6:57Saudade do Wanderley Dias

por Célio Heitor Guimarães

A legenda de uma foto publicada ontem no caderno Cotidiano da Folha de S. Paulo assustou o leitor: “A estudante de pedagogia Tereza Duarte dos Santos, 23, que teve o couro cabeludo arrancado pelo morto de um barco”. Pessoalmente, retornei por alguns segundos à minha infância, época em que, na falta de bandidos, tínhamos medo de alma do outro mundo e, não raras vezes, após uma traquinagem, éramos ameaçados pelos adultos com a ação de determinada pessoa falecida: “Cuidado que, à noite, ela vem puxar o seu pé (ou cabelo)!”

Teria, enfim, a antiga e terrível ameaça se tornado realidade? E com direito a notícia de jornal? Já me preparava para esclarecer o ocorrido no texto da matéria quando bateu-me uma luz: deve ter sido erro de revisão. Era. E a prova que até os jornalões de prestígio nacional continuam sujeitos a cochilos. Claro que o couro cabeludo da estudante fora arrancado pelo “motor” de um barco e não pelo pobre morto que nem existia.

Aí, lembrei-me, com saudade, do grande José Wanderley Dias, jornalista, advogado e professor universitário desta paróquia, que reunia com especial carinho manchetes e legendas  Equivocadas/engraçadas da imprensa. Ele teria ali na edição de terça-feira da Folha mais um espécime para sua preciosa coleção.

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3 ideias sobre “Saudade do Wanderley Dias

  1. Eduardo Araujo

    Grande Lembrança !

    Foi uma pessoa ímpar , tive o prazer de ser seu aluno na FAE .
    Até hoje, lembro de suas aulas, e suas tiradas com humor.
    Pessoas como ele fazem muita falta, não só na educação mas também como cidadão.

  2. S B

    O texto do Célio me fez viajar no tempo. Lembrei da minha adolescência, quando trabalhava na Rádio Colombo. Recebia os textos do José Wanderley Dias e os entregava ao Elon Garcia, encarregado de interpretá-los. Quando não era o Elon, a missão ficava com o Milton José, dono de uma voz bem característica dos radialistas da época.Lembro que meu sonho era ser um deles. JWD, Elon, ou Milton. Os textos vinham datilografados em folhas de um papel especial, era quase uma seda. Depois de lidos, precisava arquivar o texto. Quando me sobrava um tempinho, ia para o estúdio de gravaçãoe tentava imitar o Elon ou o Milton. Ô tempinho bom, viu! Ganahva quase nada. trabalhava quase de graç, mas era feliz.

  3. Ivan Schmidt

    A coluna assinada por JWD na Gazeta do Povo (o texto que era lido pelo Elon Garcia) tinha o interessantíssimo título “A vista do meu ponto”.

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