9:45Racismo em alto mar

Da Assessoria de Comunicação  da Procuradoria da República no Estado do Paraná:

MPF e PF em Paranaguá apuram possíveis crimes de racismo, tortura e tentativa de homicídio contra estrangeiro
Camaronês que entrou clandestinamente em um navio teria sido agredido e lançado ao mar, permanecendo à deriva por 11 horas

O Ministério Público Federal (MPF) em Paranaguá e a Delegacia de Polícia Federal (DPF) estão apurando notícias de racismo, tortura e tentativa de homicídio que teriam ocorrido no mar territorial brasileiro. Um camaronês, que entrou clandestinamente em um navio de bandeira maltesa e tripulação turca no Porto de Douala (Camarões), informou em depoimento que foi agredido verbal e fisicamente, além de ter sido privado de sono e mantido em uma pequena cabine, antes de ser obrigado a sair do navio, em mar aberto. O homem permaneceu à deriva em um pallet (estrutura de madeira usada no transporte de cargas) por cerca de 11 horas, até ser resgatado por um navio que vinha do Chile. O fato teria ocorrido a aproximadamente 8 milhas náuticas da costa brasileira.
De acordo com seu depoimento, o cidadão camaronês permaneceu escondido por oito dias até que sua comida e água acabassem. Quando foi descoberto,  disse que levou chutes no peito e tapas no rosto, chegando a ficar desacordado. Em estado fragilizado, teria sido levado a uma cabine de 2x3m. Segundo ele, um dos agressores disse que “não gostava de preto” e que para ele “todos são animais”. Ao longo da viagem, o clandestino recebia duas refeições diárias e, à noite, alguns tripulantes batiam na porta e na janela para evitar que ele dormisse. Depois de 11 dias no navio, por volta das 19h, o camaronês recebeu uma lanterna e 150 euros da tripulação e foi obrigado a sair do navio.
Em um primeiro momento, a tripulação do navio negou que tivesse ocorrido qualquer episódio envolvendo um clandestino a bordo. No entanto, em buscas e apreensões realizadas a pedido do MPF e autorizadas pela Justiça, foram arrecadados vários elementos que indicam a presença do camaronês no navio, tais como a compatibilidade da descrição de detalhes do interior da embarcação e, ainda mais contundente, a localização e apreensão de uma fotografia que a vítima escondeu com objetivo de comprovar sua permanência no local.
Liberdade vigiada – Para dar continuidade às investigações, toda a tripulação do navio está proibida de deixar Paranaguá, sob a vigilância da agência marítima. Esta liberdade vigiada foi solicitada pela DPF, com parecer favorável do MPF.
O MPF vem acompanhando as investigações diretamente, afim de, diante da complexidade dos fatos, garantir plenamente os direitos constitucionais, tanto da suposta vítima, quanto da tripulação sob investigação. Assim que o Inquérito for concluído, o MPF verificará se oferece ou não denúncia contra a tripulação do navio.
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