17:28Na canaleta

Cena curitibana. Na canaleta da avenida movimentada, quase em frente ao templo gigante da Igreja Universal, o cavalo que um dia foi lindo, pela cor (branco, malhado de pintas negras) se arrasta carregando uma carroça dupla. Trôpego, as costelas aparecendo, fiapos de músculos onde um dia, quem sabe, feixes poderosos, olhar perdido numa paisagem poluída de todas as formas. Recebe chibatadas para que se arraste mais rápido. Na outra ponta do chicote um senhor inchado, chapéu na cabeça, boca murcha, tem o olhar pregado na traseira de um Ligeirão vermelho, biarticulado, entupido de passageiros com olhares e rostos sombrios. Quatro da tarde de uma quarta-feira fria e de nuvens cinzas. Atrás do homem, entre pilhas de papelão, papel, latas, garrafas de plástico, tudo amarrado, um rosto de um rapaz jovem, mas com traços de ser portador de alguma deficiência mental. Um fio de baba escorre pelo canto esquerdo da boca. Ele ri. Talvez alguém que tenha reparado chore pelo detalhe na paisagem da cidade louca e pelo entorno. Nem Cristo salva.

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3 ideias sobre “Na canaleta

  1. zebeto

    obrigado, pelo elogio e pela audiência, grande junior. mas não se folgue muito, o superintendente e o dono do jornal desconfiam que foi você quem passou as informações depois de ter ido ao culto para matar o serviço. abraço. saúde.

  2. José Maria Correia

    Ola Xará, parabéns, já tomei muito chicote de carroceiro e vou continuar agindo assim sempre que encontrar alguma besta chicoteando um animal nobre como o cavalo ou qualquer outra criatura abcs JM

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