18:11Francis e Capote

… Sentimos, lendo A sangue-frio, que é assim que a vida nos parece realmente. Pomos de lado tudo que filósofos, psicólogos e outros cientistas nos enfiaram na cabeça, nossos hábitos culturais, determinados pelo contexto intelectual de nossa época, e voltamos à simplicidade da criança que vê e sente e tatilmente apreende o que é possível da realidade. Pensam que é simples? É o que o chamado Roman Nouveau francês tentou fazer e caiu em fórmulas cartesianas de simetria, cuja artificialidade tem em nós efeito negativo.

O livro nos dá um convívio com a realidade do dia a dia, sem nunca editorializar. Cpote mostra o que é possível mostrar. O efeito cumulativo é de uma realidade sobre a qual não temos muito controle, em que todas as teorias e filosofias parecem, por comparação, simplificações banais. É a vida como ela é, sinto a tentatação de escrever. É, em verdade, o máximo que podemos aspirar como escritores.

Trecho do artigo “Truman Capote: criador do romance moderno da literatura americana”, escrito por Paulo Francis para a Folha de São Paulo, agora republicado no livro “Diário da Corte – Crônicas do maior polemista da imprensa brasileira”

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