8:16A descoberta do poeta

Vi o poeta num bar de esquina onde também bebi. Vi o poeta do outro lado da mesa num jantar onde uma artista desmaiou – e não trocamos palavra. Vi o poeta na casa de madeira da Barreirinha e me vi no poeta. Porque tinha quintal, tinha área, tinha bagunça, tinha vida. Vi o texto do poeta que fui ali encomendar. Li o poeta relatando o amanhecer na cidade depois de uma grande conquista de futebol. O time não era o dele, mas a alma de poeta, sim. Não vi o corpo morto do poeta. Porque estava no mesmo caminho da morte. Sobrevivente e sem entorpecimento, comecei a ler o poeta. Então lamentei não conhecer o poeta. E fiquei feliz por descobrir o poeta.

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5 ideias sobre “A descoberta do poeta

  1. sb

    Belo, poeta Zé! A outro poeta que há mais 20 anos continua poeta inspirando seus admiradores, como fez você, Zé.

  2. gilson glück hamilko

    Itamar Assumpção escreveu:
    “Ei, Leminski!
    Sou eu, Beleléu.
    Não vou no enterro seu
    Porque você não vai no meu.
    Estamos quites.
    Adeus!”
    Assumpção estava certo. Morreu em 2003, aos 53 anos, e Lemisnki não estava lá.

  3. Célio Heitor Guimarães

    Bonito, Zé. Ainda bem que você reencontrou o caminho. E continua poeta, mais do que nunca.

  4. Ivan Schmidt

    Caríssimo Zebeto, que maravilhoso e tocante tributo ao Paulo Leminski, a quem entrevistei duas ou três vezes para a TV Iguaçu, à época do ranascimento da música popular em Curitiba…
    Mas, a última vez que vi o poeta jamais me sairá da lembrança… era um começo de manhã de domingo na praça Osório e ele estava sentado, solitário, no banquinho do ponto de táxis, ao lado do Stuart, decerto esperando o primeiro para subir à Cruz do Pilarzinho. Se jamais esqueci da cena, também não me perdoo por não ter oferecido uma carona ao bardo no meu intimorato Corcel II…

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