11:11Paulo Bernardo: ‘dizer que teve corrupção para fazer mensalão é conversa fiada, não há prova’

Do blog do jornalista Josias de Souza na Folha.com:

Paulo Bernardo, o ministro petista das Comunicações, vive uma situação paradoxal. Contesta a existência do mensalão. Mas apoia em Curitiba a candidatura a prefeito do ex-deputado tucano Gustavo Fruet, que ajudou a recolher na CPI dos Correios as evidências que deram materialidade ao descalabro.

Em entrevista ao repórter Karlos Kohlbach, Bernardo contou detalhes de conversa que teve com Lula em maio do ano passado. Estava acompanhado da mulher, a também ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil). O casal informou ao ex-soberano que pendia para o apoio a Fruet, hoje filiado ao PDT. Lula levou o pé atrás.

“Eu e a Gleisi conversamos e ele ponderou justamente isso: que iam ficar pegando no pé dizendo que ele [Fruet] falou mal do PT no caso do mensalão.” Antes de bater o martelo, Bernardo voltou a Lula. Encontrou-o no hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Dessa vez, ouviu palavras de estímulo.

“Falei que nós estávamos perto de decidir. E ele disse que achava bom, importante, e que depois queria conversar com o Fruet, marcar uma reunião. Eu já falei com o Fruet para marcar uma ida até lá, para pedir para Lula vir aqui [em Curitiba, para participar da campanha eleitoral]. A agenda do Lula vai ser concorrida, mas Curitiba é uma cidade importante.”

Perguntou-se a Bernardo se compartilha da tese segundo a qual o mensalão é uma farsa, mera ficção da imprensa. E o ministro: “O que o julgamento do Supremo vai poder avaliar é de onde saiu o dinheiro do mensalão. Porque do poder público não foi. Até agora ninguém conseguiu apontar fonte de recurso público, ou se foi fruto de corrupção.”

Bernardo ignora –ou finge ignorar— que a Polícia Federal logrou demonstrar que há, sim, verbas públicas nas arcas do mensalão. Valendo-se dos dados colecionados pela PF, Antonio Fernando de Sousa, um procurador-geral da República indicado por Lula, denunciou ao STF a “quadrilha”. Individualizou as culpas. E atribuiu a José Dirceu, então chefe da Casa Civil, o comando do bando.

“O que o PT alega é que tinha necessidade de recurso para campanha e que se obtiveram empréstimos nos bancos”, acrescentou Bernardo. “A oposição diz que não é verdade, mas ela pode saber porque foi a oposição que começou esse negócio de mensalão. O próprio Gustavo Fruet falou que, no governo do Eduardo Azeredo [ex-governador tucano de Minas] se contratavam as mesmas empresas.”

Nesse ponto, Bernardo repisa o lero-lero dos empréstimos bancários que o PT alega ter contraído na época em que era presidido por José Genoino. Transações que a PF, sob supervisão do Ministério Público Federal, demonstrou que não passaram de fachada. Coisa urdida para dar aparência limpa às verbas sujas que Marcos Valério coletou e que o ex-tesoureiro Delúbio Soares chamou de “não cotabilizadas.”

Bernardo cita Eduardo Azeredo. É fato que, noutra investigação, a PF e a Procuradodoria descobriram que, na malograda campanha à reeleição para o governo de Minas, o tucano serviu-se de esquema análogo. Envolvia o mesmo Marcos Valério e suas empresas de publicidade. Os achados resultaram em denúncia ao STF. Ex-senador, hoje deputado federal, Azeredo tornou-se réu no STF. O diabo é que, para desassossego do ministro, a sujeira tucana não limpa o prontuário dos 38 réus do mensalão petista.

Bernardo prossegue: “Uma coisa é o julgamento político, outra é o jurídico. A imprensa fez um coro culpando as pessoas que estão sendo acusadas, mas na hora do julgamento tem que ter prova. O que eu acho é que tem um certo açodamento das pessoas quererem ficar pressionando o Supremo a votar logo e votar contra. Acho que os ministros vão ter serenidade de votar e acho que vamos ter um esclarecimento melhor disso. Agora dizer que teve corrupção para fazer mensalão, não teve. Isso é conversa fiada. Nunca foi provado, faz sete anos.”

Aqui, o ministro atribui à imprensa a autoria da “conversa fiada”. De fato, os repórteres tiveram participação decisiva na elucidação da encrenca. Porém, Bernardo esquerce –ou finge esquecer— que jornais e revistas não têm poder de polícia. Tampouco dispõem de poderes para formular denúncias aos tribunais. Quem investigou foi a PF do PT. Quem denunciou foi o procurador-geral indicado e reconduzido ao cargo por Lula.

Sob Dilma Rousseff, Roberto Gurgel, o procurador-geral que sucedeu Antonio Fernando de Sousa, foi instado pelo Supremo a reavaliar a denúncia original. Ele não só confirmou as conclusões do antecessor como adicionou novas evidências. Ficou ainda mais clara a atuação da quadrilha, a existência de delitos que vão muito além do caixa dois, o uso de verbas públicas e a tipificação dos crimes –de corrupção ativa e passiva a formação de quadrilha.

Bernardo foi convidado também a comentar o Cachoeiragate. Quanto a esse novo escândalo, embora ainda se encontre na fase de inquérito, estágio que precede a denúncia, o ministro expressou-se como se não tivesse dúvidas: “É um conjunto de fatos lamentáveis.”

Mirou o personagem mais vistoso da oposição: “Eu vejo, por exemplo, o senador Demóstenes [Torres, ex-DEM], que sempre foi um adversário nosso. Eu nunca ia imaginar uma coisa dessas. Ele era o porta-voz da moralidade, relator da Ficha Limpa. Tudo isso é muito chocante e até desestimulante.”

Bernardo como que condenou antecipadamente a empreiteira pilhada nos grampos da PF: “Eu acho que os fatos divulgados até agora mostram que tem coisa muito errada com essa empresa Delta [Construções]. Pelo jeitão da coisa – e eu não estou falando como governo –esse Cachoeira era sócio mesmo, colocava dinheiro na empresa.”

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5 ideias sobre “Paulo Bernardo: ‘dizer que teve corrupção para fazer mensalão é conversa fiada, não há prova’

  1. Fernando Gomes

    Para desatar esse nó – do PT apoiar Fruet – só fazendo o que foi combinado. Fruet primeiro finge que o escândalo da Câmara de Curitiba é maior que o mensalão. Depois conclui que o mensalão nunca existiu. Finalmente, vai até Lula pedir perdão pelo engano.

  2. ivanowski

    . Como pode … perderam a vergonha MESMO. QUE DESFAÇATEZ dessa “tchurma do PT”.

    . Dizer que Ñ HOUVE CORRUPÇÃ pra fazer o Mensalão ???

    . Onde estamos …

    . Nos poupe MINISTRO. Vcs pensam que todos são idiotas. Parerm com isso …

  3. jose

    ZB, só pre refrescar a memória, segue o que disse o Excelentíssimo Sr. Procurador Geral da República, ANTÔNIO FERNANDO DE SOUZA em sua peça de acusação:

    “2. QUADRILHA
    22. As provas colhidas no curso da instrução, aliadas a todo o acervo que fundamentou a denúncia, comprovou a existência de uma quadrilha, composta pelos réus José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno, Sílvio PereiraB, Marcos Valério, Rogério Tolentino, Cristiano Paz, Ramon Hollerbach, Simone Vasconcelos, Geiza Dias, José Augusto Dumond (já falecido), Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Ayanna Tenório e Vinícius Samarane, constituída pela associação estável e permanente dos seus integrantes, com a finalidade da prática de crimes contra o sistema financeiro, contra a administração pública, contra a fé pública e lavagem de dinheiro.

    23. O grupo agiu ininterruptamente no período entre janeiro de 2003 e junho de 200510 e era dividido em núcleos específicos, cada um colaborando com o todo criminoso em busca de uma forma individualizada de contraprestação.

    24 . O primeiro núcleo, identificado na denúncia como o núcleo político, era composto pelo ex Ministro José Dirceu, o ex tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, o ex Secretário-Geral do Partido dos Trabalhadores, Sílvio Pereira, e o ex Presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoíno.

    25. Como dirigentes máximos do Partido dos Trabalhadores, tanto do ponto de vista formal quanto material, os réus estabeleceram um engenhoso esquema de desvio de recursos de órgãos públicos e de empresas estatais, e de concessões de beneficios diretos ou indiretos a particulares em troca de ajuda financeira. O objetivo era negociar apoio político ao governo no Congresso Nacional, pagar dívidas pretéritas, custear gastos de campanha e outras despesas do PT.

    26. Na condição de núcleo principal da quadrilha, os acusados, sob a liderança de José Dirceu, imprimiram as diretrizes de atuação dos demais envolvidos, que agiam sempre com vistas a alcançar os objetivos a que visavam o núcleo principal.

    27. O segundo núcleo, identificado corno núcleo operacional, era integrado por Marcos Valério, Rogério Tolentino, Cristiano Paz, Ramon Hollerbach, Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Coube-lhes, no contexto de atuação do grupo, oferecer a estrutura empresarial necessária à obtenção dos recursos que seriam aplicados na compra do apoio parlamentar.

    28. O terceiro núcleo, chamado de núcleo financeiro, era integrado por José Augusto Dumond (já falecido), Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Ayanna Tenório e Vinicius Samarane, principais dirigentes dos Banco Rural à época. Visando à obtenção de vantagens indevidas, consistentes no atendimento dos interesses patrimoniais da instituição financeira que dirigiam, proporcionaram aos outros dois núcleos o aporte de recursos que viabilizou a prática dos diversos crimes objeto da acusação, obtidos mediante empréstimos simulados, além de viabilizarem os mecanismos de lavagem que permitiu o repasse dos valores aos destinatários finais.

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