18:13HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Gêmeos

Na esquina, sob o sol inclemente, ela estava lá. O olhar numa existência passada. Não tinha mais o corpo com a cintura de pilão como na música. Os filhos sumiram. A maquiagem que mais parece reboco tenta disfarçar as rugas. O perfume é forte. As mãos seguram a bolsa comprada num brechó vagabundo. A bolsa disfarça a barriga proeminente. A roupa não é mais justa. Afugentaria possíveis clientes. Os carros passam e não há olhares em sua direção. Apenas, de vez em quando, crianças. Aí o dela brilha. Um quintal com flores se abre e o abraço da mãe sentada na cadeira de palha na área invade. Alguém chega e pergunta quanto. Ela diz. O velho vai embora contando as moedas dentro do bolso. Então ele chega. E fica ao seu lado. Sem falar nada. Ela não liga. Há louco para tudo. Então ele começa a cortar a negociação com os outros clientes. Ela não reclama porque ele paga o que ela receberia depois do sexo naquele hotel vagabundo da avenida poluída. Tem um maço de dinheiro. Ela torce para que mais possíveis clientes se aproximem. Mas não são muitos. Mesmo assim, nunca ganhou um dinheiro tão fácil. A noite desce o manto. Ela olha para ele. Agradece. Ele nem responde. Vira-se e caminha sem rumo para ser engolido pela cidade.

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