6:42Meus sapos

por Álvaro Borba

Até meados dos anos 90 havia muitos sapos na Vila Fanny (eu fui o último a deixar o bairro). Quando chovia forte, eles vinham para o asfalto e acabavam atropelados. Ficou queimada na minha retina a imagem das ruas do bairro na eleição de 1994: era uma imundice completa com santinhos e carcaças esmagadas, tudo espalhado pelo antipó de aparência lunar. Os sapos foram sumindo aos poucos quando canalizaram o córrego Henry Ford, apelidado de “Valetão” pelos locais. Para mim, a história da Vila Fanny resume bem a relação de Curitiba com seus rios. Em muitas vizinhanças, do Pilarzinho ao Boqueirão, os rios sempre foram chamados de valetões. A alcunha depreciativa abriu caminho para que as chamadas canalizações oficializassem os rios como esgotos. Na Vila Fanny dos anos 90, nós comemoramos isso equivocadamente. Ninguém sentirá falta dos sapos, é verdade, mas é a ausência deles que nos dá a certeza de que o córrego, agora revestido por concreto, está morto. Perdemos os sapos e a esperança de ter um rio saudável passando na porta de casa. Poderia ser uma paisagem idílica, mas é só periferia. Ficamos, enfim, na merda.

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3 ideias sobre “Meus sapos

  1. Wilson Bola

    aprendi a nadar no Valetão nos idos de 1968, época em que frequentava o cine são cristóvão nas matinês de domingo, na vila Lindoia (nunca mais ouvi falar na Lindoia).

    sei do que o álvaro está falando. o valetão, na época, já era uma merda, mas servia de piscina pra nós, na falta de coisa melhor.

  2. Pediu Fernandes

    Lamentavel, a falta de consciência. Países europeus controem trincheiras, túneis p esses animais, aqui, sem comentários ………..

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