… Mas, à medida que o trem se afasta, uma mulher surge na porta dos fundos de uma das casas – apenas a silhueta de uma mulher, pois não se podia ver o rosto -, vinha com uma panela nas mãos, espalhando a água da panela para fazer um repentino esguicho prateado na luz. E volta para dentro de casa. Para o que está na casa. O assoalho da casa é fino contra o chão nu e as paredes e o teto eram finos contra tudo que havia do lado de fora, mas não era possível ver através das paredes o segredo para dentro do qual a mulher havia voltado.

O trem avança, mais rápido agora, e a mulher está lá atrás, na casa, onde vai ficar. Ela vai ficar lá. E, de repente, você acha que é o único que está fugindo e que era melhor fugir rápido para onde quer que fosse porque logo iria escurecer. O trem está indo bem rápido agora, mas o esforço dele parece querer vencer uma teimosa resistência do ar, como uma enguia que tentar nadar no melado, ou então o esforço parece ser contra o crescente e implacável magnetismo da terra. Parecia que se a terra estremecesse uma vez, como estremece o couro de um cão que dorme, o trem seria arremessado e se empilharia e o motor vomitaria e arquejaria enquanto em algum lugar uma roda enviesada giraria uma vez com uma sólida e sonhadora reflexão.

Mas nada acontece, e você se lembra que a mulher nem mesmo olhou para o trem. Você a esquece e o trem segue rápido, e está indo rápido quando cruza o pequeno cavalete. Você pega o sóbrio, metálico, puro, desembaraçado brilho da água entre os pequenos bancos, sob o céu, e vê a vaca parada na água rio acima, perto do único salgueiro inclinado. E, de repente, sente vontade de chorar. Mas o trem está indo rápido, e quase imediatamente o que quer que você esteja sentindo é levado também embora.

de Robert Penn Warren em Todos os Homens do Rei