Pode chorar, minha amiga, que nós choramos juntos. Suas lágrimas são de uma fonte rara, pura, cristalina. Vertem do sentimento de um ser que materializa aquilo que lemos na versão luminosa sobre os santos. Chore porque sabemos o que é isso, nós os sem pai, os sem mãe que partiram no meio desta caminhada. Morrer é a mesma coisa de antes de nascer, alguém um dia pensou e escreveu. Mas há o viver, o descobrir, a experiência diária que nos revela, às vezes tarde demais, às vezes cedo, todas às vezes no nosso tempo, a importância do que nos é passado, para que a gente aprenda a repassar. Isso que temos e que, provavelmente, aprendemos quando ficamos ali dentro durante os meses de fecundação, no silêncio da alma, ganhando resistência para o enfrentamento de todas as emoções dos encontros lá fora. Choramos porque, na verdade, sempre estivemos na proteção, mesmo na mais longínqua distância. Você, amiga, é ela – e ela se orgulhou de te ter e ver o quanto você foi ela com seus filhos, netos dela, e netos, bisnetos dela. Chore sim, porque nós choramos junto com você também por aprender o que em você é natural, sua bondade explícita. Choramos juntos com você, por ela, pelos nossos, porque sabemos que eles não nos deixaram. Suas lágrimas, nossas lágrimas, nos acompanham no leito do rio que segue e indica o rumo no traçado de nossas vidas. Rio que nos acalma nos momentos em que nos achamos perdidos. Rio que nos ilumina nos momentos de felicidade, que nada mais são do que os de normalidade, simplicidade. Chore, sim, amiga Duca, porque sua Tallita partiu, mas ficou alegre por ser você. Como os nossos que se foram e ficaram dentro. É isso o que nos segura no mistério da vida.
Você e Duquinha me despertam uma saudades doída que sinto agora de meu pai. De doer o peito e marejar os olhos. Saudades do seu humor ácido, implacável com tudo. Apenas os mais próximos eram perdoados. Ele era de uma passionalidade impressionante. Tudo que os seus faziam tinham uma justificativa. Até disso também tenho saudades, dos seus defeitos. Mas antes dos defeitos estão as suas qualidades. Na verdade meu pai faz falta por tudo. Não sei exatamente como é, mas se a gente já nasce sentindo amor, nele vi durante os anos de convivência um amor incondicional, que parecia ter nascido com ele, recíproco ou não. Apenas a afinidade era suficiente. Por isso, por experimentar o amor nestas proporções, muita gente acabou fazendo parte das nossas vidas. Amigos, parentes próximos e outros mais distantes. Como criatura privilegiada que era, todos os nossos pais e mães são, foi na frente abrir caminho para os que chegarem depois. Foi limpar a trilha que já anda cheia de ervas daninhas, mato crescendo, para mais uma vez, numa demostração de amor, receber os seus amores. São destas coisas que tenho saudades. Daquela quase pureza que passava nas suas conversas. As vezes chegava próximo de uma infantilidade sutíl, difícil de perceber. Apenas com a convivência este seu lado era revelado. Meu querido pai faz falta por tudo isso. Nos últimos anos, antes de decidir que ia embora, andava quieto, reclamão, e com o mínimo de paciência para tudo. Do alto dos seus 83 anos, teve este direito. Disso também sinto muita falta. Fique em paz, Duquesa!
Quem chega perto da Duca sente o campo de energia da bichinha (com todo o respeito). A mãe, que não conheci, deve ser a origem. Tive a felicidade – mesmo – de trabalhar com ela. Sua dor é minha dor. Duca é uma anja. Pro céu com a mamãe. Duca forévis.
Zé Beto… Estou com o corpo inteiro arrepiado e os olhos marejados. Suas palavras são viscerais e tocam a alma. Quem tem o dom da escrita, assim como vc e a própria Duca, merecem ser lembrados com tamanha entrega. Nossa Duca perdeu aquela que ela tanto amava e que recebia, incondicionalmente, o seu amor. Sinto mto por ela, pq não consigo sequer me ver nessa msm situação… Só que tem um detalhe importante: nossa Duca ganhou suas palavras, sua poesia!