6:29O ornitorrinco e a mecânica celeste

 por Ivan Schmidt

Começou pra valer, meses antes da liberação oficial das campanhas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) – ninguém está aí para a legislação – a batalha da sucessão municipal em Curitiba, com a declaração de apoio do governador Beto Richa ao prefeito Luciano Ducci, que, óbvio, concorrerá à reeleição em outubro.

Isso demonstra a solidez da aliança PSDB-PSB, pelo menos na capital paranaense, tendo em vista o tradicional apego do socialismo que vicejou nas pradarias de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, pelas coligações que rendam bons dividendos em cargos de primeiro escalão. Se não estou equivocado, a prática vem desde a última gestão de Jaime Lerner na prefeitura, muito embora tenha sido somente com a ascensão de Luciano à candidatura de vice-prefeito na chapa liderada pelo próprio Beto, que o partido passou de figurante a ator com alguma projeção no cenário.

Hoje, não se pode escamotear o fato, o PSB nada de braçada em Curitiba, mesmo que a maioria dos eleitores do município sinta tremores ao ouvir falar de quaisquer dos tipos de socialismo em oferta no País (que coexistem, inclusive, no PSB mesmo). Aliás, está aí uma boa sugestão para nosso alcaide: que discorra publicamente sobre qual é o modelo de socialismo que escolheu como norte de sua carreira política, se é defensor dos ideais de Miguel Arraes, ou de seu neto, o governador pernambucano Eduardo Campos, de quem dia desses Ricardo Noblat relembrou o apelido, Dudu Beleza.    

Sugerir, mesmo para dar um pouco mais de pilha ao argumento, que o modelo de socialismo praticado pelo prefeito curitibano busca inspiração na trajetória de Ciro Gomes, luminar socialista que começou sua história na antiga Arena, reconheço, seria forçar a barra.

Bom moço, companheiro leal e caprichoso cumpridor de tarefas, Luciano Ducci soube esperar a hora e agarrar a oportunidade, encarregando-se de concluir o atual mandato iniciado por Beto Richa e credenciando-se a disputar a reeleição. Caso isso venha a ocorrer, a capital dos paranaenses vai permanecer por longos doze anos sob o comando do novo enxerto político que brotou vigoroso da frondosa árvore plantada por Jaime Lerner, que além de prefeito por três vezes, contribuiu em muito para as eleições de Rafael Greca, Cássio Taniguchi e Beto Richa.

Com exceção do breve período em que o PMDB exerceu o governo municipal por meio da indicação de Maurício Fruet e a posterior eleição de Roberto Requião, desde os anos 60, os curitibanos foram governados por infinda procissão de figuras do mesmo espectro político, de tal forma complacente, que ao chegar ao início da segunda década do século resolve escancarar as portas ao socialismo. É a autêntica reedição do samba do crioulo doido, do imortal Stanislaw Ponte Preta, porquanto ao longo desses 50 anos a falange ocupante do Palácio 29 de Março deambulou com pompa e circunstância pelos desvãos abertos a picareta pela Arena e seus sucedâneos e, pasmem, pelo brizolismo!

Ao que se percebe, trata-se de um desprezo olímpico ao que se deveria tratar como consciência política da sociedade, cuja medida atual pode bem ser comparada ao que sabe o ornitorrinco sobre a mecânica celeste.

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4 ideias sobre “O ornitorrinco e a mecânica celeste

  1. Observador

    E o requianismo, sr. Schmidt, o que nos deixou o requianismo, além de atraso, grosserias e bobagens que ocuparam nossos ouvidos? Por acaso Curitiba estaria melhor se o requianismo estivesse no comando da cidade nos últimos 12 anos? Duvido muito, muitíssimo!!!

  2. Observador

    Mais uma coisa: chega de perder tempo com esses requianistas! Os que ainda vagam por aí, esqueceram de deitar…

  3. Ivan Schmidt

    Caro observador: em nenhum momento fiz alusão ao fato de que com o requianismo Curitiba seria uma cidade melhor. Ao contrário.

  4. jeremias

    Curitiba agoniza.

    Nenhum candidato tem propostas para a cidade, nenhum partido tem projetos. Nada.

    Todos (direita e esquerda) querem ganhar as eleições. Mas ganhar por ganhar. Para desfrutar de mordomias e criar uma máquina capaz de garantir outras vitórias eleitorais em outras campanhas que virão.

    E o povo assiste a tudo isso, bestializado.

    Como os ratinhos do desenho animado, que ora votam nos gatos pretos e ora votam nos gatos brancos. Mas sempre votam nos gatos.

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