17:41Encontro no Passeio

por Sergio Brandão

Corro todas as quartas, sextas e domingos. Quartas e sextas, no Passeio Público. Ali tem um circuitinho bem próximo do que preciso.

Hoje, era dia de 12 km: 2km de aquecimento e 8 de tiros de 1 km  com intervalo de um minuto de descanso.  Faço isso há anos e conheço bem o trajeto e com o tempo fui fazendo as minhas marcas no circuito. Lá pelo lado do Colégio Estadual, fundos do Passeio, fecho 2 km desde a saída de casa. Para hoje, começaria a partir dali o treino propriamente dito.

Pelo portão maior, acesso da Mariano Torres, entra um cachorro de porte grande, pelagem preta, vindo em minha direção. Nos encontramos na pista, ele me cheira e passa a me acompanhar. Completamos uma volta juntos. Aproveitei o intervalo de um minuto para avaliar melhor o animal. Era uma fêmea, com olhos bem claros, com uma carinha bem simpática. Um bicho bonito que continuou ao meu lado, respeitando o meu minuto de descanso. Na segunda volta ainda me seguindo, passou a brincar com todos os bichos residentes do parque. Correu atrás das pombas, tentou interagir com as araras, papagaios, bebeu água do lago. As vezes dava umas estilingadas e se mantinha a uns 50, 30 mts na minha frente. Parava, me esperava e retomava a corrida ao meu lado, as vezes um pouco mais na frente ou atrás, mas sempre me acompanhando com os olhos quando não estava por perto.

Como era um cachorro grande, passou a assustar as pessoas. Uma senhora e um senhor me chamaram atenção.  O senhor tentou me dizer que aquilo não era permitido. Que eu deveria prender o cachorro a uma coleira. Acho que foi isso que ele tentou dizer. Como eu corria, não parei e por isso não ouvi direito. Uma senhora também não gostou daquele animal correndo solto pelo parque e brigou comigo.

Mais na frente, começamos a nos deparar com outra situação. Funcionários do Parque também me advertindo pelo mastodonte brincalhão, provavelmente avisados pelos senhores incomodados. No intervalo seguinte, com ele ainda ao meu lado, uma veterinária se aproxima e me pergunta se o cachorro era meu? Disse que não, e contei a ela o que tinha acontecido. Rimos ofereceu água ao bicho e um pedaço de pão. Fechando meu intervalo de um minuto segui meu treino. Quase 10 metros na frente percebo o bichinho novamente ao meu lado. O problema dele então não era água e nem comida. Francamente acho que queria mesmo alguém para brincar. Passamos a virar piada pelo parque, funcionários, pipoqueiros, turistas, crianças e as moças que trabalham na Carlos Cavalcanti passaram a se divertir com a gente. Olhavam para nós e riam, sempre comentado alguma coisa. A cada parada de descanso de um minuto, o bicho junto de mim me olhava aguardando nova largada. Passei a conversar com a cadelinha. Uma das vezes me agacho e ela se aproxima carinhosamente. Passo a mão e sua cabeça. Aquilo pareceu um tratado. O rabo balançou de felicidade mais do que nunca. Foram 8 vezes. Parou as oito. Conversamos algumas vezes. Lembrei que quando comecei a correr, em 2000, um amigo, o Carlos Mosquera, disse que adorava a corrida também pelos benefícios sociais dela.  Conversar, saudar as pessoas, fazer amigos. Hoje lembrei dele. Fiz um amigo diferente. Aliás, ela a cadelinha me fez seu amigo. Me adotou para brincar naquele momento. Terminando o treino dos 8 km, descanso dois minutos. Retomo a volta para casa em ritmo de trote. Ela me acompanha até o portão do passeio. Atravesso a rua e ela do portão parece se despedir. Não me acompanhou, mas se despede com cara de menina levada agradecendo a brincadeira.

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5 ideias sobre “Encontro no Passeio

  1. Parreiras Rodrigues

    Difícil encontrar pela aí, uma canção tão melodiosa e harmônica para a amizade.

    Ou será um poema, sem rima, como esses modernos, mas cheim de evocação.

    Semana que vem vou ao passeio só prá conhecer a musa.

  2. Cláudia Brandão

    Muito boa a sugestão do Antonio de Pauli….adoraria que o Sergio adotasse essa amiga peluda!!!

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