7:46Em nome da governabilidade

por Célio Heitor Guimarães

O esquema foi definido, de forma clara e objetiva, pelo jornalista Paulo Celso Pereira, de Veja: “um enredo nefasto para o contribuinte brasileiro, no qual imperam o fisiologismo, o loteamento de cargos e a instalação de máquinas partidárias de corrupção em setores da administração pública”. Assim é no
Brasil 2012.

No tempo do governo dos generais, havia corrupção, por certo. Velada, enrustida, sem o conhecimento da opinião pública, já que a imprensa era proibida de investigar e divulgar. Os homens da farda não precisavam de tais esquemas para se manter no poder. Julgavam-se perpétuos e intangíveis. Então, preferiam abarrotar as estatais com militares da reserva e proteger o Brasil e os brasileiros dos perigos da liberdade e da democracia.

Com o advento da redemocratização, como registra Paulo Celso Pereira – isto é, desde os trágicos anos Sarney (com pequeno interregno durante o período Itamar, um brasileiro ainda à espera de justiça) – o plano “toma lá, dá cá” foi formatado e consolidado, envolvendo tucanos e petistas, até atingir o seu
ápice por ocasião do “mensalão”. O companheiro José Dirceu, na Casa Civil do palácio presidencial, quase conseguiu institucionalizá-lo. Acabou sendo (oficialmente) defenestrado, mas a prática manteve-se às ocultas e aí está até hoje, aperfeiçoada, em nome da “governabilidade”. Uma justificativa tácita tão
indecente quanto canalha.

Trocando em miúdos: na falta de maioria no Congresso, o partido do governo precisa fazer alianças com partidos menores – em regra, insignificantes politicamente, mas que, sendo de aluguel, ganham significativa importância. E aí o governo acaba loteado. Os aliados querem lugares no poder. No
primeiro, segundo, terceiro, quarto ou décimo sexto escalão – pouco importa. O importante é acomodar o(s) seu(s) representante(s) lá dentro. O(s) afiliado(s), por sua vez, faz(em) a sua parte. Quer dizer: dirige(m), entre outras manobras de igual calibre, licitações para fornecedores/executores de obras e serviços amigos e, em troca, recebe(m) “doações” eleitorais, que devem ser encaminhadas ao seu partido. Devem, mas às vezes isso não acontece. Há os indisciplinados e desobedientes.

Foi o que aconteceu com o economista Luiz Felipe Denucci. Ele acaba de perder a presidência da Casa da Moeda por pressão do seu próprio partido. Não estaria atendendo as “demandas” do PTB, de Roberto Jefferson, aquele mensaleiro que, num ímpeto inusitado de compostura, derrubou Zé Dirceu. Luiz Felipe preferiu atender às suas próprias demandas e às de sua família, formando um modesto pecúlio de 25 milhões de dólares no exterior.

Já o ministro Negromonte, das Cidades, parece ter sido um soldado disciplinado do PP. Caiu não apenas porque a companheira Dilma (e o Brasil) o achava um incompetente de carteirinha, mas porque se descuidou e também passou a ser alvo de inúmeras denúncias de má conduta. Foi substituído por
outro prócer pepista, partido ao qual cabe o feudo das Cidades – um ministério com orçamento de 22 bilhões de reais neste ano –, que já assumiu cercado de várias suspeitas.

E aí vamos nós, cercados pela corrupção e governados por malfeitores, para não dizer bandidos, sem que ninguém tome uma providência. E a situação não é muito diferente nos Estados e municípios, sejam eles conduzidos por petistas, peessedebistas, peemedebistas, pedetistas, peessebistas, pepessistas, petebistas, pepistas ou istas que forem.

A “presidenta” Dilma jurou cumprir a Constituição e prometeu mandar os patifes para a cadeia. No máximo, tem-nos mandado para casa, com todas as regalias e nenhuma punição, quando a imprensa – essa desagradável arma da democracia nacional – denuncia os chamados “desmandos” e a coisa se torna
incontornável. Tudo em nome da “governabilidade”.

O que preocupa os brasileiros – àqueles que realmente querem bem o Brasil – é aonde irá parar essa governabilidade.

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