17:25Em minha praia tão pobrinha

por José Maria Correia*

Em minha praia tão pobrinha,
Bem branca azul e deserta
Ao pé da Serra Pratinha
Entre o mar e a montanha
Comigo havia se tanto
Um livro em algum canto

Poemas de Pablo Neruda
Versos de Sylvia Plath
Ilustrações de Albery
Outras obras que esqueci
Lá da feira de Paraty

Pra romper a solidão
Velhos discos de Cartola
Vinicius e Tom Jobim
Junto a antiga radiola

E para fazer companhia
Duas imensas luas
Vinham ao fim do dia
Com trajes de luz e nuas

Uma no espaço pairando
Brilhava branca esplendorosa,
Outra no oceano flutuando
Era azul e mais formosa

Uma era pura paixão
Outra , miragem ,ilusão
Mas as duas sobre a terra
Surgidas de trás da serra
Enlouqueciam o mar
Como as sereias a cantar

E era sob  a lua ao reverso,
Que em mergulho e submerso,
Eu no abismo silencioso
Descia a um estranho mundo,
Mais, vasto, misterioso,
E profundo

Ao voltar desse paraíso
Mais tarde ao entardecer,
Contemplava sem movimento,
As duas luas  a renascer

Depois a passo ainda lento
E em distraido caminho
Um cão como eu
Sem dono
E perdido no abandono
Tinha  apenas por vizinho

Lado a lado na jornada
Vento Sul na fachada
Cabelos em desalinho,
Ele os pelos do focinho
Cada pegada marcada
Na areia bem de mansinho.

Rastros leves que ao luar
O mar vinha logo apagar
Com ondas em redemoinho

Homem e cão  parceiros
Estranhos e forasteiros
De esquecido desatino

Onde iamos ?
Não sei…
E nem me animo.
Era um passeio à toa
Pra lembrar ao meu destino,
Que aqui um dia distante,
Também já fui um menino.

*Escrito em 2011 na praia de Matinhos (PR)

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