monstros dos filmes de Maciste, de toga, tipo um ciclope. Feito isso, vamos à cirurgia.
Na maca, deitado de barriga para cima, a equipe super atenciosa não poupou esforços para me deixar confortável. Travesseiros sob as pernas para aliviar o cansaço e sob a cabeça para o conforto, tanto meu como da cirurgiã. O anestesista, sempre muito simpático, me alertou:
“Sr. Carlos. Eu vou lhe sedar, mas não poderei fazê-lo dormir. Sua pressão é um pouco alta e o seu sobrepeso dificultam o monitoramento. O Sr. ficará consciente durante o processo, mas tudo bem. Só sentirá uma picada forte no olho e mais nada.
“Ótimo!” – pensei comigo. “O cara me avisa isso depois de me amarrar à uma maca!!!”
Depois disso, veio a sessão de colírios anestésicos e a tal picada. Dói um pouco, mas nada que assuste.
A cirurgiã foi uma jovem e muito querida profissional, Dra. Sabrina Leticia Zeglin Nicolau. Sempre me deixando à vontade e conversando comigo durante o transplante. A calma com a qual ela me operou denunciava uma habilidade incrível em transplantes, o que me deixou muito mais tranquilo. Uma hora e meia depois, eu estava liberado, e meia hora após, em casa, tranquilo.
Novamente quero agradecer aos meus amigos que tornaram isso possível e as pessoas que compraram as rifas para me ajudar. Também aos amigos e amigos de amigos que me deixaram mensagens de apoio e de melhoras. Não vou nominar todos. Mas o agradecimento é legítimo e de coração.
Mas aqui quero fazer um agradecimento em especial: ao doador da córnea. Não faço ideia de quem seja, mas este ato humanitário simplesmente me deu um novo horizonte, uma nova perspectiva de vida. E que este ato seja repetido infinitas vezes, não só pelo bem de quem precisa de uma córnea, mas para os que necessitam de outros órgãos, de medula óssea ou sangue.
Muito obrigado!
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2 ideias sobre “O NOVO OLHAR DO GRANDE NOVISKI

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