7:51Urna eleitoral e barriga de grávida

Por Ivan Schmidt

Estão prontas as chapas das coligações e/ou partidos isolados para a eleição do novo prefeito de Curitiba, no próximo dia 7 de outubro. Vai ser assim no restante dos municípios brasileiros, nos quais os eleitores estarão escolhendo também os integrantes das câmaras municipais, embora muita gente não tenha a menor ideia sobre o que faz realmente um vereador.

Filosofia de botequim à parte, lembrem todos que a legislação eleitoral já permite a propaganda eleitoral dos candidatos ficando, porém, a propaganda veiculada em rádio e televisão (alguns diriam tratar-se de um martírio imposto à população), para os dois meses anteriores ao dia da eleição. Menos mal.

O prefeito Luciano Ducci, o ex-deputado federal Gustavo Fruet, o deputado federal Ratinho Jr e o ex-deputado estadual Rafael Greca de Macedo, cujas coligações não me atrevo a relacionar tal a farândola de siglas que a elas aderiu, aprestam-se à largada da campanha que, na verdade, somente trará impactos sobre a população quando os candidatos passaram a utilizar os meios eletrônicos. A legislação eleitoral é draconiana quanto às manifestações de rua, proibindo showmícios, outdoors, camisetas, bonés e inumeráveis formas de atrair eleitores, dentre as quais a mais usada em algumas regiões do país sempre foi a cesta básica.

Como não se tem nenhuma pesquisa atualizada, salvo aquelas que os próprios candidatos encomendam, mas não divulgam, sabia-se que o candidato do PDT-PT, Gustavo Fruet, ultrapassava com escassa margem o deputado federal Ratinho Jr, aparecendo em terceiro lugar o prefeito Luciano Ducci. Desde então, Ducci lançou mão de uma maciça divulgação de seus feitos, especialmente na televisão, visando despertar no imaginário dos curitibanos a imagem do trabalhador incansável merecedor de novo mandato. Ducci é o herdeiro presuntivo do capital de votos que sempre elegeu os candidatos batizados pela mística criada em torno do arquiteto Jaime Lerner, ele próprio prefeito por três vezes e responsável direto pela eleição de seus pupilos Rafael Greca, Cassio Taniguchi e Beto Richa.

Ducci é o herdeiro da hora porque ingressou nessa composição a bordo do PSB, um dos partidos historicamente atrelados ao bloco lernista, embora aspectos ideológicos jamais tivessem entrado em consideração. O que se vê hoje é uma contradição em termos absolutos, tendo em vista que o PSDB municipal dispensou a possibilidade de lançar candidato puro (talvez por não ter nenhum) e, mesmo tendo se rebaixado a uma posição direitista, não sente o menor pejo em apoiar um quadro filiado a um partido que se diz socialista.

A candidatura de Gustavo Fruet, por seu turno, polemizada por determinados setores da mídia blogueira pela inusitada parceria com o PT, que indicou como vice a advogada Mirian Gonçalves, parece ter superado os aparentes empecilhos criados muito mais pela imaginação fértil de escribas com acesso à corte, tendo em vista a série de dificuldades que o PT enfrentou para compor e, pior, ser alijado das composições tidas como favoritas em algumas capitais importantes do país. Foi assim em São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife, para não falar do Rio de Janeiro, onde o ex-presidente Lula já afirmou que irá para pedir “votos para aquele rapaz”, referindo-se ao prefeito Eduardo Paes, por sinal, um ex-tucano bastante aguerrido na tal CPI do Mensalão, cujo enredo será desenrolado perante o povo paralelamente às campanhas eleitorais. Aliás, o caso do Rio de Janeiro é o mais emblemático das agruras colhidas pelo PT por seu desmedido apego ao poder, transformada a célula fluminense em mero peso morto.

O que se deve ressaltar é o acerto e a conveniência da coligação PDT-PT na disputa pela prefeitura de Curitiba, em primeiro lugar, pelas evidências já comprovadas que Gustavo Fruet  tem seu cabedal de votos na camadas médias da população, não havendo nenhum obstáculo em sua capacidade de fazer-se entender também pelos moradores da periferia, conquistando preciosos votos. É exatamente nesse estrato populacional que Gustavo se defrontará com Ratinho Jr, obviamente um nome sem tanta penetração entre eleitores com instrução superior e rendimentos mais elevados. Mas, não é por isso que se pode menosprezar o poder de fogo do jovem político e, tampouco suas chances de aparecer com destaque na corrida eleitoral de outubro.

E Ducci, mesmo em terceiro lugar na pesquisa divulgada há alguns meses, teria alguma possibilidade de vitória. Claro! Afinal, está a cavaleiro duma frente que reúne o governo estadual e a prefeitura, essa, em particular, uma máquina eleitoral constantemente revisada e lubrificada para produzir catadupas de votos, como está suficientemente provado nas eleições curitibanas desde os anos 80.

O grande problema é decifrar, com antecedência, a charada proposta pela sabedoria mineira: cabeça de juiz, barriga de grávida e urna eleitoral, só abrindo para ver o que tem dentro… Se bem que no caso das grávidas já existe a ecografia.

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