18:30Para Vinicius Coelho

A morte de um filho é muito pior que a própria. A morte violenta e insana é como se jogassem fel na comida, ácido no ar e cravassem para sempre pontas de facas no coração. A mente é um martelo a bater de dentro para fora, todos os dias, horas, minutos e segundos. Vinicius Coelha carregava algo parecido a isso há cinco anos, desde que seu filho Bruno foi estupidamente assassinado por seguranças particulares numa noite trágica desta cidade. Hoje o Vinicius foi embora de uma forma estúpida, atropelado numa avenida moderna e se há algo depois do espelho ele deve estar respirando aliviado e descansado. Vinicius Coelho pode receber aquele título pomposo de decano da imprensa esportiva do Paraná porque até no porte, no gesto, no olhar, na maneira educada de falar, no texto, era educado. Semanas depois da tragédia telefonei para ele, coisa que só tinha feito antes por motivos profissionais, um, inclusive, para colocá-lo numa sinuca de bico, coisa que ele tirou de letra, porque sabia tudo das artes e manhas da vida. Estava “passado”, como se dizia nos antigamente, ou seja, no tempo dele e quase no meu – ele um senhor respeitável de 80 anos e eu, que sabe, com possibilidades de chegar lá. Depois encontrei-o no Jardim Ambiental, e foi difícil olhar aquele olhar distante. Vinicius era amigo de outro que já se foi, e eu admirava muito, o grande João de Pasquale. Este, atleticano, Vinicius sempre Coxa – eu juro que às vezes eu o enxergava verde e branco, ou vice-versa, porque ele andava pelos bastidores do estádio Couto Pereira como se tivesse nascido ali, visto todos os jogos, conversado com todos os jogadores, treinadores, massagistas, roupeiros, cartolas, torcedores, com a intimidade dos grandes amigos, os que se admiram, os que constroem uma história que é própria e que só deixam alguns sinais para os outros admirarem. Vinicius fazia isso nas suas colunas, ou seja, passava um pouco da sabedoria assimilada e sedimentada pela paixão ao futebol. Ele foi feliz e sofreu seguindo o rumo da bola. Ele foi feliz com a vida e depois sofreu demais com o destino do filho. Hoje nós choramos sua partida desta forma abrupta. Perdemos todos neste jogo.

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6 ideias sobre “Para Vinicius Coelho

  1. José Maria Correia

    Que tragédia, primeiro. filho assassinado brutalmente por marginais, agora o nosso querido Vinicius morre atropelado , estou sem palavras

  2. Maria Celeste Corrêa

    Bela homenagem, querido Zé Beto!!! Que notícia mais triste!!! Abraço caloroso a todos os amigos, familiares e admiradores deste competente jornalista que hoje partiu.

  3. olavo

    Curitiba fica devendo isso a Vinicius. Primeiro a intolerância, arrogância e despreparos de brucutus ao assassinarem seu filho que só queria ser o adolescente que era. Agora sendo atropelado por essa Linha Verde, manchada de vermelho pelos cidadãos que esse novo asfalto triturou.
    Muito, muito triste!

  4. romário

    Ironico é que ele perdeu seu último emprego após adiretoria coxa pedir sua cabeça na Tribuna.

  5. Jorjão

    Era amigo e gostava muito do Vinicius, que levamos, nos anos 80, à presidência da Abrace. Fica a sugestão: que pelo menos aquele trecho do Jardim Ambiental, onde ele vivia, receba seu nome e uma placa de agradecimento.

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