16:29O refrigerante, esse perigo em borbulhas

por Ivan Lessa*

Eu gostaria de saber o que é que os pesquisadores australianos têm contra mim? Depois, eu vou chamá-los de antípodas e eles vão e se queixar.

Nessa semana que passou, me deram mais más notícias.

Deu nos jornais que pesquisadores (vem cá, essa gente está capacitada? Possuem algum background científico?) lá do outro lado do mundo andaram sondando gente com 16 anos ou mais no sul da Austrália, para saber se havia alguma relação entre refrigerantes e a asma, o enfisema, todos os problemas de falta de fôlego a ver com a famigerada COPD, ou seja, a obstrução crônica de desordens pulmonares.

O texto da nota não menciona, mas creio que os pesquisadores do norte do país estavam entretidos em outros esportes, todos a ver com marsupiais bipolares, enquanto que, os do centro buscavam um relacionamento entre jogar bola de gude e desvios sexuais menores.

Ei, pesquisadores australianos, deixem a mim e a outros apreciadores de coisas inócuas, como refrigerantes, em paz e vejam qual é o problema com vossa ilustre população chegada a umas e outras para valer, feito cerveja, consumida em grandes quantidades por maiores de idade com o fito de rir bem alto, falar palavrão e depois soltor o caroço e capotar no meio da rua. Limito-me a repetir o que, por consideração, chamo logo de lenda urbana.

Aos refrigerantes, que deles sou emérito conhecedor. E ainda à asma, enfisema e obstruções pulmonares, das quais sou, se não conhecedor, recente (tem uns 10 anos) sofredor.

Coloquemos os pontos nos “is”. Em primeiro lugar, o Guaraná. Seguramente, e quem vos afirma sabe do que fala e do quanto toma e tomou, o melhor refrigerante do mundo. Em segundo lugar, o Sumol (principalmente o de ananás) português e, em terceiro, o Orangina francês.

Uns bastam cheirar e sentir o buquê do vinho para apreciar e dar nota e procedência. Eu faço o mesmo com refrigerante. Gasoso, claro. Mas sorvo tudo em seguida.

Degustar é isso. Os mais vendidos do mundo, as duas Colas norte-americanas, são puro blefe e arma do capitalismo em sua marcha para a conquista do planeta em que vivemos, tossindo, com ou sem ar.

Quando eu saía pelo mundo afora nunca fui do time que conhece um “certo restaurantesinho”, coisa e tal. Minha primeira providência, ao deixar o hotel duas estrelas, sempre foi a de entrar no primeiro boteco e dar uma varejada para valer nas bebidas doces gasosas.

No Brasil, bebi Grapette e repeti, como aconselhado pelo seu slogan. Fui de Crush, de Laranjada Califórnia (esse ninguém lembra) e de Guará (melhor refrescante não há, dizia seu jingle; mentira havia, sim).

Houve um tempo em que oscilei entre os guaranás. Um mês era Brahma, outro Cayrú e marcas que eu mesmo já me esqueci do nome. Fiquei com o Antarctica que aí está até hoje ganhando medalhas de ouro mundo afora. Até em Portugal, terra do grande Sumol (há o sabor laranja também), o guaraná da Antarctica vende mais que a Coca-Cola. E durma com essa, “seu” Obama.

Encerro com os pesquisadores que examinaram 16.907 pessoas com 16 ou mais anos de idade no sul do país an-tí-po-da entre os anos 2008-2010. Descobriram, dizem lá eles, que 1 em 10 bebia pelo menos meio litro de refrigerante todo dia. Ora, ora! Essa eu tirava de letra e talvez ainda tire.

Chegaram à conclusão de que 13.3% do total estudado tinha asma e 15.6% sofria dificuldades respiratórias. Acrescentaram, no fim, assim como quem não quer nada, que fumar tinha possivelmente (possivelmente!) algo a ver com a coisa.

Tolice após tolice. Bebi esses mares de refrigerantes a vida toda e nenhum me fez sequer tossir. Meu COPD devo-o, e não precisa me pesquisarem, aos 3 maços de cigarro que fumei diariamente durante quase meio-século.

Sugiro aos ilustres senhores uma boa revisão na metodologia utilizada para chegar aos resultados encontrados. Acendam um cigarrinho, peçam umas birinaites e vejam bem se o caminho seguido foi o mais científico. E, perguntem-se, se tiverem peito, terá valido a pena?

*Colunista da BBC Brasil

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2 ideias sobre “O refrigerante, esse perigo em borbulhas

  1. Parreiras Rodrigues

    Bebo guaraná, antártica, quando não acho suco natural, ou melhor, água de coco. Coca não. Nunca vi pé de coca.

  2. Frik

    É, e SE o not´rio “Londrino Adotivo” conhecesse um pouquinho mais do Brasil …

    Wimi : Aquela da garrafinha marrom, que tinha que ser agitada antes de usar – para misturar o depósito no fundo (de suco de laranja, espero…)

    Mate-Couro : Os luminosos de neon chamavam logo a atenção dos forasteiros em BH – O que é isso? Tem gosto do que este tal de Mate-Couro – se for prá beber !?

    “Tem gosto de Mate, e … de Couro, uai…”

    (Devia ser como tomá chimarrão em cuia de corcova de zebu…)

    Mais … não é que o troço matava mesmo a sede ….

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