10:02Quem são os britânicos

por Ivan Lessa*

O mundo se divide em dois tipos de pessoas: aquelas que dividem o mundo em dois tipos de pessoas e aquelas que não dividem o mundo em dois tipos de pessoas.

As pessoas que dividem o mundo em dois tipos de pessoas dividem-se em dois outros tipos de pessoas: as pessoas que não gostam dos outros tipos de pessoas e as que gostam dos outros tipos de pessoas.

Enquanto nossa mente se engaja nesse tipo de firula semântica, os britânicos se dividem em mais uma outra categoria: aqueles que pesquisam e aqueles que são pesquisados.

A pesquisa é o grande esteio da mídia do país. A pesquisa é quem governa os rumos da nação e os destinos de seus cidadãos. Uma pesquisa garante que elas, as pesquisas, são mais populares que o futebol e a cerveja morna entre as camadas populares da Grã-Bretanha.

Tendo em vista isso, acompanho as pesquisas, sempre destacadas com grande alarde pela imprensa, como quem segue este ou aquele outro time de futebol ou segue também mulheres de corpo e rosto que lembrem estrelas da música pop com um só nome, conforme prática dos dias atuais: Adele, Rihanna, Shakira, Beyoncé e outros tipos exóticos.

Aqui estão diante de mim os resultados encontrados por uma pesquisa recente relativa à vida online – cada vez mais on e line do que qualquer outra modalidade – dos tipos informatizados desta terra, ou seja, quase todo mundo:

Vejamos:

1 em cada 3 pessoas exagera ou mente quando se comunicando online com outra e diz ter conhecido fulano ou sicrana (Rihanna?). 1 em cada 3 pessoas tem mais amigos online do que, mal traduzindo, “fora da linha”, ou, para nos aproximarmos do linguajar cibernético, “na vida real”, como esse propalado “tempo real”, que é, sabem os mais vivos, puro pastel de ar. 1 em cada 3 pessoas passa mais tempo fazendo amigos nas redes sociais do que nos bares, praças, veículos de transporte ou vielas escuras. 1 em cada 3 pessoas prefere uma “amizade” feita em rede social do que em bar, praça etc. 1 em cada 4 pessoas (por que a súbita mudança no número de personagens?) diz sentir-se mais à vontade online do que off-line ou mesmo off-side, caso pratiquem o velho e afobado esporte bretão. 1 em cada 4 pessoas admite sentir-se solitária (custou, mas confessou, hein?). 1 em cada 5 pessoas prefere o contato online do que face a face ou por telefone, o que não chega a ser muita novidade em vista das pesquisas já pesquisadas. 1 em cada 10 cidadãos britânicos admite que suas relações online são o máximo e interessantíssimas, Duas mil pessoas participaram da pesquisa. A grande maioria das gentes teve de esperar por outra pesquisa que só queria saber do tipo de desodorante por elas usado.

Ficou também claro para os pesquisadores que todo mundo mente quando online numa rede de comunicação social como o Facebook ou o Badoo (o nome lembra um elefante das HQ de Tarzã).

Todo mundo mente sobre onde esteve, o que fez, com quem se dá e o que faz na vida. Alguns pesquisadores afirmam que o mesmo se dá na vida social offline nos pubs e restaurantes: o mundo mente, não importa o progresso tecnológico. Mas esta escola dissidente foi voto vencido na hora da publicação dos resultados.

Finalmente, encerrando seus trabalhos, o batalhão de pesquisadores concluiu que 75% (cadê as pessoas 1, 3, 4 e 5?) dos frequentadores das chamadas redes sociais prefere o contato cibernético a qualquer outro tipo ou variação, sendo que a ele dedicam mais do que a metade de sua vida supostamente ativa e afetiva também.

Por quê? Ah, isso é outra pesquisa que deve ser divulgada antes do fim de maio.

*Colunista da BBC Brasil

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