7:50Marcha de brigada ligeira

por Ivan Schmidt

A presidente Dilma Rousseff deixou claro aos demais ministros de seu governo e, convenhamos quão espinhosa é a tarefa de dirigir um grupo heterogêneo tanto na ideologia quanto na práxis política, sobretudo em se tratando de resultados pessoais, que a gerente administrativa da Esplanada dos Ministérios é a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

Em primeiro lugar deve-se dizer que a escolha da presidente está subordinada a uma questão meramente pragmática: a quem confiaria Dilma a coordenação da máquina senão a alguém de sua inteira confiança, como parece ser a senadora paranaense? A outra vertente desse comentário tem um pouco mais de vitríolo: Dilma escolheu Gleisi porque não encontrou no primeiro escalão, na bancada federal petista e, pior, tampouco no infinito arco partidário que integra a aliança governista, a personalidade apropriada para ocupar o lugar que foi seu na maior parte dos mandatos de Lula.

O primeiro a ser escolhido por Dilma para a chefia da Casa Civil, Antonio Palocci, uma indicação do ex-presidente, fez desabar sobre o governo uma crise que se arrastou muito mais do que o necessário, até que a chefe do governo disse (ou mandou dizer) ao ex-prefeito de Ribeirão Preto, que sua presença no governo era um peso insuportável. A nota curiosa é que a defenestração de Palocci acabou provocando uma espécie de efeito dominó, mesmo que não se possa estabelecer vínculo entre sua pessoa e os demais ministros demitidos. É possível que na colagem da colcha de retalhos que era e ainda é o ministério de Dilma, Palocci tenha sido apresentado à maioria só no momento em que foi tirada a foto oficial da rapaziada.

O fato a lamentar é que não se concedeu a Dilma a prerrogativa, como ocorreu no caso de Gleisi Hoffmann, de escolher ela mesma os ministros substitutos, tendo em vista que esses postos de primeiro escalão constituem uma espécie de loteamento dos partidos da aliança. Exemplo dessa prática que o PT tanto abominava nos governos anteriores, especialmente os de Fernando Henrique Cardoso, foi a recente tratativa da ministra Ideli Salvatti com os caciques do PR, objetivando trazer de volta ao úbere governista uma sigla dominada pelo baixo clero, mas que barganha com algumas dezenas de votos que, afinal, podem ser determinantes nas disputas congressuais.

Em alguns casos, o ministro demitido foi substituído por seu imediato na estrutura administrativa do setor, validando a sapiência matemática de Jeca Tatu, a meu juízo, o último grande herói brasileiro, que jamais perdeu alguma coisa mesmo ao trocar seis por meia dúzia.

Voltando a Gleisi, cuja ocupação mais importante havia sido uma diretoria de Itaipu Binacional (teve também passagens pelo governo de Mato Grosso do Sul e prefeitura de Londrina), até a eleição para o Senado em 2010, receber a missão de acompanhar passo a passo a execução do programa de governo (mesmo que poucos o conheçam), é algo relevante e desafiador.  A maioria dos projetos contemplados no PAC, aquele de quem Dilma foi proclamada mãe – que eram todos do governo passado – não chegou a sair do papel.

Um dos mais emblemáticos, a transposição das águas do Velho Chico, foi simplesmente abandonado pelas empreiteiras contratadas para a execução dos serviços de engenharia. Nenhuma gota da água do São Francisco chegou aonde deveria chegar conforme a promessa do governo federal. Mas a candidata de Lula foi agraciada com os votos dos habitantes do semi-árido nordestino, que ainda acreditam nos milagres de Antonio Conselheiro e do padre Cícero Romão Batista, o padroeiro do sertão.

Por onde a ministra-chefe da Casa Civil deve começar? Há quem diga que pela leitura matinal dos jornais e, ato contínuo, disparando telefonemas para os colegas da Esplanada, apresentados nas reportagens como tardios na tomada de medidas administrativas consentâneas com a marcha de brigada ligeira que a presidente gostaria de imprimir ao governo.

O problema é que com um time dessa qualidade nem Pep Guardiola (e vejam que o Barça também anda tropeçando), conseguiria botar ordem na casa.

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