11:52Em memória de Rubens Marchand

por Raul Guilherme Urban

Verdade que a notícia remete à última sexta-feira, dia 4.  Mas, apesar do atraso a perda de Rubens Bartolomei Marchand ainda repercute nos meios esportivos e também sociais. Ao embarcar para a Eternidade, aos 83 anos, o espírita Rubens Marchand deixa como legado um largo espólio que nos remete, por exemplo, a 1953, ano do centenário da emancipação política do Paraná, quando Marchand, na companhia de Hugo Pilato Riva e Carlos de Almeida Assunção foram os “pais” dos então criados Jogos Colegiais do Paraná. Atleta e basqueteiro desde a juventude, Marchand, nascido em 1929 e formado em Educação Física pela UFPR, criou também o Departamento de Educação Física do Paraná. Presidiu por muitos anos a Federação Paranaense de Basquete,  fazendo do Paraná um dos expoentes do cestobol nacional. Vice-presidente do Coritiba, foi ainda dietor do Clube Curitibano e vice-presidente da Sociedade Thalia. Curitibano da gema, portador do Mérito Esportivo, concedido em 2000 pela Câmara Municipal de Curitiba, filho de Hercília e Leônidas Marchand, casado desde 1953 com Mariema Holzmann Marchand, deixou as filhas Mariuza, Myriam e Marise.

Conheci Rubens Marchand ainda no raiar dos anos 1970, quando a filha Myriam casou com meu cunhado, José Antonio Santa Ritta Rocha. Conheci um Rubens Marchand devotado ao esporte, participando ainda dos campoenatos de bolão, no Curitibano. Mas conheci a outra face de Rubens Marchand – o gourmand dedicado às panelas, e membro do antológico Clube dos Oito, que desde 1972 reunia  às segundas-feiras associados da Sociedade Thalia, onde os dotes culinários em exercitados, primeiro, pelos oito pioneiros, desde janeiro de 1970 – Wilson Teixeira de Lima, os já falecidos Guizardo Pilatti Júnior, Mauro Balhana, Leomar Rodrigues, Wilmar Sauner, além de dois outros componentes, Jouglas Laffite Cordeiro e Wilde Martini. O Clube dos Oito foi sempre o grande laboratório gastronômico, em que os tantos que por ele passaram nesses 40 anos provaram suas virtudes durante as degustações semanais apenasdo grupo, ou, uma vez por mês ou ocsiões especiais, diante de convidados ilustres de cada “chef”, ou  amigos próximos. Atendendo a convite de Rubens Marchand, até sua saída do grupo, por volta de 2009 / 2010, participei de inúmeros jantares. Coube-me a hora, em 1995, de elaborar um pequeno fascículo falando da trajetória do clube e seus membros, quando da passagem do 25º aniversário do grupo. Coube-me, em 2000, receber das mãos de Marchand as cem melhores receitas preparadas pelos cudas desde 1972 – trabalho coletado, pesquisado e escrito, mas não publicado, portanto, ainda inédito. A tarefa não se restingia apenas  à elaboração do prato, e, sim, o julgamento do mesmo pelo grupo, com os dados lançados em ata, semanalmente, registrando literalmente a história do Clube dos Oito. Marchand, por exemplo, no rol das 100 melhores receitas, de 1972 a 2000, preparou o frugal, mas delicioso, Arroz Tropeiro, Galinha à Moda Nortista, Paella à Valenciana, Cassoulet, Pombos Ensopados com Champignon e Risoto Nobre de Frutos do Mar.

Até 2007, quando o clube festejou seus 35 anos, pertenceram a ele, além dos nomes já citados, o adovogado Ary Walter Cinielo; o corretor Joaquim Theóphilo Gabriel; o contabilista Policarpo Coelho; o empresário Luiz Carlos Mansur;  o ferroviário, aposentado, Roque Trevisan; o empresário já falecido Cezar Augusto Szatkowski; o engenheiro florestal José Roberto Cuetro; o fotógrafo já falecido Veldy Gandó; o ex-mâitre da Thalia Oriel Roesner; o também ex-econômo do clube e falecido, Júlio Martins; Eolo Schwartz, também desaparecido e ex-presidente da Thalia; o médico Amyr Cassou; os empresários e Ismar Delagassa e Oswaldo Chaim; Samir Lobato; Gilson Moraes; o comerciário Ubiratan Martins; o professor Celro Bruno Riva (também ex-basqueteiro da turma de Marchand); o mâitre Manoel Martins; o empresário  Édison Nicolau e também Guido Freessato; o então proprietário de restaurante Elçias Mathias (o restaurante funcionou durante anos na rua Desembargador Westphalen (perto dapraça Rui Barbosa).

Lembrados todos esses nomes, Marchand sempre foi da opinião que a história do Clube dos Oito não deveria passar em branco. Existem os dados, que gentilmente me foram repassados pelo professor e amigo – basta a disposição para publicar o documento escrito na ocasião dos 30 anos do Clube dos Oito. Daí, nosso preito a quem soube soube dignidade esportiva, projetando Curitiba e Paraná no cenário nacional; daí porque o respeito por quem, nas horas de lazer, conviveu com personalidades múltiplas e demais pessoas com quem soube, literalmente, repartir o pão nos antológicos jantares do Clube do Oito. E o respeito, enfim, por quem soube trazer na bagagem a farta origem européia que passa, ainda no século XIX, pela Itália e a Frnça, até chegar à cidade mineira de Jacutinga e Curitiba, berço de seus pais. Um preito a quem soube dignar a família; a quem soube olhar Curitiba com carinho; a quem soube, enfim, dignificar um sobrenome que faz parte da história de uma cidade que não pode, nem deve, perder sua memória. Rubens Marchand nos deixou dia 4 de maio, e foi sepultado no dia seguinte, no Cemitério Municipal.
*Raul Guilherme Urban é jornalista e pesquisador da memória histórica urbana

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10 ideias sobre “Em memória de Rubens Marchand

  1. Raul Urban

    Apenas um pequeno lembrete no segmento da memória histórica urbana: no próximo dia 20, o calçadão da rua XV completa 40 gloriosos anos de implntação. Atento à data, e “fazedor” do boletim da Casa da Memória publicado em julho de 1972, com o título “Calçadão – 20 Anos Depois”, penso que a iniciativa, então pioneira, da instalação do primeiro calçadão para ped3estres do país, merece rápido registro.

  2. Paulo Bonilauri

    Caro Zé Beto, obrigado por publicar feitos do GRANDE RUBENS MARCHAND, pois de fato ele foi uma pessoa especial, visto ser diferente do comum, integro, trabalhador, inteligente e principalmente amigo dos amigos e já na sua época um “ADVANCED”, estava sempre na frente do seu mundo, com iniciativas e criações, inumeras delas ligadas ao esporte, deixando um legado, onde hoje os Paranaenses e Curitbanos podem se apoiar e ter guarida, tanto profissionais do nosos desporto Parananese, como foi o DEFE e os nossos Altetas, tem os Jogos Colegiais do Paraná, só isso já seria muito, mas ele fez e participou de tantas outras coisas como vc bem lembrou, que tem que el próprio tem que ser lembrado e enaltecido, pos toda essa iniciativa e competencia que demonstrou em vida. Meu agradecimento a vc é como um amigo que o admirava e como um Ex genro, que nunca foi tratado por ele como Ex e sim sempre com dignidade e carinho e que ele dizia que mesmo eu estando separado da filha dele eu nunca deixaria de ser o seu seu genro. E eu ainda crescento, sempre fui tratado como filho… que Deus o tenha… Paulo Bonilauri

  3. José Maria Correia

    Cumprimento o Raul pelo artigo, também fui amigo do Marchand , o esporte amador deve muito a ele , deixará saudades pela amizade e alegria de viver , sentimentos a toda família.

  4. João Carlos Amodio

    O extraordinário esportista, Rubens Bartolomei Marchand, desde muito cedo, com cinco anos de idade, iniciou seus contatos com o mundo da bola. Seu pai, pessoa de destaque no futebol, o levava aos locais de competições da época. Sempre ao Campo do Palestra Itália, no bairro do Juvevê, clube de grandes jogadores como: Hermógenes (goleiro e seu tio), Cunha, Corteze e outros.
    Em 1939, seu pai foi transferido, como dirigente, para o Coritiba Football Club. E este foi o clube que abriu os olhos de Rubens definitivamente para o mundo do esporte, pois lá independente do futebol, existiam os esportes considerados olímpicos, como o atletismo, basquetebol, ciclismo e outros.
    Em 1944, com 16 anos de idade, ingressou na equipe juvenil de futebol e no ano seguinte na equipe de amadores. Ainda no ano de 1944, quando cursava a 4® série ginasial, no Colégio Novo Ateneu, passou a praticar o basquetebol.
    Em 1946 a 1947, foi à época de grande atividade esportiva, estava cursando o científico, ainda no Colégio Novo Ateneu e foi campeão do Salto em Altura na olimpíada colegial de 1947.
    No ano de 1948, a equipe de basquetebol do Colégio Novo Ateneu passou a disputar, com duas equipes, o Campeonato da Cidade de Curitiba. No ano seguinte uma das equipes sagrava-se Campeã da cidade e Rubens cestinha do certame. Foram campeões pela categoria de aspirantes.
    Em 1950, a equipe do Colégio passou a defender a camisa do Coritiba, nos certames da cidade e no ano seguinte esta mesma equipe se transferiu para o Clube Curitibano que fazia a sua estréia no certame. Foram campeões pela categoria de aspirantes.
    Neste mesmo ano, nascia a Federação Paranaense de Basketball.
    Em 1952, já na equipe principal do Clube Curitibano, conquistou o Título de Campeão da Cidade.
    Em 1953, ingressou na Escola de Educação Física e Desporto do Paraná.
    Em 1955, recebeu o Diploma e foi contratado como professor de Educação Física pelo Colégio Estadual de Santo Antônio da Platina. Nesta cidade, com alguns fãs do basquetebol, fundaram uma equipe chamada “Cestobol Texas Club”, onde nos fins de semana jogavam com outros municípios vizinhos do Paraná e São Paulo.
    Em 1957, regressou para Curitiba e foi contratado como professor pelo Colégio Iguaçu e Colégio Novo Ateneu.
    Neste mesmo ano, passou a ocupar o cargo de Diretor Secretário da Federação Paranaense de Basketball (Gestão Dinarte Pinto – 1957-1959).
    Em 1959, inicia-se a gestão do Capitão Ayrton Pombo e permaneceu no cargo até 1963.
    Em 1961, foi designado Diretor Geral de Esporte da Sociedade Thalia e foi convidado a dar aulas de Educação Física no Centro de Formação para Menores do Campo Comprido. No ano seguinte foi nomeado diretor da referida escola.
    No período de 1961 a 1963, fez parte do quadro de árbitros da Confederação Brasileira de Basketball, na categoria nacional.
    Nos anos 1963 e 1964, colaborou na gestão do presidente da FPB, Professor Hugo Riva. como Diretor Secretário e em 14 de junho de 1964, foi eleito Presidente da FPB, permanecendo no cargo até 24 de março de 1969.
    Em julho de 1964, foi convidado a participar da equipe de assessores do 1ð Vice-Governador, Dr. Afonso A. Camargo Neto.
    Em fevereiro de 1966, foi nomeado Diretor do Departamento de Serviço Social da Secretaria do Trabalho e da Assistência Social. Em agosto do mesmo ano, foi designado Diretor do Departamento de Material da SEC.
    De 1968 a 1973, foi Diretor do Departamento de Educação Física do SEC. Neste mesmo período exerceu por dois anos a função de Presidente do Conselho Regional de Desportos.
    Em 1975 a 1978 permaneceu como membro do CRD até sua aposentadoria em março de 1978.
    Nos anos 1979 e 1980, exerceu o cargo de Diretor Social do Clube Curitibano.
    Em 1981 e 1982, foi Diretor da CIB (Comissão Interna do Bolão C.C.).
    Após sua aposentadoria, exerceu funções administrativas e financeiras em várias empresas em São Paulo.
    Ao retornar para Curitiba em 1992, foi convidado a integrar a equipe do Professor Fernando Cruz Sanches, que se candidatava a presidente da FPB. Foram eleitos em 1993. Em abril de 2000 assumiu como Presidente da FPB.

  5. Luiz Fernando Bartolomei Fink

    Pensei que o falecimento de meu quase irmão, Rubens, fosse passar desapercebido em Curitiba. Enfim o tempo passa e esquecem-se os homens.
    Alegro-me bastante ao ler sua crônica. Sou primo do Rubens, amigo fraterno na meninice e na juventude, moro em São Paulo desde 1952 e dede então nunca perdemos contacto. Infelizmente não pude ir para Curitiba, por estar adoentado. Mas aqui fiquei sofrendo a dor que sua morte me causou.
    Muito obrigado.
    Luiz Fernando B. Fink

  6. João Carlos Amodio

    Homenagem publicada na Gazeta do Povo de 13/05/12.
    Desde jovem, Rubens sempre esteve envolvido com os clubes esportivos de Curitiba. Formado em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná, dedicou-se ao esporte, principalmente ao basquete. Acumulou o trabalho no Departamento de Educação Física do Estado, que implantou; a criação, juntamente com Hugo Piva e Carlos de Almeida Assunção, dos Jogos Colegiais do Paraná; a presidência da Federação Paranaense de Basquete; a vice-presidência do Coritiba Futebol Clube – time do seu coração, como lembra a esposa Mariema. Foi diretor do Clube Curitibano; diretor e vice-presidente da Sociedade Thalia de Curitiba, onde participou, desde 1972, do Clube dos 8, tradicional grupo de gourmets da capital. Ele e Mariema costumavam se reunir com outros casais no grupo Donos da Bola, no Thalia, para jogar bolão. “Rubens era um ótimo bailarino e cantor. Éramos muitos festeiros”, lembra Mariema. Bom orador e dono de uma capacidade de organização ímpar, Rubens era normalmente convidado como mestre de cerimônias dos eventos em que estava envolvido nos clubes. Deixa a viúva, três filhas, sete netos e cinco bisnetos.

  7. Mario Ruas da Fonseca

    Estou profundamente sensibilizado, ao tomar conhecimento da passagem do Professor Rubens Marchand. Pensando em escrever minha auto biografia e pesquisando na internet e graças a este site, pude saber notícias daquele que, para mim foi um pai. Com sua imensa generosidade, empatia e um extraordinário talendo em visualizar o potencial humano, ele me encaminhou para a lotopar, meu primeiro e temporário emprego e depois para a Secretaria de Educação, na rua Ébano Pereira. Não tenho como agradecer por isso tudo. A VIDA, de um ser humano tem preço? Devo ao professor Rubens Marchand. Deus guardou para ele, um lugar no camarote da espiritualidade. Hoje moro no Rio de Janeiro. Estou aposentado pela Light. Curiosamente também tenha três filhas. Obrigado Zebeto pela oportinidade.

  8. Mario Ruas da Fonseca

    ET.: Faltou dizer que, conheci o professor Rubens no Centro de Formação Profissional de Menores de Campo Comprido, quando aquilo era uma Febem e o professor Marchand o regenerou. Mais uma inestimável realização do grande Mestre.

  9. Willes

    Seria interessante destacar a atuação do Senhor Rubens Marchand no centro de formação profissional de Campo Comprido. Há muitas lacunas a serem preenchidas em sua história.

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