19:16Olhos de vaca

… Seguimos para o Norte novamente. Estava mais escuro agora. A névoa do chão tornara-se mais pesada nos campos, e nos declives da estrada ela embotava os faróis. De vez em quando, um par de olhos nos queimava, vindos da escuridão à frente. Eu sabia que eram os olhos de uma vaca – uma pobre e velha vaca estimada estóica ruminando, parada na curva porque não havia lei que a impedisse – mas os olhos dela nos queimavam na escuridão, como se tivesse o crânio cheio de metal derretido incandescente parecendo sangue, e pudéssemos ver a parte interna do crânio naquele brilho quente sangrento, naquele momento em que víamos sua sombra bem antes que reconhecêssemos sua forma, e sabíamos que era ela e sabíamos que dentro daquela cabeça intricada e feia não havia nada além de um bocado de massa cinzenta friamente coagulada, na qual algo aconteceu enquanto passávamos. Éramos algo acontecendo lentamente dentro do cérebro frio da vaca. Era isto que a vaca diria se ela fosse uma Idealista inflexível como o pequeno Jack Burden.
de Robert Penn Warren no livro Todos os Homens do Rei

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.