15:47A meta da Enasp e a investigação dos homicídios no Paraná

por Paulo Sergio Markowicz de Lima*

É momento de avaliar os resultados da Meta 2 da ENASP – Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública, que programou a conclusão de todos os inquéritos de homicídios, iniciados antes de 31 de dezembro de 2007. Quando se apurou o número de inquéritos da meta, em novembro de 2010, o Paraná foi o “patinho feio”, com 7.352 inquéritos sem conclusão e o primeiro lugar absoluto entre todos os estados. Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, posteriormente, apresentaram um número maior que o nosso, mas, o estrago na nossa reputação já estava feito.

Cabe esclarecer que toda morte violenta ou suspeita exige apuração em inquérito policial, mesmo quando a velhinha, que deixou um polpudo seguro e foi achada morta na sala de casa, faleceu por causas naturais e, portanto, o caso deve ser arquivado. O cadáver achado num matagal reclama uma investigação, bem como se o empresário, encontrado morto com um tiro no trabalho, matou-se ou alguém atirou nele.

Passado mais de um ano de execução da Meta 2, com esforço conjunto das polícias civil e científica, bem como das promotorias de Justiça, chegamos ao número de 5.642 inquéritos resolvidos no Paraná. Não atingimos a meta, portanto. Mas, 76,7% das investigações foram encerradas com o arquivamento ou início do processo criminal. Isso não é pouco, pois se havia 100 inquéritos em andamento numa delegacia, 76 deles deixaram de sobrecarregar a autoridade policial, que terá mais tempo para investigar melhor os homicídios. A diminuição de volume de tais inquéritos também repercutirá positivamente na qualidade do trabalho do Ministério Público.

Em Curitiba, o percentual de resolução dos inquéritos foi ainda mais expressivo (91,76%), pois se havia 1.700 inquéritos no início da meta, hoje há apenas 140, fruto de empenho do Grupo Honre, da Polícia Civil, chefiado pelo delegado Rubens Recalcatti e do promotor de Justiça Marcelo Balzer Correia, que atuava na promotoria especializada em homicídios.

E estes inquéritos não resolvidos, como ficam? Eles se somarão aos inquéritos iniciados até 31 de dezembro de 2008 e teremos uma nova meta da ENASP. Faremos de tudo para atingi-la e o esforço, sem dúvida, será muito válido, pois, na execução da Meta 2, conseguimos identificar onde falhamos. Chegou-se à conclusão de que é absolutamente vital uma integração entre os trabalhos da polícia civil, polícia militar, instituto de criminalística e médico legal, bem como da promotoria, sendo crucial que todos os agentes frequentem, rotineiramente, cursos de capacitação técnica. Viu-se que é preciso mais servidores trabalhando em todos os setores da investigação dos crimes contra a vida, principalmente nas polícias civil e científica. Apurou-se que o maior índice de mortes é relacionado ao tráfico de drogas, pelo que se exige maior rapidez do poder público na responsabilização do homicida, caso contrário, a lei do silêncio preponderará e aumentará sensivelmente o número de casos sem solução, em virtude do medo das testemunhas em depor sobre o crime.

A meta 2 pôs em evidência um conhecido vilão, o acúmulo de serviço. No entanto, não podemos deixar de cumprir nossa função a contento sob o pretexto do trabalho excessivo, pois se estamos emocionalmente sobrecarregados em razão disso, há pessoas com uma angústia imensa, ansiosas para saber quem matou seu filho, seu marido e porque fez isso. Ainda que o inquérito seja arquivado por não se identificar o autor da morte, só o fato de saber que as autoridades públicas fizeram o que era possível já é um alívio para os familiares das vítimas e encerra um capítulo triste na vida deles.

Se há falhas que tornam morosa a apuração do crime de homicídio no Paraná, a culpa, sem exceção, é de todos os agentes públicos incumbidos da tarefa e nos cabe a grave e urgente missão de sanar as deficiências detectadas.

Enfim, as metas da ENASP mexeram positivamente na apuração dos homicídios no Brasil todo, revelando-se como um sopro de ar fresco nas investigações emperradas.

*Promotor de Justiça do Centro de Apoio das Promotorias Criminais, do Júri e de Execuções Penais do Paraná e Gestor Estadual do MP-PR na ENASP.

Compartilhe

Uma ideia sobre “A meta da Enasp e a investigação dos homicídios no Paraná

  1. Caramba

    Parabéns ao doutor Paulo Lima, excelente promotor do Júri, responsável, inclusive, por desmontar a farsa da Gazeta do Povo, RPC e cia no caso do menino Evandro, de Guaratuba. O doutor Paulo conseguiu provar ao Júri e obteve a condenação de Beatriz Abagge, condenação esta já confirmada pelo TJ, como, aliás, pouquíssimo noticiado pela omissa e vendida imprensa local.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.