Chico Anysio não morreu, como anunciaram os jornais há pouco (ler abaixo). Ele apenas se espalhou pela alma de todos os brasileiros. Foi uma viagem de retorno, e nós os acolhemos com carinho no coração, para nunca mais esquecer, como forma de agradecimento por ter nos dado tanta alegria nos mostrando em seus personagens. Chico Anysio é um gênio brasileiro que soube olhar para seus conterrâneos, de Maranguape ao Rio de Janeiro, e tudo em volta, para escrever e interpretar, como um camaleão único, nesta geléia geral, a sua história como o maior comediante do país, e a nossa história como um povo sofrido, estropiado, vilipendiado pelos Justos Veríssimos de sempre, mas prontos para a gargalhada da piada que, se perdêssemos, seria o fim sem o começo. Chico Anysio lutou muito contra a morte porque ele era muitos, ele era todos, ele era os brasileiros e, com certeza, sabia que nós gostaríamos muito de pelo menos olhar na tela e sentir a força daquele olhar que parecia sempre embaçado, mas que enxergava com uma nitidez que só o privilegiados pelo dom de Deus enxergam. Amou como nunca, fez oito filhos, alguns comediantes como ele. Fora dos personagens, dentro de casa, no convívio social, era ranzinza e dificilmente sorria. Porque brasileiro, porque um sofredor como todos nós, porque também não decifrou o mistério do nascer e morrer. Então seu talento fez o jogo. De ele ser nós. E nós sermos ele. Por isso este Chico Anysio continua. Duzentos milhões de brasileiros não morrem de uma vez. E os que se foram e o conheceram, os que virão e vão rir nos registros em vídeo e em livros, todos enfim o manterão vivo. Porque é preciso rir para não ser tragado pela angústia.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/853026-humorista-chico-anysio-morre-aos-80-anos-no-rio.shtml