18:02Virgínia Leite, adeus

 

A professora Virgínia Leite, tenente do Exército, era a última enfermeira viva entre as 73 que foram para para Segunda Guerra Mundial – Foto do arquivo da 5ª Região Militar

Virgínia durante uma homenagem – Foto Gazeta do Povo

Da Gazeta do Povo, em reportagem de Vitor Geron e Pollianna Milan:

Enfermeira que esteve na Segunda Guerra morre aos 95 anos em Curitiba
Nascida em Irati, a professora Virgínia Leite era a única enfermeira ainda viva entre as 73 que foram para a Itália cuidar dos soldados feridos em batalhas 
 

Morreu na manhã desta quinta-feira (5), em Curitiba, a última das 73 enfermeiras que se alistaram na Força Expedicionária Brasileira (FEB) e foram para a Segunda Guerra Mundial. Aos 95 anos, a professora paranaense Virgínia Leite estava internada no Hospital Militar desde o dia 26 de dezembro.  

Nascida em Irati, no Centro-Sul do Paraná, no ano de 1915, a professora passou oito meses na Itália, entre 1944 e 1945, para ajudar a cuidar dos brasileiros feridos em combate. A decisão de ir para a Guerra foi tomada aos 29 anos, quando Virgínia se comoveu com a ida dos militares brasileiros para a frente de batalha. Após realizar um curso de enfermagem na Cruz Vermelha, ela embarcou rumo a Nápoles com outras sete paranaenses (Maria Suarez, Acácia Cruz, Wanda Majewski, Edith Fanha, Jaci Cheves, Hilda Ribeiro e Guilhermina Gomes), todas de Curitiba, e mais 65 brasileiras de outros estados.  

Em entrevista à Gazeta do Povo em 2008, a professora se emocionou ao lembrar o período em que passou na Itália. Apesar de nunca estar nas frentes de combate, Virgínia contou que o medo era constante. “Não via, mas escutava os aviões alemães passando por cima do hospital. Dava dor no estômago”, afirmou na entrevista.  

Ela também destacou que cuidou de soldados de diversas nacionalidades durante a guerra. “Quem chegava ferido era tratado do mesmo jeito. No hospital, não há inimigo. Cuidamos de muitos alemães”.

A volta ao Brasil só ocorreu com o fim da guerra. No retorno, Virgínia sofreu com uma inevitável depressão e veio para Curitiba buscar tratamento. A situação piorou depois que a professora sofreu um acidente no qual caiu no fosso de um elevador. Com três vértebras quebradas e após nove meses de internação, a enfermeira se aposentou aos 30 anos.  

A professora ainda foi reformada pelo Exército e ganhou o cargo de 1ª tenente, além de diversas medalhas. Entre elas a com o símbolo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) – entregue a todos que estiveram em batalha – e a de Ana Néri, a primeira enfermeira brasileira, que esteve na Guerra do Paraguai.  

Em nota de falecimento, a FEB ressalta que Virgínia foi uma das fundadoras da Legião Paranaense do Expedicionário e depois do próprio Museu, em Curitiba, no ano de 1982. Ela também foi Diretora Social da Casa do Expedicionário por mais de 50 anos.  

Virgínia não casou ou teve filhos. 

Velório e enterro  

O velório da professora e enfermeira está sendo realizado na Casa do Expedicionário desde as 15h desta quinta-feira. O enterro será no Cemitério Água Verde, nesta sexta-feira (6), às 10h. 
 

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Homenagem

Um dia como voluntária da Cruz Vermelha Brasileira saiu do Brasil, a enfermeira de Irati (PR), rumo à Itália, juntamente com um grupamento de 68 enfermeiras. Não batalhou nas linhas avançadas, mas no cumprimento do dever ajudou a suavizar os temores dos combatentes. Prestou serviços no 7° Station Hospital em Livorno porto de mar, e no 16º Evacacion de Pistóia, lá atendeu centenas de feridos brasileiros e americanos, bem como a população local. Fez da sua profissão um ato de fé e humanismo, ajudou a aliviar a dor dos homens feridos e a acalentar os seus sofrimentos.  

Do retorno à pátria, buscou superar a si mesma, uma página virada na vida. Com o seu testemunho perante a geração atual, procurou mostrar com dignidade o papel do soldado, uma homenagem sua pessoal aos mortos que tombaram nos campos de batalha. No Paraná, foi uma das fundadoras da Legião Paranaense do Expedicionário e depois do próprio Museu em 1982. Viajou o Brasil todo recolhendo peças e equipamentos que pertenceram à FEB. Foi Diretora Social da Casa do Expedicionário por mais de 50 anos. Na carreira militar atingiu o posto de 2º tenente. 

Nesta homenagem, que prestamos a Virginia Leite também uma reverência às paranaenses enfermeiras já falecidas, como Maria Suarez, Acácia Cruz, Wanda Majewski Edith Fanha, Jaci Cheves, Hilda Ribeiro e Guilhermina Gomes.  

Fica aqui registrado, o grande mérito desta enfermeira incansável, que manteve até o último momento a chama viva da vida e fazer voltar à pátria aqueles valorosos rapazes.  

Fazemos do verso abaixo o nosso pensamento:  

Heroína palavra singela
Para contar vossa infinita glória
Não há expressão, por mais grandiosa e bela
Que possa vos fixar na História.

Carmen Lúcia Rigoni, historiadora e amiga.

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5 ideias sobre “Virgínia Leite, adeus

  1. shirley borges

    Lamento esta perda e lamento que o Governo do Estado do Paraná não tenha prestado as devidas homenagens que esta guerreira deveria ter recebido em vida juntamente com outros ex-combatentes da 2a. Guerra Mundial. Hoje em dia são poucos os heróis que em vida podem testemunhar o que foi a 2a. Guerra Mundial e a participação dos paranaenses e nossas autoridades políticas homenageiam com a Ordem do Pinheiro políticos de outros estados que nada fizeram de importante pelo Paraná (Aécio Neves e outros).

  2. CHC

    Que seja muito bem recebida no Céu, pela bondade e despreendimento que sua vida significou!

  3. zeliasell

    É realmente uma grande perda!
    Tive oporunidade de entrevistá-la diversas vezes,no programa “Nossa História”, e ela era uma das “memórioas vivas” da II Grande Guerra, assim como outros que já se foram (João Dedeus Freitas Neto, Flavio Ribeiro dos Santos,Coronel Persio …)
    Quem preparou as enfermeiras para a guerra foi a médica Nanna de Carvalho Sondahl (ainda firme e forte).
    Cabe lembrar ainda que a enfermeira Virginia Leite foi também uma das mentoras e realizadoras do nosso Museu do Expedicionário.

  4. rosa bernardino

    O programa “Nossa História” de Zélia Sell entrevistou-a diversas vezes,e realmente ela chorava muito ao relembrar episódios como de um soldado mutilado que lhe pediu para morrer.
    Com suas palavras, Virginia fazia-nos ver toda a insanidade das guerras…

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